CRÍTICA
Reprodução/TV Globo
Laila (Julia Dalavia) sofre durante bombardeio à sua casa no primeiro capítulo de Órfãos da Terra
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 6/4/2019 - 5h58
Principal estreia da semana, Órfãos da Terra, nova novela das seis da Globo, merece todos os elogios. Tem texto apurado, direção inspirada e um elenco afinado, de atores talentosos em personagens bem construídos. O único grande erro, até agora, foi de estratégia: a novela merecia o horário que atualmente é ocupado pela insossa O Sétimo Guardião.
É inevitável que o público associe a novela a O Clone (2001), mas as semelhanças param nos figurinos e nas expressões em árabe que surgem aqui e ali na trama de Duca Rachid e Thelma Guedes. As autoras foram além da fantasia dos folhetins ao darem destaque a um tema bem atual: a questão da migração humana.
Órfãos da Terra conta a história de Laila (Julia Dalavia) e Jamil (Renato Góes), dois jovens que se conhecem em meio aos horrores de um campo de refugiados. Após ter a casa bombardeada na Síria e ser obrigada a fugir do próprio país com a família, Laila conhece Jamil, que imediatamente se apaixona por ela.
Para viverem o amor, os dois terão que driblar as armadilhas do sheik Aziz (Herson Capri), patrão de Jamil, e de sua filha Dalila (Alice Wegmann). Em troca do tratamento de saúde do irmão ferido, Laila aceita se casar com Aziz. Dalila, por sua vez, é prometida a Jamil e não abrirá mão dele tão facilmente.
O amor de Laila e Jamil, com todos seus impedimentos, cumpre a cota de açúcar necessária a qualquer folhetim das seis. Mas a estética crua de suas cenas, com uma linguagem próxima à do documental, transporta a trama para um degrau acima.
A pertinência de seu pano de fundo é temperada com os elementos naturais do gênero: reiteração, casal romântico e vilões bem delineados, mocinha que sofre até dizer chega e um certo didatismo no texto, detalhe que se torna um fator irrelevante diante de todas as qualidades mostradas nessa primeira semana.
Se por um lado a novela não escapou de ser didática em sua apresentação, por outro mostrou que nem toda cena precisa de verborragia. É possível emocionar apenas com imagens, uma trilha sonora bem pontuada e atores expressivos.
Merece destaque a sequência em que os pais de Laila recebem a notícia da morte do filho pequeno, intercalada e contraposta pela celebração pré-nupcial de Aziz. Ou ainda Jamil com cara de bobo logo após conhecer a mulher de sua vida.
A direção de Gustavo Fernandez é refinada, com cenários críveis e uma fotografia apurada que fica ainda mais impressionante se considerarmos o fato de que a trama é toda gravada no Brasil, sem viagens internacionais que outrora foram itens quase indispensáveis para chamar o público no começo das novelas.
No elenco, a uniformidade das atuações ressalta a preparação de todos. É claro que, até mesmo pela força dos personagens, é natural que uns se destaquem mais do que outros, como é o caso dos protagonistas e dos vilões. Além deles, Letícia Sabatella (Soraia) e Eliane Giardini (Rania) já chamaram a atenção.
Por fim, a abertura, que mistura refugiados reais aos atores da história, embalada pelos Tribalhistas. O departamento de arte da Globo vem se esmerando no trabalho e, em todas as produções atualmente no ar, as aberturas são impecáveis.
O diferencial de Órfãos da Terra está justamente na mistura, não só a de etnias retratadas em seus personagens: as autoras conseguiram trabalhar um tema completamente trágico como a guerra com a leveza de uma novela das seis. Imaginem o que elas conseguiriam fazer se estivessem na faixa das nove...
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