The Dukes of Hazzard
Divulgação/CBS
Catherine Bach, Tom Wopat e John Schneider, junto com o icônico carro General Lee, de Os Gatões
JOÃO DA PAZ
Publicado em 7/2/2020 - 4h39
A imagem acima desperta a nostalgia em quem viveu nos áureos anos 1980 e não perdia um episódio da série Os Gatões (1979-1985) na Sessão Aventura, da Globo. Popular, a comédia chamada nos Estados Unidos de The Dukes of Hazzard terminou há 35 anos. Só que, mesmo após tanto tempo, uma bandeira racista assombra o legado da atração.
Na foto, a atriz Catherine Bach, a garçonete sex symbol Daisy Duke, está deitada no teto do icônico Dodge Charger 1969. Ela encobre um pedaço da bandeira dos Estados Confederados (vermelha e com um 'X' em azul), símbolo da parte do sul dos Estados Unidos que lutou contra o norte (e perdeu) na Guerra Civil americana (1861-1865). Como os sulistas batalhavam pela manutenção da escravatura e pela supremacia branca, o pavilhão entrou para a história como um emblema racista.
Por outro lado, quem é do sul dos EUA, principalmente dos Estados que estiveram nas trincheiras (como Alabama, Carolina do Sul, Flórida, Geórgia, Louisiana, Mississipi e Texas), interpreta a bandeira de outra forma, como uma representação de orgulho pelos soldados que estiveram na guerra. E foi sob esse contexto que ela foi inserida na série.
Ambientada em uma zona rural fictícia do Estado da Geórgia, Os Gatões contou as aventuras dos primos Luke (Tom Wopat, de cabelo escuro) e Bo Duke (John Schneider, o loiro). Eles viviam em enrascadas com a polícia e protagonizavam fugas de tirar o fôlego a bordo do Dodge laranja. O carrão foi batizado de General Lee, em homenagem ao general Robert E. Lee (1807-1870), líder do exército confederado.
Na época em que Os Gatões estreou, o pavilhão dos Estados Confederados já tinha seu uso restrito. Ele voltou à sociedade americana no fim da década de 1940, em resposta ao crescente movimento civil a favor da igualdade racial. Havia segregação naqueles Estados, como espaços em restaurantes só para negros, por exemplo.
Esse sentimento de separação era tão forte que, em 1963, durante seu discurso de posse, o político George Wallace (1919-1998), eleito governador do Alabama, proclamou: "Segregação agora, segregação amanhã, segregação para sempre".
Divulgação/montagem/CBS
Atores de Os Gatões com bandeira dos Estados Confederados em destaque; série fora do ar
A polêmica da bandeira com a série atingiu o ápice em 2015. Em junho daquele ano, na cidade de Charleston, no Estado da Carolina do Sul, o jovem Dylan Roof (loiro e branco) executou um massacre em uma igreja, matando nove pessoas, todas negras, fiéis de uma congregação erguida no começo do século 19 e que contou com escravos como os primeiros integrantes.
O assassino se identificava com a tal bandeira, postava várias fotos com ela nas redes sociais e cometeu o crime sem mostrar qualquer remorso.
A maioria da sociedade americana se posicionou contra o pavilhão e pediu a retirada dele de prédios públicos, algo que era comum nos Estados sulistas. O repúdio não parou por aí. Empresas se sentiram encurraladas a não se associarem mais a esse símbolo, e mercados deixaram de vendê-lo. Aí, a série Os Gatões entrou na mira.
O canal TV Land (propriedade da ViacomCBS) exibia reprises da comédia em 2015. Mas, em julho daquele ano, a produção foi retirada do ar. "Nós removemos [Os Gatões] da nossa programação e não temos nenhum comentário a acrescentar", dizia uma nota seca da TV Land, divulgada para a imprensa na época.
A Warner Bros., produtora da série e dona dos produtos licenciados, parou de fazer qualquer item, de camisas a lancheiras, estampando a bandeira em conjunto com Os Gatões, incluindo aí miniaturas do Dodge laranja. Até o dono do carro original veio a público informar que pintou uma bandeira dos Estados Unidos no lugar do símbolo dos Estados Confederados.
Série que chegou ser a segunda mais vista na TV americana, na temporada 1980-1981, atrás de Dallas (1978-1991), Os Gatões têm essa assombração permanente. Há quem defenda que a bandeira não deveria ser suficiente para manchar o legado da série como todo, pois foi usada sem má intenção. Mas, invariavelmente, aquilo é mais do que um pano ou uma pintura. Para muitos, siginifica opressão e ódio.
Para relembrar a série, veja chamada da Globo para Os Gatões, veiculada em 1983:
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