CRÍTICA
Maurício Fidalgo/TV Globo
Marina Ruy Barbosa, Romulo Estrela e Bruna Marquezine em cena de Deus Salve o Rei: não colou
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 21/7/2018 - 6h28
A pouco mais de uma semana de seu fim, marcado para o dia 31, Deus Salve o Rei prometeu muito mais do que entregou. O interesse inicial despertado pela temática medieval se esvaiu assim que a história começou. Com uma atuação robótica de Bruna Marquezine e um casal de mocinhos apáticos, o conto de fadas simplesmente não empolgou.
Deus Salve o Rei, a bem da verdade, também teve alguns méritos: a produção, a edição e os efeitos visuais foram impecáveis. Mas isso acabou ofuscado pela narrativa do folhetim, que ficou perdida entre o conto de fadas batido da plebeia que vira nobre e as guerras dos reinos da fictícia Cália.
Confira os fatores que tornaram Deus Salve o Rei insossa aos olhos do público:
Trio central
A primeira vilã na carreira de Bruna Marquezine gerou no público a curiosidade de ver o desempenho da atriz, sempre muito associada a mocinhas românticas e choronas. Mas Bruna parece ter se inspirado na escola Lívia Marini (Claudia Raia, em Salve Jorge, de 2012) de vilãs, confundiu frieza com atuação robótica e o desastre começou a se armar.
O diretor da novela, Fabrício Mamberti, assumiu o erro pela composição da vilã, e Bruna corrigiu seu trabalho, mas o estrago já estava feito. Faltou à vilã o carisma necessário para fazer com que o público se aproximasse de Catarina.
Romulo Estrela assumiu o papel central depois que Renato Góes se desentendeu com o diretor e pediu para sair. Em sua estreia como protagonista, o ator não fez feio, mas também não brilhou. Tal qual o rei Afonso a que deu vida, passou apático.
Já Marina Ruy Barbosa não fez nada além do esperado. Até porque Amália é o tipo de mocinha água com açúcar, sem maiores traços revolucionários ou exigências interpretativas. Um ponto importante sobre a atriz: ela precisa descansar a imagem com urgência, principalmente porque logo mais aparecerá com destaque em O Sétimo Guardião, próxima trama das nove.
joão cotta/tv globo
Johnny Massaro e Tatá Werneck tentaram, mas não levaram humor para Deus Salve o Rei
Humor em baixa
Nem mesmo Tatá Werneck (Lucrécia), sempre tão à vontade em papéis cômicos, conseguiu injetar a dose de humor necessária para que Deus Salve o Rei fosse um pouco mais divertida. Um riso aqui e outro acolá só foram possíveis porque a atriz tem bagagem e fez uma ótima parceria com Leandro Daniel (Petrônio) e Daniel Warren (Orlando), os escudeiros atrapalhados de Rodolfo (Johnny Massaro).
Porém, a graça de Tatá não foi nada comparado a seus trabalhos anteriores, como a periguete Valdirene de Amor à Vida (2013) e a patricinha Fedora de Haja Coração (2016). Sisuda demais, a trama deixou o humor de lado e não soube rir de si mesma. Pior ainda, não conseguiu fazer o público rir junto com ela.
Redes sociais x audiência
Apostar que as duas atrizes brasileiras com mais seguidores nas redes sociais fossem capaz de transferir público para a novela foi um erro de estratégia tremendo. Fosse assim, Deus Salve o Rei não teria passado pelos perrengues de audiência que passou. E que o susto sirva de lição para outro programa da casa, o Vídeo Show, que parece adotar a mesma linha com o novo trio de apresentadoras.
Reviravoltas
Guerras entre os reinos e pestes mortais serviram como uma forma de "limpeza" para Deus Salve o Rei entrar nos eixos, eliminando personagens e adicionando outros, um recurso que deixou visível a fragilidade da história.
Os desdobramentos da origem de Catarina também foram difíceis de engolir. A princesa vilã na verdade é plebeia, irmã da mocinha que tanto odeia. Não bastasse a infeliz coincidência, a revelação de que Catarina é filha de Brice (Bia Arantes) também é inverossímil por uma simples razão: a diferença de idade entre as atrizes é de apenas dois anos. Se o parentesco estava previsto desde sempre, por que não houve a escalação de uma atriz mais velha para o papel da bruxa?
divulgação/tv globo
Marco Nanini e Alexandre Borges em cena da novela: presença de mais veteranos fez falta
Novinhos
Faltou a Deus Salve o Rei um elenco veterano de peso que fosse capaz de dar estofo à história. Um dos mais experientes, Caio Blat (Cássio) ganhou um papel pouco importante e acabou deixando a trama antes do fim. Marco Nanini (Augusto) poderia suprir a carência, mas sumiu por um tempo da história.
A entrada de novos personagens, a partir da alterações promovidas pela supervisão de texto de Ricardo Linhares, tentou corrigir esse erro, e a chegada de Alexandre Borges (Otávio) e Stênio Garcia (Bartolomeu) deu um pouco de tempero a um elenco marcado por rostos desconhecidos, para não dizer inexpressivos.
Menção honrosa
O grande destaque da novela (e único personagem realmente bom) foi Rodolfo. Mesmo coadjuvante, Johnny Massaro soube aproveitar as chances que recebeu para crescer em cena, alternando momentos de tirania e fraqueza de seu nobre inconsequente sem comprometer a qualidade de seu trabalho.
No mais, Deus Salve o Rei até tentou surfar na onda medieval de Game of Thrones (HBO), mas o que chegou até o público brasileiro foi uma história frágil o bastante para ter sua força comparada a uma simples marolinha.
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