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OLHAR INDISCRETO

Coordenadora de intimidade ensina atores a fazer cena de sexo sem assédio

FOTOS: DIVULGAÇÃO/NETFLIX

Em cena de Olhar Indiscreto, Débora Nascimento está com uma câmera fotográfica olhando por uma janela

Débora Nascimento é protagonista de Olhar Indiscreto, minissérie que será lançada pela Netflix

CARLA BITTENCOURT, colunista

carla@noticiasdatv.com

Publicado em 20/12/2022 - 6h20

Depois de diversas denúncias de assédio dentro de sets de gravação, a Netflix resolveu contratar uma profissional para proteger o elenco. A chamada coordenadora de intimidade auxilia nas cenas que tenham conteúdo íntimo ou nudez. Olhar Indiscreto, thriller psicológico que a plataforma lança em 1º de janeiro, foi a primeira produção brasileira a contar com a ajuda da consultora.

A atriz Barbara Harrington tem mestrado em estudos de performance e foi contratada para a função inédita no Brasil. Sua tese de mestrado foi sobre o som do orgasmo feminino no cinema: "Trabalho há quase 30 anos aqui no Brasil como coach de dialeto, preparadora de elenco, roteirista e script doctor, que é aquele roteirista contratado para identificar possíveis sensibilidades ou problemas no roteiro", conta ela em entrevista ao Notícias da TV.

A minissérie em questão é protagonizada por Débora Nascimento e Emanuelle Araújo, e as duas fazem diversas cenas de sexo com atores diferentes. Barbara atuou com eles desde o início da produção. Ela não era chamada para entrar no set apenas quando havia uma cena íntima.

O trabalho da coordenadora de intimidade é muito maior: a profissional se reúne com a equipe de produção e os chefes de departamento, que dão a descrição do trabalho e apresentam as diretrizes da obra. Ela também pode realizar um workshop com atores e diretores, s ser convidada para o set ou ensaios de cenas mais delicadas que podem estar causando preocupação.

"Essa coordenação é uma parte importante de Olhar Indiscreto, e de qualquer outro projeto que apresente cenas íntimas, pois facilita as conversas difíceis entre diretores, atores, figurinos e produção", explica Barbara.

"Podem também atuar como porta-vozes para atores ou outros membros da equipe, dando voz às preocupações deles e ajudando a encontrar soluções para problemas quando eles ocorrem. Coordenadores podem auxiliar o diretor com a coreografia, trabalhar com o consentimento físico dos atores e ajudar na marcação de uma cena", completa ela, que trabalhou em conjunto com a diretora Luciana de Oliveira.

Especialização

Barbara é atriz e fez um curso profissionalizante de um ano para exercer a atividade. Há coordenadores de cenas íntimas que também são preparadores de elenco, coreógrafos de luta ou cenas de ação, terapeutas de sexo e atores. Alguns países determinam uma idade mínima e/ou requer alguma experiência prévia num set de filmagem para poder fazer um curso profissionalizante.

"Aprendemos como decupar roteiros para detalhar o conteúdo íntimo, avaliar riscos e criar um plano para o conteúdo íntimo do projeto. Estudamos como preparar  atores para cenas íntimas, coreografar cenas de sexo e usar as roupas especiais ou barreiras de proteção", enumera a especialista em cenas íntimas.

"Além disso, tivemos que completar um curso intensivo de pronto socorro de saúde mental e várias oficinas que abordaram questões de gênero, trabalho com menores, problemas específicos relacionados a filmes ou séries de época ou com cenas envolvendo BDSM [Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo."  

Barbara explica que precisa estar atenta a tudo que acontece no set antes, durante e depois as cenas:

Presto muita atenção no bem-estar do ator, na verossimilhança dos movimentos, da respiração, da história que essa cena íntima está contando. Quero ter certeza de que estamos realizando a cena que a diretora quer, que os atores querem, mas que ninguém está sendo explorado emocionalmente, psicologicamente ou fisicamente. Atores estão treinados a nunca dizer não, mas é fundamental para o nosso trabalho que o ator aprenda a estabelecer limites.

NETFLIX/DIVULGAÇÃO

Débora em cena de sexo com Nikolas Antunes

O trabalho de Barbara, aliás, começa muito antes do "gravando": "Nunca cortei uma cena, não tenho esse poder, nem quero ter. Mas, se achar que a cena está se estendendo muito e o ator não está confortável, falo para a diretora que estou preocupada com o ator", alerta.

"Mas faço uma avaliação de risco o quanto antes para identificar essas cenas, para que a gente faça essas cenas o mais cedo possível, evitando correr nos últimos cinco minutos do dia quando a gente não vai poder controlar nada. Trabalho muito com o departamento de figurino para fiscalizar as roupas ou barreiras físicas que estão protegendo os atores. A gente não quer que apareçam em cena, e também que não saiam do lugar".

No caso da Olhar Indiscreto, há uma quantidade grande de cenas íntimas que duram muito tempo. Então, às vezes, Barbara falava para as diretoras que o ator só podia fazer a cena mais uma vez para poupá-los. Já no caso das passagens em que as atrizes estavam amarradas (técnica shibari), a profissional teve que ficar ainda mais atenta, já que as artistas levavam até dez minutos para serem desamarradas após o fim da gravação.

"A coordenadora de cenas íntimas está disponível para todos, não apenas para as atrizes. As pessoas pensam que os atores não têm problemas em fazer uma cena de sexo e isso não é verdade.  Acho que tanto os homens quanto as mulheres precisam aprender a respeitar seus próprios limites em cena", ensina.


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