O OUTRO LADO DO PARAÍSO
Fotos Raquel Cunha/TV Globo
Clara (Bianca Bin) será vítima de violência doméstica e da ganância da sogra na novela
MÁRCIA PEREIRA, no Rio de Janeiro
Publicado em 22/10/2017 - 15h15
O Outro Lado do Paraíso traz paisagens lindas do Tocantins, mas o que causará impacto são os temas fortes escolhidos pelo autor Walcyr Carrasco. A estreia desta segunda-feira (23) é um caldeirão de polêmicas. Traz Grazi Massafera na pele de uma devoradora de homens, Sergio Guizé interpretando o agressor da mocinha inocente de Bianca Bin e Eriberto Leão no papel de um homossexual enrustido que odeia ser gay.
E tem mais. Marieta Severo faz a vilã Sophia, mas não é qualquer megera, não. Gananciosa, ela não pestanejará em mandar matar para ter o que quer. Já na primeira semana, a personagem mostrará ainda que tem horror a uma de suas filhas, Estela (Juliana Caldas), porque a caçula é portadora de nanismo.
Apenas um núcleo da trama será ambientado no Rio de Janeiro. Nele, dois personagens vão agir para destruir o casamento de Elizabeth (Gloria Pires) com Henrique (Emílio de Mello). Na primeira fase da trama, ela será dada como morta após a explosão de uma lancha. Elizabeth virará Duda e sofrerá com depressão e alcoolismo, tentará até suicídio.
O autor usará o primeiro mês da trama para mostrar os personagens há dez anos. Depois, ele dará um salto no tempo para fazer Clara (Bianca Bin) escapar do manicômio onde foi trancada durante todo esse período. Começará aí a saga vingativa da mocinha.
Carrasco explica que a novela tem como matriz a lei do retorno, mas não quer dar spoiler. "A lei do retorno é vingança, mas tem que assistir para ver", fala.
Sophia (Marieta Severo) fará de tudo para manter Estela (Juliana Caldas) longe da família
Espinhosos
Com sucessos consecutivos em diferentes faixas de horário _Eta Mundo Bom! (2016), Verdades Secretas (2015) e Amor à Vida (2013)_, o autor começou a escrever a trama durante uma viagem ao Jalapão. Conta que lá viu personagens reais que foram colocados na história, como a vidente de Fernanda Montenegro (Mercedes) e a cafetina de Laura Cardoso (Caetana).
Outros temas mais fortes ele já tinha na manga (ou na cabeça), como a violência contra mulher.
"O número de mulheres espancadas e até assassinadas pelo companheiro é gigantesco. Não estou falando apenas de mulheres de classe baixa, às vezes mulheres de classe média e alta. Esse assunto me toca profundamente. Entrei em contato com uma ONG de Brasília e estudei a questão porque, como eu não sou nenhum espancador, eu queria saber toda a sequência que um homem faz para ir tomando esse poder sobre a mulher", diz o novelista.
O lado dramático para quem é portador de nanismo é inédito em novelas. "Eu quis tocar nisso porque, quando eu era criança, minha mãe tinha uma amiga que tinha dois sobrinhos, um menino e uma menina. A menina era anã, e o menino, não. E eu acompanhei a vida dessa menina, que inclusive se casou três vezes, com homens anões e não anões. Comecei a pensar: 'Poxa vida, é difícil ser anão, porque você não consegue usar um banheiro público, por exemplo'", explica Carrasco.
Clara (Bianca Bin) e Gael (Sergio Guizé): paixão avassaladora e violência doméstica
Poesia nas imagens
Mauro Mendonça Filho, diretor artístico da trama, afirma que tratar de temas fortes em uma novela exige poesia na imagem, na alma e na delicadeza de lidar com esses personagens.
"É que nem na Cracolândia, de Verdades Secretas, em que eu busquei um tom poético porque o viciado é um doente. Mas, mesmo nos temas delicados, temos de ser verossímeis para gerar identificação", conta.
Maurinho (como é chamado nos bastidores) diz que violência doméstica é um assunto universal. "Falar de amor, sentimentos, desejos, sonhos, é falar também de frustrações, ciúmes... Qualquer sistema nervoso pode desandar em situações assim, então, é um assunto que interessa e acontece no mundo inteiro."
Com mais de um vilão cruel em cena, O Outro Lado do Paraíso tem a chance de emplacar um novo Félix (Mateus Solano, de Amor à Vida) ou Sandra (Flávia Alessandra, de Eta Mundo Bom!). Antagonistas recentes que foram marcantes.
"As figuras difíceis são como nós. Todos têm uma dualidade constante, a gente tem figuras linearmente más e outras que erram, o que é diferente. Estamos tentando humanizar esses personagens e diferenciá-los", diz.
Lívia (Grazi Massafera) começa como ninfomaníaca: a garota mais "rodada" da cidade
Sophia tem o perfil da vilã cruel, mas o elenco traz umas incógnitas. Gael (Sergio Guizé) e Lívia (Grazi Massafera) são dois exemplos. "Gael é um enigma. Tem um comportamento bipolar, que vai da extrema delicadeza a uma agressividade sem controle", comenta o diretor.
Já a personagem de Massafera começa como uma jovem carente, que faz de tudo para chamar a atenção, inclusive sexo. Mas, rejeitada e diante da descoberta que não conseguirá realizar o sonho de ser mãe, ela se transformará e demonstrará traços de psicose.
Para o diretor, apesar de a trama retratar um mundo masculino e muito machista, a alma feminina é a essência de O Outro Lado do Paraíso.
Se o "comandante do barco" teme rejeição por conta do sucesso de A Força do Querer, ele afirma que não. "É muito melhor pegar com sucesso do que pegar lá embaixo. Estou megafeliz. É uma responsabilidade enorme ter o desafio de manter o que Papinha [Rogério Gomes, diretor] e a Gloria [Perez, autora] conseguiram."
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