O erro imperdoável do remake de Vale Tudo que prejudica seus personagens

Responsável pela adaptação de Vale Tudo, Manuela Dias tem mudado mais do que apenas algumas tramas da história original. A autora passou a mexer até mesmo na essência dos personagens, descaracterizando completamente o que havia sido criado por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004) em 1988. Não à toa, o público que acompanhou a primeira versão tem rejeitado o remake --que já corre o risco de terminar como a pior novela das nove da história da Globo.

Conhecida por defender que todo mundo é um pouco mocinho e vilão, discurso que já havia dado o que falar na época de Amor de Mãe (2019), a novelista não abriu mão dessa fórmula ao trazer o folhetim para a atualidade.

Só que esse discurso é bastante conflitante com a novela de 1988, na qual os personagens eram muito bem separados entre os "do bem" e os "do mal" --num estilo que beirava até o maniqueísmo.

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Era inimaginável, por exemplo, ver o inescrupuloso Marco Aurélio (Reginaldo Faria na primeira versão/Alexandre Nero agora) se derreter completamente por crianças --a ponto de usar um fone de ouvido rosa com orelhinhas para brincar com a sobrinha.

Marco Aurélio estava ocupado demais com seus negócios escusos na TCA para se importar com algo tão banal quanto sentimentos. Mesmo apaixonado por Leila (Cassia Kis), ele não chegava nem perto do romantismo demonstrado por sua versão "nutella" do remake.

Tais diferenças entre o personagem do passado e do presente já chamaram a atenção dos internautas, que transformaram em memes os momentos nada vilanescos do executivo. Como dizem por aí: fica bem difícil odiar o novo Marco Aurélio...

Outro exemplo está em Solange (Alice Wegmann) admitir que se envolveu com outro homem na Europa, mesmo tendo um relacionamento à distância com Afonso (Humberto Carrão).

A mocinha de Lídia Brondi em 1988 jamais seria capaz de trair o namorado, afinal, ela foi injustiçada quando o playboy acreditou que ela tinha um caso com César (Carlos Alberto Riccelli) --tudo fruto de uma armação.

Essa mudança num traço tão importante quanto a fidelidade prejudica a imagem de Solange, já que fica mais "aceitável" o fato de Afonso também ter traído a namorada quando ela estava longe. Chifre trocado não dói, não é?

Antes mesmo da estreia do remake, Manuela Dias já tinha sido criticada por insinuar que Odete Roitman seria "mais humanizada" na pele de Debora Bloch. A demora para que a vilã se mostrasse realmente preconceituosa acabou dando margem para que ela fosse exaltada nas redes sociais, virando uma "loba" por se envolver com homens mais jovens.

O público se apegou à ricaça, defendendo também que ela só quer o bem dos filhos encostados e da irmã dondoca. Algo completamente diferente de quando a vilã eternizada por Beatriz Segall (1926-2018) causava asco pelas opiniões e atitudes condenáveis.

Mexer com pontos essenciais do caráter dos personagens vira um erro difícil de ser perdoado --e uma emboscada para a própria história, que sofre com os índices baixos de audiência e perde até para Dona de Mim. Coincidentemente ou não, a novela de Rosane Svartman deixa muito mais clara a divisão entre mocinhos e vilões na faixa das sete.

Leia também -> Resumo dos capítulos da novela Vale Tudo.

Vale Tudo foi exibida em 1988 e é um dos grandes sucessos da teledramaturgia brasileira. O remake, escrito pela autora Manuela Dias, será substituído no final do ano por Três Graças, uma novela de Aguinaldo Silva.

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