Recatada do horário nobre
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Gledson (Raphael Ghanem) dá beijo comportado em Wesley (Gil Coelho) em A Lei do Amor
ODARA GALLO
Publicado em 30/3/2017 - 5h52
A Lei do Amor exibe seu último capítulo nesta sexta-feira (31) com um recorde: o maior número de casais gays de uma novela do horário nobre. Apesar da representatividade maior, com três romances homossexuais, a abordagem foi sutil e não passou nem perto do ainda polêmico beijo protagonizado por Mateus Solano e Thiago Fragoso em Amor à Vida.
"Vejo isso como um retrocesso. Quando você mostra um casal gay, mas não se aproxima da realidade em que ele vive, é uma espécie de omissão à homofobia", opina Agripino Magalhães, líder estadual da Aliança Nacional LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais).
"Dentro do estilo melodramático, considero que A Lei do Amor cumpriu a sua função social na teledramaturgia. Também considero que o beijo gay deixou de ser exatamente uma questão", contrapõe Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana pela Universidade de São Paulo.
Na atual novela das nove, Zelito (Danilo Ferreira) conquistou o coração de Wesley (Gil Coelho) logo nos primeiros capítulos. O frentista era heterossexual, mas se encantou pelo DJ, que foi assassinado a mando de Tião (José Mayer), e o romance foi abortado tragicamente.
Os autores Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari deixaram para formar os outros dois casais gays só nesta última semana.
No capítulo de segunda (27), Wesley chamou Gledson (Raphael Ghanem) para sair, mas a cena teve só troca de olhares e sorrisos entre os dois, sem carinhos explícitos ou beijo. Por fim, depois de terminar com Misael (Tuca Andrada), Flávia (Maria Flor) aparecerá com uma namorada, Gabi (Fernanda Nobre), mas o romance também não será explorado.
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Zelito (Danilo Ferreira) e Wesley (Gil Coelho) viveram romance, mas sem carinho explícito
"Apesar da representatividade maior, o gay ainda é mostrado como aquela pessoa que 'dá pinta', que é motivo de chacota, ou muito superficialmente. Normalmente, não são personagens como um bancário, empresário, balconista, por exemplo, uma pessoa que pode constituir uma família e ter direito como qualquer outro", analisa Magalhães.
Alencar acredita que o núcleo em que os personagens homossexuais são apresentados e a forma como se relacionam está relacionado ao estilo de cada escritor, não à imposição de rótulos. "Qualquer tema abordado na história da ficção mundial é retratado com diferentes intensidades. É isso o que diferencia um autor de outro", opina.
Ápice e retrocesso
Os personagens gays ganharam espaço nas tramas globais nos últimos anos, chegando ao ápice em 2014, quando foi ao ar o tão esperado beijo entre dois homens, em Amor à Vida, de Walcyr Carrasco. Considerada um marco na TV, a sequência tinha tudo para abrir os caminhos da diversidade nas novelas.
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Cena histórica do beijo de Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) em Amor à Vida
Em Império (2014/2015), Aguinaldo Silva criou Claudio Bolgari (José Mayer), um empresário casado, pai de um filho homofóbico, que reprimia sua sexualidade para manter as aparências. O personagem ficou totalmente fora do estereótipo explorado normalmente no núcleo cômico, o que indicaria uma evolução para aprofundar mais a temática, mas, na sequência, veio o balde de água fria.
Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga ousaram ao colocar um casal de lésbicas idosas em Babilônia (2015), e, logo no primeiro capítulo, o beijo entre Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) mostrou que o público do horário nobre ainda não estava preparado para tanto.
A trama enfrentou rejeição e precisou ser modificada às pressas. Uma delas transformou Carlos Alberto (Marcos Pasquim), personagem que seria gay, em heterossexual convicto _ele até engatou um romance com a mocinha, Regina (Camila Pitanga).
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Beijo de Estela Nathalia Timberg) e Teresa (Fernanda Montenegro) em Babilônia foi rejeitado
Desde então, nada de beijo gay no horário nobre. A Regra do Jogo (2015/2016) teve o casal de lésbicas Úrsula (Júlia Rabello) e Duda (Giselle Batista), mas a temática voltou a ser abordada no núcleo cômico da trama. João Emanuel Carneiro até escreveu uma cena de selinho entre as duas, com frases ironizando a rejeição do público a Babilônia, mas foi cortada e não chegou a ser exibida.
Em seguida, outra polêmica envolvendo a inclusão de romance gay no horário nobre. Benedito Ruy Barbosa, autor de Velho Chico (2016), deu uma declarou homofóbica no lançamento da novela ao dizer que odeia "história de bicha".
"Pode existir, pode aceitar, mas não pode transformar isso em aula para as crianças. Tenho dez netos, quatro bisnetos e tenho um puta orgulho porque são tudo macho pra cacete", completou. A antecessora de A Lei do Amor foi a única trama das nove, desde Amor à Vida, que não teve nenhum personagem homossexual.
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