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Não é só Marino!

Terra e Paixão distribui mais perdão que padres e transforma vilões em beatos

Reprodução/TV Globo

Montagem com fotos de Amaury Lorenzo, Agatha Moreira e Leandro Lima em cenas de Terra e Paixão

Ramiro (Amaury Lorenzo), Graça (Agatha Moreira) e Marino (Leandro Lima) migraram de lado

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 17/1/2024 - 21h00

A redenção de Ramiro (Amaury Lorenzo) na reta final de Terra e Paixão divide opiniões na internet. Afinal, o brucutu é um assassino que cometeu diversas atrocidades a mando de Antônio (Tony Ramos). Entretanto, o rei dos apertãozinhos não é o único personagem de moral questionável a ganhar final feliz na novela das nove da Globo. Walcyr Carrasco tem distribuído mais perdão para suas criações do que padres antes da comunhão --e, melhor ainda, o autor não exige ato de contrição antes nem passa penitência depois.

Carrasco precisou sambar muito para sustentar o folhetim no ar durante incríveis 221 capítulos --uma duração na qual a Globo não apostava para uma trama do horário desde Amor à Vida (2013), do mesmo autor. Ele e Thelma Guedes (escalada para ajudar na navegação já com o barco em alto-mar) tiveram de praticamente criar uma nova novela no meio do processo.

Para isso funcionar, os novelistas buscaram inspiração no título de outra trama que ficou marcada por seu tamanho exagerado --Redenção, que exibiu 696 episódios na TV Excelsior entre maio de 1966 e dezembro de 1968. Terra e Paixão não vai ser tão longa (ainda bem!), mas tem abusado da redenção para personagens de índole duvidosa.

Príncipe encantado de Lucinda (Débora Falabella), Marino (Leandro Lima) começou a novela das nove como comparsa de Antônio. O delegado dava dribles frequentes na lei para esconder os crimes do todo-poderoso. Agora que deixou os dias de corrupção no passado e virou herói, o bonitão foi justamente o responsável pela prisão do malvado --e parece ter servido um chá de amnésia para toda Nova Primavera, que o vê como um homem ilibado.

O próprio Marino parecia ter esquecido até recentemente que, nos seus dias de bad boy, teve um filho com Graça (Agatha Moreira). A patricinha, aliás, é outra que superou o passado de vilãzinha para abraçar o bondade. No início do folhetim, ela era capaz de qualquer coisa para ter uma vida de luxo --até mesmo enganar os La Selva com a falsa paternidade do seu bebê. Bem distante da mulher que se apaixonou por um homem simples e que, para consagrar seu status de mocinha, encarou até um sequestro na reta final.

E, já que Graça virou assunto, seus pais também superaram os dias de interesseiros sem escrúpulos e ganharam finais felizes --com novas duplas, porque o casamento deles era bastante tóxico e sem salvação. Tadeu (Claudio Gabriel) não conseguiu a Rainha Delícia, mas encontrou um prêmio de consolação na amizade de Enzo (Rafael Gualandi), enquanto Gladys (Leona Cavalli) se enroscou com Andrade (Ângelo Antônio) após petiscar aqui e ali.

O alcoólatra é outro que foi abençoado pela varinha do perdão de Walcyr Carrasco. Agressor de mulher que aterrorizava tanto Lucinda quanto Anely (Tatá Werneck), o personagem de Ângelo Antônio virou herói de filme de ação na sequência em que dirigiu o caminhão com uma carga valiosa e foi abordado por bandidos --um Jason Statham brasileiro, por assim dizer.

Outro mocinho de ocasião é Vinícius (Paulo Rocha), safado da pior espécie que deu um golpe em Aline (Barbara Reis) e virou amante de Irene (Gloria Pires). O atentado que sofreu não só tirou sua memória como mudou sua personalidade. Responsável pela derrocada da ex após o rapto de Danielzinho, ele ainda vai se casar com Iraê (Suyane Moreira) no capítulo desta quarta (17) --pois não há metáfora maior para redenção do que unir um explorador de minérios cujo intérprete é português com uma indígena brasileira.

Curiosamente, a sinopse original de Terra e Paixão previa justamente uma virada de Antônio --um dos poucos vilões tanto no início quanto no fim da história, embora tenha passado por momentos um pouco menos cruéis nas mãos de Agatha (Eliane Giardini) e da própria Irene.

Walcyr Carrasco pretendia encerrar a novela com o fazendeiro finalmente perdoando Caio pela morte de sua primeira mulher, em um momento que retomaria o fim de Félix (Mateus Solano) e César (Antonio Fagundes) no desfecho de Amor à Vida.

Terra e Paixão é escrita por Walcyr Carrasco e Thelma Guedes. A história é ambientada na fictícia cidade de Nova Primavera, em Mato Grosso do Sul. A trama teve início em maio de 2023 e sairá do ar nesta sexta (19). Em seguida, a Globo vai estrear o remake de Renascer (1993) no horário nobre.


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