Menu
Pesquisar

Buscar

Facebook
X
Instagram
Youtube
TikTok

COLUNA DE MÍDIA

Por que o Globoplay está distante do lucro, mas a Globo não tem pressa?

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Marjorie Estiano na série Sob Pressão

Distante do lucro, Globoplay vai aumentar investimento em séries originais como Sob Pressão

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 8/6/2022 - 6h30

Os números de crescimento do Globoplay são impressionantes. Este ano a plataforma cresceu mais de 15% sua base de assinantes em comparação a 2021. Vale lembrar que o serviço de streaming da Globo havia crescido 79% em 2020 em relação a 2019, e outros 32% em 2021.

A Globo não revela o número de assinantes, mas o aumento dos investimentos da emissora no Globoplay dão uma dimensão da relevância do negócio e seu crescimento.

Além disso, o streaming da Globo cresceu no período em que diversas novas plataformas internacionais desembarcaram no Brasil e que a Netflix perdeu assinantes, o que torna o feito da plataforma brasileira ainda mais relevante. 

Entretanto, o Globoplay está distante do lucro. A expectativa da empresa é que isso aconteça em algum momento entre 2025 e 2026, se tudo correr conforme o planejado. "Ainda gastamos uma enormidade de dinheiro com conteúdo que não é paga pela nossa base atual de assinantes", diz um executivo da Globo.

Mas é interessante notar que para a empresa perder dinheiro com o Globoplay é uma escolha estratégica.

Clube dos gigantes locais

O plano da Globo é colocar o Globoplay no seleto clube dos gigantes locais. Um punhado de empresas espalhadas pelo mundo que regionalmente são grandes o suficiente para concorrer com as internacionais Netflix, Disney+, Amazon Prime, Apple+ e HBO Max entre outras.

Nesse clube de gigantes locais está a Vix, streaming da Univision-Televisa, do México; o Stan, da Austrália; a RTL, da Alemanha; o iFlix, da Malásia; o Voyo do Leste Europeu; a ITV, do Reino Unido e uma dezena de plataformas locais que se espalham pelo mundo.

O Globoplay, assim como esses outros gigantes locais, foca seus investimentos em seus próprios países para ser um campeão de conteúdo regional. Ou seja, mesmo que a Netflix e as multinacionais produzam nesses países, os gigantes locais querem ter ainda mais conteúdo nacional do que qualquer competidor.

A aposta é que em mercados grandes e relevantes o suficiente, como no caso do Brasil, haja espaço para um player local. Para a Globo, não existe cenário em que esse player não seja ela mesma. 

Maior produtor de conteúdo brasileiro

Algumas regiões podem até ter um mercado grande o suficiente para suportar mais de um gigante local. O Reino Unido, por exemplo, tem a BBC, além da ITV. A França tem três potenciais streamings com o mesmo perfil. Fusões e aquisições de grupos locais são uma tendência, e a venda desses para gigantes globais ou mesmo novas alianças também deve crescer.

Alguns países começaram a proteger o mercado local de TV e streaming com cotas e restrição a plataformas internacionais. Em maio a Dinamarca aprovou uma lei que obriga serviços globais de streaming como Netflix, Amazon e Disney+ a pagarem uma taxa de 6% de suas receitas no país para apoiar a produção de TV local. No Brasil não existe legislação semelhante.

Nesse contexto, consolidar o Globoplay como líder local absoluto é essencial. Isso explica a Globo abrir mão do lucro no seu serviço de streaming e usar o dinheiro da TV e outras áreas para investir no digital. 

No primeiro trimestre deste ano, a Globo faturou R$ 3,2 bilhões e lucrou R$ 367 milhões. O lucro poderia ter sido ainda maior não fossem os massivos investimentos em conteúdo.

Boa notícia para fãs de dramaturgia 

Ao investir para ser a maior produtora de conteúdo brasileiro, a Globo realizará um expressivo aumento de investimento na área, resultando em mais produções nacionais no Globoplay e demais plataformas da empresa. 

Passada a pandemia e após uma dura reestruturação que cortou custos e otimizou suas operações, a Globo vai entrar em uma nova fase. A ideia é engatar a quinta marcha e acelerar a entrega de conteúdo brasileiro. 

As plataformas da Globo vão lançar 194 títulos com o mercado independente em 2022, conforme adiantou Erick Brêtas, diretor de Produtos Digitais e Canais Pagos da Globo, no painel Primetime Globo: Do Plim ao Play, aqui tem Brasil pra todo mundo, que aconteceu em abril.

Brêtas disse durante o evento que "os canais pagos respondem pela maior parte desse volume, com 129 lançamentos planejados para 2022. Na Globo Filmes, serão 44 lançamentos com primeira janela nos cinemas, sendo 28 obras de ficção e 16 documentários. No Globoplay, serão 17 produções originais desenvolvidas com produtoras independentes". 

Existem ainda os conteúdos feitos pela própria Globo em suas múltiplas plataformas e que podem se tornar atrações para o Globoplay.

Então não teve lucro no Globoplay?

Alguns veículos publicaram na última semana que o Globoplay alcançou o lucro. A informação equivocada provavelmente surgiu a partir do erro de interpretação na leitura do balancete da Globo.

É impossível ler as informações do Globoplay no consolidado das receitas de conteúdo da Globo. Está tudo misturado ali. Globoplay, canais pagos, Premiere, distribuição direta ao consumidor e distribuição via operadoras. Ou seja, outras áreas da Globo lucram, mas não o streaming da Globo neste momento. 

Se tudo correr conforme o planejado, o lucro do Globoplay chegará em três ou quatro anos. Atualmente, todas as grandes plataformas de streaming dão prejuízo, a única exceção é a Netflix. Disney e HBO Max inclusive anunciaram cortes de custos para tentar acelerar a chegada do lucro.

Mas a Globo não tem pressa, o plano é de longo prazo, mais importante que o lucro é a liderança da empresa também no digital. Enquanto o número de assinantes seguir subindo, a Globo avalia que está mais perto de seu objetivo de ser uma gigante local de conteúdo brasileiro.

Hoje o Globoplay tem uma das maiores taxas de crescimento do streaming no mundo. Então, a estratégia está funcionando e o prejuízo é parte do plano.


Mais lidas


Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.