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Fotos: Divulgação/Netflix
Anya Taylor-Joy em O Gambito da Rainha e Regé-Jean Page em Bridgerton: novos hábitos
A chegada da Netflix no mercado de streaming mudou para sempre a maneira como o público consome filmes e séries --a ponto de o termo "binge-watch", o popular "maratonar", ter sido eleito a palavra do ano de 2015 pelo dicionário Collins. Mas a influência da plataforma vai muito além dos hábitos televisivos; o streaming também tem alterado comportamentos e aspectos culturais.
Lançada no Natal do ano passado, a série Bridgerton teve tanta repercussão com os assinantes da Netflix que rendeu um fenômeno curioso. Nesta semana, a relação dos livros mais vendidos do jornal New York Times (a mais conceituada do planeta) listou, pela primeira vez, as obras da autora Julia Quinn que inspiraram a série.
De uma vez só, três livros de Bridgerton entraram no top 15 de ficção: o primeiro volume, O Duque e Eu, lidera a lista. O Visconde que me Amava, a continuação, ocupa o sétimo lugar; e Os Segredos de Colin Bridgerton, quarta obra da franquia, está em 13º no New York Times. Nenhum capítulo da saga havia entrado na relação do jornal, nem mesmo na época de sua publicação original, há mais de 20 anos.
A façanha foi tamanha que a própria Netflix fez questão de se vangloriar em seu perfil oficial no Twitter. "Parece que os fãs de Bridgerton não conseguem se saciar desse mundo incrível", compartilhou a conta norte-americana da empresa, listando os números na sequência:
Turns out, Bridgerton fans can't get enough of this incredible world...
— Netflix (@netflix) January 11, 2021
The Duke and I has reached #1 on the New York Times bestseller list while The Viscount Who Loved Me and Romancing Mr. Bridgerton are also in the Top 10 — the first time any of the books have made the list! pic.twitter.com/nf9CeOusgK
É evidente que o lançamento de um produto televisivo inspirado em uma obra anterior costuma fazer com que os telespectadores corram para as livrarias em busca do material original. Isso não é exclusividade da Netflix. O sucesso de The Boys, série da rival Prime Video, também fez crescer as buscas pelas violentas HQs de Garth Ennis.
E a própria Globo já havia promovido feito similar quando exibiu a minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003), que fez o livro de Letícia Wierzchowski vender em três semanas quase o triplo de exemplares do que havia despachado no ano anterior --e ainda aumentou o interesse pelo turismo no Rio Grande do Sul, Estado em que a trama histórica se passava.
Os números de Bridgerton, porém, estão muito acima do comum. O site da Barnes and Noble, uma das mais tradicionais livrarias dos Estados Unidos, vendeu todo o seu estoque --na página da empresa, os livros só voltarão a ser comercializados no final do mês.
Mais do que aumentar as vendas de uma obra ou franquia, a Netflix também conseguiu o poder de se inserir na cultura pop e modificá-la de acordo com o lançamento da vez. A minissérie O Gambito da Rainha, lançada em outubro e que se tornou a mais vista da história da plataforma, fez aumentar o interesse do público por um esporte aparentemente pouco empolgante, o xadrez.
O site Chess.com, um misto de rede social com jogos de xadrez online, ganhou quase 3 milhões de inscritos apenas em novembro do ano passado. Antes da estreia da minissérie, cerca de 25 mil pessoas criavam contas na página de internet a cada dia. Após O Gambito da Rainha, esse índice saltou para 125 mil. E a empresa de jogos de tabuleiro Goliath afirmou à Bloomberg que a venda de kits de xadrez nos últimos dois meses de 2020 aumentou 1.100% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Até mesmo o Twitch, plataforma que gamers usam para transmissões de jogos como League of Legends e Fortnite, se rendeu a partidas de xadrez virtual --o pentacampeão norte-americano Hikaru Nakamura é um dos usuários que exibe seus movimentos matadores por lá.
Os próximos grandes lançamentos da Netflix incluem o drama adolescente Fate - The Winx Saga, inspirado no desenho italiano O Clube das Winx (2004-2019), e a série de fantasia Shadow and Bone, baseada na obra homônima de Leigh Bardugo. Portanto, não será surpresa para ninguém se as fadinhas animadas ou os livros sobre criaturas que comem carne humana dominarem os comércios em um futuro bem próximo... É o efeito Netflix, afinal.
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