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FUTEBOL

Após polêmica com Lava Jato, Netflix aborta série de criadora de O Mecanismo

Reprodução/Youtube/O2 Filmes

Elena Soarez aparece em frente a uma estante de livros em entrevista da O2 Filmes

Elena Soarez em entrevista da O2 Filmes; novo projeto dela foi cancelado pela Netflix

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 15/4/2021 - 7h10

Depois de irritar tanto a esquerda quanto a direita com O Mecanismo (2018-2019), série criada por José Padilha e Elena Soarez que fez um retrato no mínimo distorcido da Operação Lava Jato, a Netflix decidiu abortar o desenvolvimento de Futebol, atração produzida pela roteirista e que mostraria uma paixão bem brasileira.

Futebol foi inicialmente anunciada pela plataforma de streaming em abril de 2019, em um pacote de 30 projetos nacionais. Desses, vários já estrearam (como Modo Avião, com Larissa Manoela, e Ricos de Amor, com Giovanna Lancellotti) e outros estão para entrar no catálogo --caso de Carnaval, que contará com a influenciadora digital Gessica Kayane, a Gkay.

Já a série de Elena Soarez nunca mais teve nenhuma atualização, notícia de escalação de elenco ou mesmo do diretor responsável. O próprio Notícias da TV já havia adiantado, no início deste ano, que o projeto parecia morto. Questionada pela reportagem, a Netflix confirmou que a ideia não será desenvolvida.

"Nos últimos anos, tivemos uma mudança de estratégia em relação ao tipo de conteúdo que produzimos, e Futebol foi um projeto descontinuado", informou a assessoria de comunicação da plataforma, que negou qualquer mal-estar com a roteirista por causa de O Mecanismo. "Elena continua sendo uma grande parceira da Netflix e está envolvida em outros projetos nossos."

As reviravoltas na Lava Jato da vida real irritaram até mesmo José Padilha. O diretor de Tropa de Elite (2007) admitiu que via Sergio Moro como um herói nacional e que se arrependeu de tê-lo pintado como tal em sua série --o juiz da ficção era vivido pelo ator Otto Jr. e levava o nome Paulo Rigo.

No lançamento da segunda temporada, em 2019, Moro já tinha se associado ao governo de Jair Bolsonaro, o que irritou o cineasta --que chegou a compará-lo ao goleiro Bruno Fernando das Dores, preso em 2010 pelo assassinato da modelo Eliza Samúdio. 

"Eu e a torcida do Flamengo vimos jogos contra o Botafogo em que o goleiro Bruno agarrava os pênaltis e o Flamengo era campeão. Todo mundo comemorava e achava o Bruno maravilhoso. Anos depois, ele cometeu um assassinato. Mas foi anos depois, né? Quando ele agarrava um pênalti, eu não podia criticá-lo pelo homicídio que ele cometeu porque ainda não tinha acontecido. É a mesma coisa com o Moro", comparou.

Como seria a série Futebol?

Pelo pouco que foi revelado sobre a atração, Elena pretendia mostrar o que estava por trás da relação entre dois jogadores, Toró e Pantera, adolescentes pobres de 15 anos que eram escolhidos entre uma multidão para integrar a categoria júnior do maior time brasileiro: o fictício Carioca Futebol Clube.

Na ocasião, a roteirista explicou que a série surgiu por acaso. "Da palavra 'futebol' saiu uma provocação. O Luciano [Moura, cocriador] já tinha ideias, mas não queríamos só contar uma história de futebol. Então surgiu a ideia de falar sobre o que acontece depois que você alcança a glória."

"Você está condenado a declinar pro resto da vida, porque passa a viver o reverso da glória. Mas e quando você chega ao auge muito cedo? Isso é o que nos interessou", contou Elena à reportagem ainda em 2019.


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