VINICIUS COIMBRA
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Vinicius Coimbra, diretor demitido da Globo após acusações de racismo; ele deu sua versão do caso
Publicado em 27/2/2023 - 12h15
Atualizado em 27/2/2023 - 13h12
O diretor Vinicius Coimbra, demitido da Globo em março de 2022 após acusações de racismo nos bastidores da novela Nos Tempos do Imperador (2021), deu sua versão sobre o caso. Ele admitiu ter cometido erros ao lidar com atores negros do elenco, mas negou ter feito segregação e privilegiado atores brancos.
Coimbra ainda revelou que houve tentativa de fazer um acordo financeiro com as atrizes Roberta Rodrigues, Cinnara Leal e Dani Ornellas, como forma de compensação pela situação que passaram. Mas, segundo ele, o valor pedido pelas artistas foi muito alto, e por isso não houve acordo.
O diretor deu entrevista à colunista Cristina Padiglione, da Folha de S.Paulo, na qual contou que conversou com advogados das atrizes, para que pudesse haver um entendimento sobre sua responsabilidade no caso.
"Entretanto, durante essa conversa, houve um pedido de reparação financeira, partindo deles, que estava além das minhas possibilidades. Dias depois, devolvemos uma contraproposta que julgamos proporcional à minha parcela de responsabilidade e condizente com a prática judicial brasileira no tema de dano moral. Tudo para tentar compor esse dano de relação, reconhecido por mim como existente e por eles como não-intencional. Nossa contraproposta não foi aceita, e há oito meses não temos mais contato", revelou.
O diretor foi demitido sob a justificativa de assédio moral --uma questão trabalhista que engloba, entre outras práticas, as ofensas raciais. Coimbra foi acusado por atores negros, principalmente pelas três atrizes, de dar tratamentos diferentes aos negros e aos brancos que faziam parte do elenco da novela.
As atrizes alegaram que Coimbra e sua equipe tinham falas preconceituosas e que fizeram segregação entre os atores. Em documentos, inclusive, eles dividiam as pessoas entre elenco branco e elenco negro. Até camarins separados havia nos estúdios.
Sobre a questão dos camarins, Coimbra se defendeu: "A distribuição de camarins, definitivamente, não é atribuição do diretor artístico. Nem a ordem de caracterização na sala de maquiagem, no refeitório, a elaboração dos diversos protocolos de segurança e outros inúmeros procedimentos que envolvem a produção de uma novela".
De qualquer forma, quando os artistas me trouxeram estas queixas, levei-as aos departamentos responsáveis. Especificamente sobre os camarins, o que me foi explicado na época era que o critério de distribuição se relacionava com o número de cenas que determinado artista gravava naquele dia, a dificuldade de locomoção dos figurinos e a proximidade da porta do estúdio. Sobre a política salarial da empresa, como diretor artístico, não tinha nenhum acesso.
Ele acredita que errou ao ouvir as queixas dos atores negros e criar grupos só com eles (sem a presença dos atores brancos) para falar sobre o assunto. "Criei um grupo com os artistas negros e a supervisora de texto intitulado Diálogos, um canal direto para que pudessem trazer mais rapidamente qualquer problema nos bastidores, ou sugestões ao texto, caso quisessem, sem nenhuma obrigação", falou.
"Explico isso em mensagens no grupo. Naquele momento, tentei fazer o que estava ao meu alcance, tanto na esfera do que era minha responsabilidade quanto no que diz respeito a terceiros. Tenho inúmeras mensagens no grupo tentando conciliar e aliviar os desconfortos", disse Coimbra.
"Tentei cuidar dos artistas também através da obra, para que todos fossem felizes com seus personagens. Mas hoje entendo que errei ao ter uma conversa somente com artistas negros e também ao criar um grupo com eles. O que para mim era um cuidado, para eles pode ter sido um incômodo. Pedi-lhes desculpas por isso durante a novela, algumas vezes", afirmou.
Vinicius Coimbra afirmou que não está respondendo a qualquer processo e se esquivou ao responder se acha que foi racista, mas ponderou sobre achar necessária uma revisão de atitudes cometidas por pessoas brancas na sociedade.
Todos nós, pessoas brancas, historicamente privilegiadas, podemos ser racistas em algum momento, mesmo sem perceber. São revisões que precisam ser feitas, de atitudes conscientes e inconscientes. Vivemos num sistema de privilégios herdado da época escravagista que favorece as pessoas brancas em prejuízo das pessoas negras há séculos. Se você se beneficia desse sistema, sem fazer nada para mudar, você está sendo racista.
As atrizes Dani Ornellas e Roberta Rodrigues enviaram comunicado à Folha, por meio de seus advogados, sobre como estão lidando com o caso. "Medidas jurídicas estão sendo tomadas, e no momento oportuno nos pronunciaremos", disseram. A atriz Cinnara Leal não se pronunciou.
A Globo comunicou que não se pronuncia sobre questões jurídicas e relacionadas a compliance, mas fez um adendo:
"A empresa reitera que respeita a diversidade e repudia qualquer tipo de intolerância e preconceito. A fim de manter seu ambiente corporativo livre de discriminação, a empresa conta com um sistema de compliance atuante, com treinamentos de conscientização frequentes de seus colaboradores e um código de ética que proíbe a discriminação e pune severamente as violações apuradas.
Mas reconhecemos que, como ocorre em todos os segmentos da sociedade, há muito a avançar no caminho da diversidade, para além das rigorosas regras de compliance que praticamos no nosso dia a dia a esse respeito. Desde o mencionado episódio, temos aperfeiçoado nossos processos internos, buscando tratar de forma mais eficiente esta e outras temáticas sensíveis, garantindo que sua abordagem contribua para o avanço no caminho da diversidade, preservando a sensibilidade do público e de nossos colaboradores".
Coimbra afirmou que, após a situação em Nos Tempos do Imperador --que ele chamou de "mobilização"-- vir à tona, ele foi alvo de muitas críticas nas redes sociais. "Minha família, como um todo, foi bastante atingida pelos acontecimentos, isto foi o pior. Sofremos ameaças, prejuízos à saúde, morais, financeiros... O tribunal da internet, das redes sociais não está entre os mais justos", declarou.
O diretor também contou que perdeu trabalhos por causa do episódio. Mas ressaltou que recebeu também mensagens de carinho de profissionais da Globo.
"Infelizmente, algumas pessoas que não me conheciam acreditaram nas falsas notícias que foram publicadas. É mais fácil silenciar do que ouvir uma pessoa, evitar do que averiguar os fatos. Por isso, tive projetos cancelados e perdi trabalhos importantes. Por outro lado, muitas pessoas sabem quem eu sou e novas quiseram saber, a partir da minha disponibilidade", disse.
Ele deixou claro que procurou aprender sobre o tema, para não cometer os mesmos erros: "Sinto que estou mais preparado, imbuído da experiência que passei. Estudei melhor o tema para compreender as questões envolvidas. Fiz cursos sobre racismo, vi séries, palestras, li livros, ouvi podcasts, conversei com pessoas... Há um vasto conteúdo para quem quer se informar. Uma sociedade mais justa passa, necessariamente, pela conscientização das pessoas".
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