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PÁGINAS DA VIDA

Há 15 anos, Globo chocava o público ao exibir relato de masturbação em novela

REPRODUÇÃO/YOUTUBE

Nelly da Conceição, com expressão séria, em depoimento que deu à novela Páginas da Vida (2006)

Nelly da Conceição, a mulher que deu o depoimento polêmico à novela Páginas da Vida (2006)

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 10/7/2021 - 6h25

Há exatos 15 anos, estreava na Globo a novela Páginas da Vida (2006), de Manoel Carlos. A Globo implementou uma iniciativa diferente: ao final de cada capítulo, era exibido um depoimento de uma pessoa real, anônima, que contava uma história pessoal relacionada a algum tema retratado no capítulo. Os relatos podiam ser de amor, de superação ou de... Masturbação. Este especificamente fez muito barulho e causou polêmica. 

Em 15 de julho de 2006, na semana de estreia de Páginas da Vida, foi ao ar o depoimento de Nelly da Conceição. A mulher, então com 68 anos e 17 filhos, contou a história de como só conheceu o prazer sexual aos 45.

Apesar de ser uma época já com bastante liberdade sexual, em que inclusive as personagens da novela apareciam em cenas sensuais, com direito a nudez e striptease, a forma espontânea e até ingênua com que Nelly contou sua inusitada história chocou e divertiu muitos telespectadores.

A mulher relatou que não sabia o que era ter um orgasmo, até que, numa noite, ouvindo uma música de Roberto Carlos, teve novas sensações e acordou no dia seguinte "toda babada".

"Esse negócio das pessoas dizerem que têm que gozar junto, que é isso que faz neném, é tudo mentira, porque fiquei sem gozar dos meus 14 aos 45 anos. Pra mim era tudo normal… O homem terminava, e eu também", começou ela em seu depoimento.

"Eu colecionava discos do Roberto Carlos e, aos 45 anos, ganhei um LP dele. Botei na vitrola a música Côncavo e Convexo e fui dormir. Quando acordei, estava com a perna suspensa, a calcinha na mão e toda babada. Comentei com as amigas, elas disseram: 'Você gozou!'. Aí é que vim saber o que era gozo. Moral da história: sou uma mulher de 68 aos, que homem pra mim não faz falta, eu mesma dou meu jeito", concluiu.

A história foi muito comentada pelo público, e viralizou em um momento em que as redes sociais não eram nada comparadas ao que são hoje. O caso, no entanto, rendeu problemas para Nelly e para a Globo.

Exposição negativa

A ideia de exibir depoimentos de pessoas reais ao final de cada capítulo surgiu do diretor Jayme Monjardim. Ele passou dias frequentando restaurantes, bares, lojas e praias do Leblon, bairro do Rio de Janeiro onde se passavam as novelas de Manoel Carlos, e achou que seria interessante dar visibilidade às histórias de vida dos moradores daquele lugar.

"Nossa proposta é mostrar que a vida de pessoas reais também pode ser um capítulo de novela. É sempre surpreendente a força e a verdade com que elas falam de si", disse o diretor em entrevista à revista Istoé. Manoel Carlos aprovou a iniciativa, e antes mesmo de a novela ir ao ar vários depoimentos já haviam sido gravados.

Mas autor, diretor e a emissora admitiram que houve um certo excesso no depoimento de Nelly. "Deveria ter sido editado, com cortes em algumas palavras, mas acabou passando sem que fizéssemos esses cortes", declarou o autor ao Estadão.

A fã de Roberto Carlos passou por dificuldades em sua vida após a exibição de sua história. Em entrevista ao programa A Tarde É Sua, da RedeTV!, ela disse que perdeu o emprego de babá na casa em que trabalhava havia oito anos por causa do depoimento.

“Eu tinha uma vida muito tranquila, nunca dependi de ninguém, agora perdi o emprego por causa disso. Minhas contas estão todas atrasadas, nunca passei por isso. Eu dei um depoimento de uma hora e eles exibiram essa parte, eu não sabia que iria dar essa confusão", lamentou.

"Aconteceu tudo isso porque falei todas essas coisas da minha vida no [linguajar] popular. Se fosse numa linguagem mais difícil, ninguém falaria nada. Se eu aparecesse como traficante ou roubando, tudo bem, mas eu falei sobre a minha vida. O Manoel Carlos viu esse vídeo, ele poderia ter cortado isso, ele sabe mais do que eu sobre essas coisas", disse ela.

Nelly chegou a entrar com ação judicial contra a Globo, pedindo que a emissora se retratasse e exibisse os 90 minutos de sua entrevista, na íntegra. O que nunca chegou a acontecer.

Mas, a partir do que aconteceu no caso dela, a Globo passou a avaliar mais criteriosamente os depoimentos exibidos nos finais dos capítulos. Manoel Carlos disse que recebeu muitas mensagens de aprovação ao relato corajoso daquela mulher, mas se desculpou com quem se sentiu ofendido.

"Lamento muito que algumas pessoas tenham se chocado e ficado constrangidas. Entendo perfeitamente as razões que elas apresentam. Os que protestaram merecem, neste momento, mais atenção do que aqueles que eventualmente gostaram. E a eles, portanto, peço desculpas pela falta involuntária", declarou ao Estadão.

O depoimento de pouco mais de um minuto de Nelly continua disponível no YouTube. Páginas da Vida nunca foi reprisada e não está disponível no Globoplay.


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