José Junior
Divulgação/Globoplay
José Junior, criador e produtor da série A Divisão, do Globoplay, e fundador da ONG AfroReggae
FERNANDA LOPES
Publicado em 20/7/2019 - 5h10
A série A Divisão só se viabilizou da forma que o telespectador do Globoplay pode observar, com cenas impactantes e realistas de tiroteio, morte e conflitos, por insistência de um nome: José Junior. Criador e produtor da série, ele também é fundador da ONG AfroReggae e está acostumado a lidar com policiais e criminosos no Rio de Janeiro. Junior até mediou um conflito numa comunidade para conseguir ensaiar uma cena.
Isso aconteceu no Morro de São Carlos, localizado no centro do Rio. "Na madrugada, horas antes do ensaio, começou um ataque na Rocinha. O ensaio era às 7h. Quando eu cheguei no São Carlos, estava tendo operação polical, uma confusão. Aí eu subi, perguntei quem [dos policiais] estava fazendo a operação. Fui na boca de fumo e perguntei quem estava comandando lá. Sentei com os dois e falei: 'Olha só, preciso fazer um ensaio. Tem como segurar o tiroteio? Beleza, fechado'", conta ele.
"Isso é uma coisa que eu faço há muitos anos no AfroReggae. Qualquer [outra] produção iria suspender [o ensaio], pra gente isso é mais normal. A gente se recusa a gravar fora de área de conflito. Eu gosto de parar o conflito pra poder rodar", afirma. A Divisão é baseada em histórias reais e retrata bastidores de casos de sequestro ocorridos no Rio, nos anos 1990.
Junior está no AfroReggae há 26 anos e começou organizando festas de funk e reggae. Hoje, o trabalho da ONG se divide em várias frentes de desenvolvimento social para moradores de comunidades, como aulas, oficinas, eventos, formação de grupos artísticos, publicações e uma divisão audiovisual.
É dessa área que surgiu a parceria do AfroReggae com o Multishow, onde foram exibidos programas como Conexões Urbanas (2008), Papo de Polícia (2011) e Paixão Bandida (2014).
A Divisão também irá ao ar no Multishow, ainda sem data definida. Para Junior, gravar essa série foi um desafio que lhe apresentou diversas informações sobre cinema que ele desconhecia. Mas, com toda a estrutura do grupo Globo e a grandiosidade da produção, ele afirma que gravar A Divisão foi mais fácil do que os outros "serviços" que ele já fez pelo AfroReggae.
"Pra mim foi um grande desafio mostrar essa violência, esse modus operandi que se vive diariamente, da forma que é. Causar incômodo. Tive dificuldades pra desenvolver o produto, foi uma ousadia muto grande", explica.
"Mas, se comparado às coisas que eu faço há 26 anos, tipo mediar guerra em favela, entrar em presídio em rebelião... Já salvei pessoas da morte inúmeras vezes. Ainda salvo. A parceria [com o Multishow e com o diretor Vicente Amorim] facilitou muito a minha vida", conclui Junior.
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