Terra e Paixão troca luz divina por vilã arrependida em trama reciclada de Jonatas

Com a tragédia de Jonatas (Paulo Lessa) em Terra e Paixão, Walcyr Carrasco aproveita para reescrever uma trama que foi mal recebida em O Outro Lado do Paraíso (2017). Raquel (Erika Januza) também ficou paraplégica, mas foi salva por um milagre de Mercedes (Fernanda Montenegro) --em uma cena criticada até pelo diretor artístico Mauro Mendonça Filho.

O produtor rural também deve ter um final feliz na novela das nove da Globo. Ele, no entanto, não vai encontrar uma solução mágica. Graça (Agatha Moreira) vai se redimir de seus erros ao ajudá-lo a retomar a vida --com ou sem o movimento dos membros inferiores.

Em O Outro Lado do Paraíso, a cena em que Raquel é visitada por uma luz divina após ter sido atropelada por Sophia (Marieta Severo) foi considerada capacitista por parte do público. O próprio diretor Mauro Mendonça, que dirigiu diversas novelas de Carrasco, a criticou publicamente.

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O profissional afirmou que não concordava com a sequência. "Tenho uma filha cadeirante. Se tem alguém que sabe que não rola milagre, sou eu", escreveu ele, em seu perfil no X (antigo Twitter).

Curiosamente, o arco narrativo de Raquel não é o único que Carrasco pinçou em O Outro Lado do Paraíso para ajudar a movimentar Terra e Paixão. O autoplágio é uma das estratégias do autor para lidar com a margem apertada, já que há poucos capítulos de frente.

Ele, por exemplo, reaproveitou parte da história de Laura (Bella Piero). Um trauma fez com que a jovem não se lembrasse que foi abusada pelo padrasto durante a infância. Qualquer semelhança com o drama de Petra (Debora Ozório) não é mera coincidência.

Carrasco é conhecido por fazer essa citação ao próprio trabalho, mas não é o único. Benedito Ruy Barbosa e Manoel Carlos --medalhões que escreveram alguns dos principais sucessos da Globo-- também são conhecidos pela obsessão narrativa.