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A Divisão

Com histórias reais da violência no Rio, série do Globoplay é pior do que filme de terror

Divulgação/Globoplay

Silvio Guindane interpreta o delegado Mendonça, que encontra mortos num conflito com criminosos - Divulgação/Globoplay

Silvio Guindane interpreta o delegado Mendonça, que encontra mortos num conflito com criminosos

FERNANDA LOPES

Publicado em 19/7/2019 - 4h41

O diretor Vicente Amorim havia acabado de gravar um filme de terror quando se envolveu com A Divisão, série do Globoplay que estreia nesta sexta (19). Mas, para ele, a experiência de retratar histórias reais de casos de sequestro no Rio de Janeiro e embates entre policiais e criminosos foi muito mais aterrorizante. A produção mostra os bastidores de uma divisão da polícia civil que investigava casos de sequestro na década de 1990.

"Me dei conta de que essa série é muito mais próxima de um terror verdadeiro do que o filme que eu tinha feito, em que você sabe que aquilo é fantasia. A violência nesse projeto é pra incomodar, não pode ser normalizada", diz o diretor. O filme ao qual ele se refere é Motorrad (2017), em que um grupo de motoqueiros vai fazer uma trilha por montanhas e é perseguido por assasinos armados com facões.

Em A Divisão, a violência é baseada em fatos reais que ocorreram no Rio de Janeiro, e todos os personagens são espelhados em pessoas que existem e participaram dos acontecimentos daquela época (tanto do lado da lei quanto do crime).

A história se passa em 1997, quando uma onda de sequestros aterrorizava as classes média e alta no Rio. Um delegado sério e inflexível (Mendonça, vivido por Silvio Guindane) e um investigador muito esperto, mas de índole duvidosa (Santiago, interpretado por Erom Cordeiro), são obrigados a trabalhar juntos para resolverem os crimes na DAS, divisão antissequestro. 

"No Rio de Janeiro, se você pensar nos projetos de segurança pública, todos fracassaram. Só um que não, que foi a equipe da antissequestro. A gente quis mostrar que é possível mudar quando a polícia tem boa vontade, quando os diferentes se juntam. Essa é parte da mensagem [que a série quer passar]. Os métodos utilizados não são os melhores, mas o Rio não tem mais nenhum caso de sequestro", diz José Júnior, criador e produtor da série e fundador da ONG AfroReggae.

São justamente os métodos utilizados nas operações da DAS que chamam mais a atenção. O telespectador não tem respiro: a cada episódio, são cerca de 40 minutos de cenas de tiroteio, negociações tensas nas comunidades, angústia das vítimas, discussões entre os próprios policiais, muita truculência e muitas mortes.

"Na segurança pública, em qualquer lugar do mundo, não tem mocinho, só tem vilão.  A pergunta que a série coloca para o telespectador é se os fins justificam os meios. Essa complexidade humana é o que sempre nos interessou. Não tem uma resposta fácil, não é um filme de propaganda da polícia nem de demonização daqueles que eram os bandidos da história. A diferença entre a polícia e os bandidos ali é uma linha tênue", afirma Amorim.

A Divisão demorou dois anos e meio para ser finalizada, e a primeira temporada chega com cinco episódios. A segunda, com outros cinco, também já foi gravada, mas ainda não tem data de estreia definida. Um filme com os mesmos personagens, em circusntâncias diferentes, também já está pronto e deve chegar aos cinemas no início do ano que vem.

Segundo Júnior e Amorim, há muitas histórias reais daquela época que poderiam ser contadas e renderiam "umas 20 temporadas". Eles querem mostrar a violência no Rio como ela realmente é e provocar o público. "A ideia é passar uma sensação de desconforto permanente no telespectador. O público que vai ficar chocado é a elite, e é bom que fique", diz o diretor.

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