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CRÍTICA

Cowboy Bebop: Vale a pena assistir ao live-action da Netflix baseado no anime?

Divulgação/Netflix

John Cho, Mustafa Shakir e Daniella Pineda em foto para a divulgação da série Cowboy Bebop

John Cho (à esq), Mustafa Shakir e Daniella Pineda são os protagonistas da adaptação de Cowboy Bebop

ANDRÉ ZULIANI

andre@noticiasdatv.com

Publicado em 19/11/2021 - 6h25

Adaptar uma obra para outras mídias, seja na TV ou no cinema, nunca é fácil. Pior ainda se o título em questão for um clássico atemporal em sua "área" original. É o caso de Cowboy Bebop, nova série da Netflix baseada no anime homônimo de 1998 e que se tornou um dos mais aclamados da história.

A missão de levar a trama de Cowboy Bebop para uma série live-action não seria fácil. Ciente disso, a gigante do streaming convocou Shinichiro Watanabe, diretor do anime original, para ser consultor criativo no desenvolvimento da nova atração.

Para não repetir erros cometidos por outros estúdios no passado, e não ser acusada de whitewashing --termo usado para definir o "braqueamento" de um personagem que no material original pertence a outra etnia--, a Netflix escalou o ator sul-coreano John Cho para interpretar o protagonista Spike Spiegel. Mustafa Shakir foi o encarregado de viver Jet Black, enquanto Daniella Pineda ficou com a responsabilidade de interpretar a bela golpista Faye Valentine.

A presença de Watanabe como consultor criativo permitiu à Netflix fazer uma adaptação muito fiel ao material original. O live-action de Cowboy Bebop traz os mesmos personagens, visual e (muitos) momentos marcantes do anime que marcou época nos anos 1990.

Reunir tantos elementos que a aproximasse do anime parecia ser o caminho certo para a série da Netflix. Mesmo com algumas liberdades criativas para encaixar a trama em um formato maior do que a maioria das animações (episódios com menos de 30 minutos), a produção foi muito bem recebida após a divulgação de suas primeiras imagens e trailer oficiais.

Este pacote aparentemente perfeito seria o bastante para deixar o live-action de Cowboy Bebop à altura do anime original? Infelizmente, não. O resultado fica muito aquém do esperado.

DIVULGAÇÃO/NETFLIX

John Cho como o caubói espacial Spike Spiegel

Adaptação sem alma

A trama base da série da Netflix é a mesma do anime original. A Terra foi devastada por uma chuva de asteroides, e pouquíssimos territórios permaneceram habitáveis no planeta azul. Com isso, os humanos sobreviventes povoaram outros planetas e luas do Sistema Solar.

Dentro desta nova sociedade espacial formada, se destaca Spike Spiegel (John Cho), um caubói do espaço (nome dado aos caçadores de recompensas) que ganha a vida capturando bandidos dentro da nave Bebop. Seu parceiro é Jet Black (Shakir), ex-policial e capitão da aeronave.

Assim como no anime, a dupla conhece a golpista Faye Valentine (Daniella), experiente caçadora de recompensas que cruza o caminho dos dois em busca de um mesmo fora da lei.

Quem comanda o submundo desta nova sociedade espacial é um cartel chamado Red Dragon Syndicate (Sindicato do Dragão Vermelho, em tradução livre). Ex-integrante do time de vilões, Spike esconde um passado obscuro do qual passou anos tentando fugir enquanto dividia aventuras com Jet dentro da Bebop.

Com a premissa da série praticamente cuspida do anime, é difícil pensar que uma adaptação tão fiel seria capaz de deixar os fãs da obra original insatisfeitos. No entanto, o live-action da Netflix não tem um detalhe importante, que sobrava na animação de 1998: alma.

DIVULGAÇÃO/NETFLIX

Alex Hessel interpreta o vilão Vicious

Apesar do esforço do trio protagonista para reproduzir o carisma e a personalidade dos personagens, o live-action carece do charme do anime de Cowboy Bebop. Mesmo a estética futurista e o excesso de néon que remete aos filmes dos anos 1970 muitas vezes parecem pobres, se assemelhando a produções como as das séries da rede The CW --Flash, Arrow (2012-2020) ou Supergirl (2015-2021).

Muita atenção é dada às coreografias de luta que tentam imitar as de séries como Demolidor (2015-2018), mas acabam ficando tão lentas para mostrar os movimentos que mais parecem sequências amadoras, rodadas com um orçamento limitado --algo questionável por se tratar de uma adaptação de um anime como Cowboy Bebop.

As alterações feitas na narrativa para encaixar a trama no formato de uma série com dez episódios também afeta negativamente a nova Cowboy Bebop. O principal atingido é o vilão Vicious (Alex Hassell), que para justificar a sua presença estendida no live-action ganha uma história de origem previsível e até preguiçosa, tornando a atuação de Hassell extremamente ruim e caricata.

Quem também sofre com essas mudanças são Faye e Julia (Elena Satine). Na tentativa de diminuir a hipersexualização das personagens femininas no anime e de fazer de Julia uma personagem real, em vez de uma presença quase sobrenatural, o live-action reinventa totalmente a sua caracterização. Infelizmente, a abordagem não funciona para a história e acaba parecendo quase um insulto à obra original.

A sensação final é que, na tentativa de se manter presa aos eventos do anime de maneira quase umbilical, a adaptação da Netflix abandona a oportunidade de expandir o que deu certo na obra original sem perder a essência que tornou Cowboy Bebop um marco em sua época. Caso uma segunda temporada seja oficializada, fica a esperança de que os próximos episódios tratem de curar uma terra que, para muitos, já parece arrasada.

Cowboy Bebop estreia na Netflix nesta sexta-feira (19). Assista ao trailer legendado:


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