DO AMOR AO ÓDIO
FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Tonico (Alexandre Nero) em Nos Tempos do Imperador: castigo do vilão como purgação do público
O bigode talvez tenha sido o principal disfarce para Tonico (Alexandre Nero) não dar tão na cara de que é o alter ego de Jair Bolsonaro em Nos Tempos do Imperador. Mas a trajetória do vilão da novela das seis da Globo se assemelha bastante à do presidente --eles foram da preferência à rejeição justamente por serem espelhos do próprio público.
O deputado deitou e rolou como um dos personagens mais bem aceitos da primeira fase do folhetim de Alessandro Marson e Thereza Falcão. Ele caiu nas graças dos telespectadores mesmo já proferindo impropérios racistas contra Samuel (Michel Gomes) e misóginos contra Pilar (Gabriela Medvedoski).
Um processo de identificação que, aliás, parece muito com o que assegurou parte dos votos de Bolsonaro no primeiro turno das eleições presidenciais em 2018. Tonico igualmente se beneficiou do politicamente incorreto para dar vazão a preconceitos compartilhados pelo público, mas que as pessoas tinham vergonha de assumir. Ou, ao menos, não tinham coragem.
O humor, em um primeiro momento, ajudou a suavizar as barbaridades que saíam da boca do antagonista interpretado por Alexandre Nero. A audiência, então, se viu refletida em um espelho nas atrocidades disfarçadas de sinceridade ditas pelo rival de Pedro (Selton Mello).
O apego por Tonico, porém, foi se diluindo ao longo do tempo, ainda que ele não tenha necessariamente pisado no acelerador ao longo dos 153 capítulos exibidos até aqui. O crápula é exatamente o mesmo homem que foi capaz das piores atrocidades ao ser abandonado por Pilar na primeira semana.
Dolores e Tonico na novela das seis
Uma enquete do Notícias da TV apontou que apenas 3,77% dos espectadores gostariam de ver o malandro se redimir dos seus erros no último episódio. Outros 24,7% querem que ele morra de forma trágica, mas a maioria até prefere um castigo mais brando: ao todo, 69,78% o aguardam na prisão.
A mudança representa o incômodo do próprio público em ver seus preconceitos refletidos durante cinco meses a fio na figura do bigodudo. Em suma, as pessoas foram percebendo que o personagem que as divertia ao chamar Dolores (Daphne Bozaski) de "jacu" era o mesmo capaz de lhe dar uma surra de cinta.
O mau-caráter então passou a apertar o calo do brasileiro, que, por muitas vezes, nega o próprio racismo e machismo. Qualquer cidadão criado em uma sociedade construída em cima da escravidão e do patriarcado eventualmente vai se pegar diante do preconceito. A questão crucial é se vai dar asas a ele ou reprimi-lo.
Tonico, por muitas vezes, parece o quadro mágico que possibilita ao protagonista de O Retrato de Dorian Gray (1890) permanecer belo e jovem durante décadas. Os excessos caem sobre as costas do indivíduo preso na pintura, que envelhece e se desfaz no lugar do homem de carne e osso.
Dorian, no romance de Oscar Wilde (1854-1900), não aguenta encarar a imagem e destrói o quadro, pondo um fim ao feitiço e à vida. Tonico provoca a mesma ojeriza no público que, ao odiar se ver refletido na televisão, também quer ir à forra --para, no castigo do vilão, purgar os próprios defeitos.
Nos Tempos do Imperador se passa cerca de 40 anos depois dos acontecimentos de Novo Mundo (2017). A novela terminará em 5 de fevereiro, com a reprise do último capítulo, dando lugar à exibição da inédita Além da Ilusão.
Além dos spoilers, o Notícias da TV também diariamente publica os resumos da novela das seis da Globo.
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