Cara e Coragem aposta na adrenalina, mas deixa a desejar no humor

Nova novela das sete da Globo, Cara e Coragem mostrou logo na primeira semana de exibição que ação não é algo que vai faltar em seus capítulos. Central na trama, o universo dos dublês contribuiu para a sensação de excesso de adrenalina que a história passa, mas, ao menos até agora, o principal ingrediente do horário, o humor, fez falta.

Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado) são dois dublês que arriscam a vida em sequências cinematográficas que vão de lutas até explosões. A atuação impecável da dupla chamou a atenção de Clarice (Taís Araujo), uma empresária poderosa que propôs a eles o resgate de uma pasta que guardava o conteúdo de uma pesquisa revolucionária. Mas Clarice morre em uma emboscada, colocando os atores no centro de uma investigação policial.

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O mistério sobre a morte de Clarice é potencializado com o surgimento de uma sósia da empresária, Anita, um ponto da narrativa que dá ainda mais fôlego a Cara e Coragem. Clarice é vítima ou vilã dessa história? E Anita existe mesmo ou é a própria Clarice se passando por outra pessoa? Com a personagem mais desafiadora da novela em mãos, Taís Araujo soube compor as duas personalidades com as nuances de pequenos gestuais e até no tom de voz.  

Ainda no núcleo principal, Ítalo (Paulo Lessa) aparece como mais um elemento para embaralhar as peças da investigação. Ex segurança de Clarice, Ítalo teve com a patroa um caso e é um dos maiores interessados em desvendar sua suposta morte, mas o personagem também guarda seus mistérios. A escalação de Paulo Lessa para um papel central se mostra acertada. O ator traz frescor às novelas, quebrando a repetição de rostos tão comum ao gênero.

Já entre Paolla Oliveira e Marcelo Serrado há uma pequena discrepância. A atriz está correta, mas é preciso reconhecer que a personagem também não exige muito. Serrado, por sua vez, tem a difícil tarefa de quebrar a chatice e um certo ar de arrogância do protagonista para conquistar a simpatia do público. A química entre eles ainda não explodiu e é difícil fazer um possível romance entre os dois pegar fogo em meio a tanta correria em que sempre estão metidos.

Mas o principal problema de Cara e Coragem, ou um trunfo que a autora Claudia Souto ainda guarda escondido, é a falta de humor. As piadas no texto muitas vezes não funcionam, e as situações cômicas acabam ficando em segundo plano diante de tantas cenas de ação. 

O personagem que melhor transita pela terreno da comédia é Duarte (Kiko Mascarenhas), um faz-tudo que vive uma vida dupla se passando pelo americano Bob Wright. Acobertado pela melhor amiga Jéssica (Jeniffer Nascimento), Duarte/Bob se mete em situações que até podem render um riso ou outro, mas as piadas ali são um tanto pueris. Há ainda o entrave da língua, visto que vire e mexe o personagem sai falando inglês, o que pode não ser compreendido por boa parte do público. 

Cara e Coragem tem um caminho enorme para percorrer e correções no percurso ainda são possíveis. Mas já deu para perceber que um pouquinho de graça não fará mal nenhum à trama. Por enquanto, o que foi apresentado se mostrou um produto perfeito para os insones da madrugada no horário alternativo de exibição, uma tentativa da emissora de conquistar para as telenovelas um público mais jovem que fica até tarde acordado. 

Cara e Coragem é uma novela escrita por Claudia Souto, a mesma autora de Pega Pega (2017). Dirigido por Natalia Grimberg, o folhetim aborda o universo dos dublês, mas mergulha em um mistério após o assassinato de Clarice.

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