Análise | Teledramaturgia
Reprodução/TV Globo
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 7/4/2016 - 5h31
"Quando a lenda é melhor do que a realidade, publica-se a lenda". A frase de Arthur (Fabio Assunção) em referência à notícia da prisão de Germano (Humberto Martins) em um site sensacionalista em Totalmente Demais é bastante significativa da novela das sete da Globo.
Diante de um momento político bastante polarizado e conturbado pelo qual o Brasil passa, as novelas servem de refúgio ao telespectador que quer desligar da realidade. De todas as tramas da Globo atualmente em exibição, Totalmente Demais é a mais escapista delas (a lenda em contraponto com a realidade), e isso explica muito sobre o sucesso que o folhetim vem fazendo no Ibope, o maior no horário das sete desde Cheias de Charme (2012).
Com leveza, Totalmente Demais aborda o sonho da menina pobre que sobe na vida sem pisar em ninguém e passa a mensagem de que é possível atingir seus objetivos. Água com açúcar? Sim, mas servida em taças de cristais. A história de Paulo Halm e Rosane Svartman conseguiu trazer profundidade sem abandonar o humor característico do horário.
E profundidade não se trata apenas da estruturação dos personagens, como a vilã Carolina (Juliana Paes): o telespectador sabe qual é seu papel na história, mas ela apresenta nuances que a tornam humanizada. Bem delineados, os personagens cumprem funções que o público soube reconhecer logo de cara, mas aos poucos vão mostrando novas camadas, sem que isso comprometa suas personalidades.
O interessante desse aprofundamento proposto por Totalmente Demais está também na dimensão que a novela ganha na condução das tramas paralelas. O folhetim já abordou homofobia e agora parte para a discussão do lugar do deficiente físico na sociedade, com o recente acidente envolvendo o personagem Wesley (Juan Paiva).
Há ainda as inúmeras referências que enriquecem o enredo, e elas vão de Charles Chaplin a Marilyn Monroe, passando por outros nomes da cultura pop, do cinema, da música, do teatro e até da literatura _quase todo capítulo Arthur (Fabio Assunção) aparece citando uma poesia ou trecho de algum livro.
reprodução/TV globo
Os atores Orã Figueiredo e Juliana Paiva em cena cômica da novela Totalmente Demais
Por fim, Totalmente Demais conta com um time coadjuvante que diverte sem exageros de interpretação e ajuda a movimentar as histórias principais. Dentre os destaques, Florisval (Ailton Graça), Cassandra (Juliana Paiva), Lu (Julianne Trevisol) e Max (Pablo Sanábio).
Entretanto, a trama padece de pequenos problemas. Menos sérios, é verdade, mas que poderiam ter sido revertidos. O primeiro deles foi a demora para finalizar o concurso de modelos que sagrou Eliza (Marina Ruy Barbosa) como vencedora e truncou o miolo da novela.
Tem também as atuações canastronas de Hélio de La Peña (Zé Pedro) e de Paulo Rocha (Dino). La Peña pode ser um excelente comediante, mas como ator não conseguiu transferir a graça necessária ao personagem. Já Rocha dá um show de vergonha alheia a cada cena que protagoniza. Sem passar verdade, ele não economiza nas caras e bocas e ainda não conseguiu entender que, muito mais do que mau, seu personagem é cínico. A situação fica ainda pior quando ele contracena com seu coadjuvante Peçanha (Rodrigo Rangel), que se sai muito melhor do que ele.
Por fim, o casal formado por Rafael (Daniel Rocha) e Lili (Vivianne Pasmanter) não vingou. Forçada, a dupla não desperta empatia, não tem química e, consequentemente, não convence.
Totalmente Demais pode não ter apresentado absolutamente nada novo no universo folhetinesco. Sua força mostrou-se, porém, estar na narrativa surrada mas bem contada e capaz de fisgar o público para fora da realidade nacional.
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