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CRÍTICA

De masturbação a suruba: Olhar Indiscreto abusa do sexo em história de suspense

DIVULGAÇÃO/NETFLIX

Emanuelle Araujo em cena da série Olhar Indiscreto, da Netflix; ela está no elenco da produção

Emanuelle Araujo é um dos destaques do elenco de Olhar Indiscreto, série brasileira da Netflix

RAPHAEL SCIRE

raphascire@gmail.com

Publicado em 4/1/2023 - 6h25

Picante e sensual, Olhar Indiscreto, nova série da Netflix, não economiza na sacanagem: sadomasoquismo, masturbação, suruba, nudez e por aí vai. A produção nacional tem de tudo um pouco quando o assunto é sexo. Mas será que vale mesmo a pena acompanhar a história de Miranda (Débora Nascimento), uma hacker voyeurista que vê a vida passar pela janela e se envolve numa trama repleta de mortes e mistérios?

Se o interesse for apenas curtir um soft porn, a resposta é sim. As cenas com teor sexual são inúmeras e impressionantes. Como brinde, a série tem um olhar feminino para o sexo, coisa bem rara nas produções brasileiras.

É o prazer da mulher que está em primeiro plano, seja a de quem observa, seja a de quem faz, e isso conta muito a favor de Olhar Indiscreto. Mas como narrativa, a produção deixa a desejar, com um ritmo truncado e pouco eletrizante para um thriller psicológico que se propõe ser. Não impressiona, tampouco tira o fôlego.

Com um forte ranço da telenovela, Olhar Indiscreto peca logo na largada, com a protagonista falando sozinha (ok, gravando uma mensagem de voz no seu celular), explicando tintim por tintim o que o público pode ver e deduzir por si só. A narração via mensagem de voz é um recurso utilizado ao longo dos episódios, deixando pouco espaço para a surpresa de quem assiste.

Já os inúmeros recursos gráficos soam abusivos --dá para entender logo de cara que Miranda é uma expert em computadores e não precisaria repetir a todo instante a habilidade da moça em decodificar qualquer sistema. As intervenções quebram o ritmo da narrativa e atrapalham o avançar da história.

Outro problema técnico latente de Olhar Indiscreto é a mixagem de som, que beira o amadorismo. Algumas cenas contam com diálogos que foram dublados e há passagens em que não há sincronia entre os lábios dos atores e o que está sendo dito, embora a montagem tente disfarçar. Para o padrão internacional da Netflix, é uma escorregada e tanto.

Mais problemático ainda é que, apesar de ser uma produção nacional, falta à série uma identidade brasileira. A impressão que fica é a de que a história poderia se passar em qualquer lugar do mundo, um enlatado que pode ser replicado em várias línguas. Há ali um distanciamento dos problemas nacionais que poderiam ser explorados, como o feminicídio, um tema que fica apenas na superficialidade.

Os diálogos também não ajudam em nada, são bastante burocráticos, o que deixa os intérpretes completamente mecânicos. Débora Nascimento ainda não entrega como protagonista e, apesar do esforço, não consegue vender o sofrimento que a personagem pede, transparecendo apenas uma sensação de apatia em quem acompanha seus passos. Angelo Rodrigues (Heitor) é extremamente robótico e sem um pingo de expressividade, comprometendo a principal característica de seu personagem, a dubiedade.

Mas há destaques a serem observados, como Gabriela Moreyra (Diana), a melhor atriz em cena, ótima em um registro pouco usual de sua carreira, e Ingrid Klug (Rita), que insere uma pitada de humor à série. Emanuelle Araujo (Cléo) não faz feio, mas só ganha destaque, de fato, na reta final.

É de se considerar o investimento da Netflix em produções nacionais, mas a qualidade do catálogo anda deixando a desejar. Olhar Indiscreto é mais uma série sem grandes predicados, ao contrário do que foi Bom Dia, Verônica, por exemplo. Para camuflar a história fraca, a produção se escora na muleta do sexo. E só.


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