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Sarita Witt

Há 25 anos, personagem travesti confundiu o público em Explode Coração

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Floriano Peixoto com expressão preocupada em cena como a Sarita de Explode Coração (1995)

Floriano Peixoto em cena como a Sarita de Explode Coração (1995); personagem deixou público confuso

REDAÇÃO

Publicado em 28/6/2020 - 7h07

Ao longo de sua carreira como autora de novelas da Globo, Gloria Perez ganhou a reputação de sempre incluir questões sociais, dramas e temas que geram debate em suas tramas. Em 1995, ela criou para Explode Coração a personagem Sarita Witt (Floriano Peixoto), um homem que se portava como mulher. Na época, no entanto, a história não deixou claro a identidade de gênero e a orientação sexual de Sarita, o que confundiu o público.

Em 1995, as referências e a informação sobre diversidade e liberdade para que pessoas se autoconhecessem e se identificassem como bem entendessem eram muito mais escassas. Não existia sequer a sigla LGBTQ+ (um termo mais usado nas décadas de 1990 e 2000 era GLS --gays, lésbicas e simpatizantes).

Segundo o ator Floriano Peixoto, que estreava numa novela da Globo no papel de Sarita, a personagem não tinha o objetivo de levantar bandeira sobre sua sexualidade nem sua identidade de gênero.

"A idéia era viver o limite entre o homem e a mulher. Não queríamos definir como drag queen ou travesti. A melhor definição para Sarita é sua alma feminina", afirmou ele em uma entrevista à Folha de S.Paulo em novembro de 1995.

Divulgação/TV Globo

Sarita (Floriano Peixoto) se vestia com roupas femininas e se apresentava em casas noturnas

Na novela, Sarita se apresentava e se vestia de forma mais próxima à das mulheres: tinha cabelos compridos, usava acessórios, maquiagem e roupas femininas. Fazia shows em casas noturnas como drag queen. Seu grande drama era o fato de querer adotar uma criança HIV positivo, mas sofrer diversos preconceitos por isso.

No entanto, nada foi exibido em relação a romances dela ou até mesmo explicado sobre o que é ser travesti, o que é ser drag queen e como isso não tem necessariamente a ver com sentir atração sexual por outros homens ou querer mudar de sexo.

Consequentemente, o público não entendeu exatamente "o que era" Sarita, e a militância LGBTQ+ criticou a indefinição da personagem. A drag queen Isabelita dos Patins conversou com Gloria Perez para ajudar a construir a personagem, mas não concordou com tudo que foi ao ar. "Parece uma bicha louca, está afetado demais, agressivo e grotesco. É mais um travesti, porque se veste de mulher durante o dia", reclamou a performer à Folha.

Mas, para Jovana Baby, que naquela época era presidente da Astral (Associação de Travestis e Liberados), Sarita não era sensual e desenvolta o suficiente para uma travesti e não mostrava a realidade dessa população no Brasil. "É um gay no armário", alfinetou ao jornal.

O próprio Floriano Peixoto disse que gostaria que Sarita fosse declaradamente travesti e retratasse a homofobia, mas o conservadorismo e a hipocrisia no Brasil foram um empecilho. Ele acreditava que havia um temor por parte da Globo de que a personagem chocasse demais o público, provocasse repulsa e fosse tirada do ar.

"O Brasil não é igual à zona sul do Rio de Janeiro, onde tudo é assimilado rapidamente. Até agora, não houve sequer menção à vida amorosa ou sexual de Sarita, porque tudo tem que ser feito aos poucos", declarou.

Rejeição preconceituosa

De fato, a rejeição a personagens LGBTQs em novelas existiu até pouco tempo atrás. Um dos casos mais marcantes foi o das lésbicas Leila (Silvia Pfeiffer) e Rafaela (Christiane Torloni) em Torre de Babel (1997). O público não gostou do fato de elas serem um casal, e as duas saíram da novela de forma trágica e nada sutil: morreram durante a explosão de um shopping.

Já em 2015, a novela Babilônia exibiu logo no primeiro capítulo um beijo entre Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathália Timberg), que eram casadas havia anos. A novela fracassou, e a rejeição de parte do público ao casal gay foi um dos motivos.

Gloria Perez tentou emplacar um casal gay dez anos depois de Explode Coração, em América (2005). No último capítulo, havia muita expectativa em relação ao que seria o primeiro beijo entre dois homens em uma novela das nove, mas a novela terminou sem o gesto entre Junior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro), para frustração de elenco e público --a cena até foi gravada, mas ficou no chão da sala de edição.

A autora teve mais sucesso ao explorar a diversidade de gênero e orientação sexual em A Força do Querer (2017). A personagem Ivana (Carol Duarte) se descobriu transexual ao longo da novela, e sua transição de mulher para homem gerou muita repercussão positiva.

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