REPRISE NO VIVA
REPRODUÇÃO TV GLOBO/DIVULGAÇÃO AGÊNCIA BRASIL
Sassá Mutema, de O Salvador da Pátria, tinha características que lembravam Luiz Inácio Lula da Silva
A novela O Salvador da Pátria (1989) voltou a ser assunto em 2021 por causa de sua reprise no canal Viva, que começou na segunda (12). Na época em que o folhetim foi originalmente exibido, houve quem desconfiasse de que a trama do protagonista fizesse referência à trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato a presidente do Brasil. O autor teve até de mudar os rumos da história. Afinal, de onde vem essa comparação?
O Salvador da Pátria tem como personagem principal Sassá Mutema (Lima Duarte), um homem humilde, analfabeto e ingênuo. Ele é envolvido num esquema sórdido de pessoas poderosas da cidade, acusado de cometer assassinato e preso.
Sassá consegue provar sua inocência graças ao apoio do povo e especialmente da professora Clotilde (Maitê Proença), que se dedica a ajudá-lo. Com toda a situação, o personagem se torna popular e vira alvo dos políticos locais, que querem manipulá-lo e torná-lo prefeito da cidade de Tangará.
Sassá de fato chega ao poder, mas se revolta contra os influentes, começa a agir pelas próprias convicções, é aclamado e passa a sonhar até com carreira política em Brasília.
O Salvador da Pátria foi ao ar em 1989, ano das primeiras eleições diretas para a presidência do país após a Ditadura Militar (1964-1985). Segundo Lauro César Muniz, o título da novela fazia referência a este evento.
"Trata-se de uma parábola sobre a liderança. Quero falar de um Brasil forte, num ano decisivo para a nossa história, quando vai surgir um presidente eleito pelo povo. Como é um ano de esperança, quero falar de um país que acredita na luz no fim do túnel", disse ele na época, de acordo com o livro Memória da Telenovela Brasileira.
Lula teve grande destaque nestas eleições e disputou o segundo turno contra Fernando Collor de Mello. Pelo fato de Sassá Mutema ser um homem de origens humildes, do interior do Brasil, e que ascendia ao poder com apoio popular, houve quem o comparasse ao candidato pernambucano e acreditasse que a Globo e o autor, por meio da novela, faziam apologia ao petista.
"Em 1989, já não havia mais a censura formal, mas houve uma interferência direta de Brasília na cúpula da Globo. Era o primeiro ano de eleições diretas, Lula contra Collor, e acharam que o Sassá Mutema fazia apologia à esquerda. Assim, acabou vindo uma pressão na emissora para que a trama fosse mudada. Cheguei a ouvir, nos bastidores, 'o autor desse novela vai eleger o presidente do Brasil'", disse Lauro César Muniz em um evento acadêmico na USP (Universidade de São Paulo), em 2002, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo.
"Tive de abandonar o aspecto político da história e focalizar apenas o policial [na acusação de assassinato]", complementou o autor.
Até o próprio PT (Partido dos Trabalhadores) enxergava certa semelhança entre Sassá e Lula, mas não via com bons olhos essa suposta alegoria na novela.
"Lembro que a [Luiza] Erundina [hoje deputada federal do PSOL, na época, prefeita de São Paulo pelo PT] reclamava. Achava que estávamos satirizando o Lula, porque o Sassá era ingênuo e chegou a fazer muitas concessões aos poderosos", lembrou Muniz.
Além disso, a música de abertura da novela era Amarra o Teu Arado a uma Estrela, de Gilberto Gil. Uma estrela está no símbolo do PT, o que também foi visto como uma suposta ligação entre o folhetim e o partido.
Devido às semelhanças, Lauro César Muniz mudou o rumo da história de Sassá Mutema. O personagem foi concebido para de fato virar presidente do país, mas acabou ficando apenas nos limites de Tangará.
"Segundo a sinopse original, Sassá Mutema seria cooptado para ser candidato a vice-presidente de um candidato com ligações com o narcotráfico. O candidato a presidente, então, seria assassinado, e Sassá assumiria o governo nas mãos de um grupo de narcotraficantes. Só que, durante o processo, ele toma consciência de tudo o que está acontecendo, desmantela o cartel e se torna um bom governante. Infelizmente, não pude fazer nada disso", relatou o autor ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo.
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