Melodrama rasgado, Terra e Paixão acelera demais e tritura emoções sem dó

Terra e Paixão estreou com o melodrama estampado na testa. A novela desembarcou no horário nobre da Globo com misticismo, belas paisagens rurais e alta tensão. O prefácio foi entoado por personagens que trazem à TV a cultura indígena, seguido de um produtor disposto a morrer para defender suas terras. A voracidade em contar a história teve um impacto forte: o telespectador não pôde se comover com a tragédia.

Em cinco minutos de novela, o público já assistia à tragédia na vida de Aline (Barbara Reis), e Caio (Cauã Reymond) já deixava claro sua função na nova trama das nove: ele é o herói. Só faltou a viúva se apaixonar logo após enterrar o marido, tamanha a corrida para mostrar como ela é forte e mexe com os homens. 

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O ritmo acelerado somado à bela fotografia das imagens externas, que contou até com um eclipse, lembrou o começo de A Dona do Pedaço (2019), folhetim também de autoria de Walcyr Carrasco.

Nada como uma festa para reunir boa parte do elenco e apresentá-lo ao telespectador. Recurso usado pelo dramalhão, que costurou uma comemoração requintada na casa da família endinheirada La Selva ao pesadelo enfrentado pela professora vivida por Barbara Reis. 

Para tudo ficar bem mastigadinho, as cenas da luta da protagonista para escapar da morte juntamente com seu filho se revezavam com o noivado de um dos herdeiros do mandante da atrocidade contra Samuel (Ítalo Martins). Sem nenhum peso na consciência, Antônio (Tony Ramos) puxou um brinde ao noivado do filho Daniel (Johnny Massaro) com Graça (Agatha Moreira) para mostrar a que veio.

O mocinho interpretado por Cauã Reymond apareceu de terno e gravata na celebração a tempo de acabar com acusação de um dos capangas do pai: a de que ele ajudou a vítima dele a fugir. Contrário a esse tipo de invasão e violência, Caio foi o responsável pelo fracasso no plano sanguinário de Antônio.

Antônio (Tony Ramos) faz e fala barbaridades

Vilão esculacha filhos

Sem qualquer rodeio, o poderoso empresário do agronegócio chamou o filho de jeca para baixo --impossível não entender que a relação de pai e filho é das piores possíveis. Irene (Gloria Pires) também mostrou as garras contra o enteado sem fazer cerimônia.

Já Daniel pescou a tragédia quando o pai chamou a mulher de Samuel de viúva. "Houve um assassinato", disse, com a mãe ignorando seus comentários para fazer campanha pela sucessão do marido nos negócios. Os diálogos diretos, algumas vezes até desenhando a trama para o público, é uma marca registrada de Carrasco.

O patriarca vilão também bateu na cara do filho advogado e o chamou de incompetente. Tony Ramos tem nas mãos um personagem que faz caras e bocas, mas, sobretudo, faz e fala barbaridades.

O sotaque caipira foi reforçado a cada diálogo no primeiro capítulo de Terra e Paixão. Teve também flashback do nascimento de Caio para ficar claro o motivo que fez Antônio rejeitar o filho desde sempre: sua versão jovem chamou o bebê de assassino porque sua primeira mulher morreu no parto.

Ao falar do trauma, Caio ficou lágrimas nos olhos. Enquanto isso, a novela saltou para o dia seguinte da tragédia na fazenda de Samuel.

Após se esconder dentro de um armário pequeno na casa de Cândida (Susana Vieira) e sobreviver com o filho, João (Matheus Assis), Aline encontrou sua casa queimada, o corpo do marido estirado por ali e bradou: "Vou denunciar o assassinato do Samuel. Enfrento o doutor Antônio, enfrento o que for preciso".

Ela realmente denunciou o crime e até recebeu uma proposta para vender suas terras pelo dobro do que valem, mas a professora de matemática disse não com convicção. "Não aceito, minha resposta já está dada", disparou. Em seguida, ela fez um juramento a si mesma com as mãos nas terras vermelhas deixadas pelo seu marido: vai lutar e vencer.

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