MOMENTOS DE TENSÃO
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Patricia Pillar em O Rei do Gado; ela fez parte do núcleo dos sem-terra na novela da Globo
A novela O Rei do Gado fez sucesso em 1996, mas também fez com que a Globo e o autor Benedito Ruy Barbosa conquistassem alguns inimigos. As representações que a trama fez do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e de políticos gerou críticas, ataques e até uma ameaça.
O folhetim retratou as riquezas do Brasil rural, da criação de gado. Por outro lado, também mostrou a luta dos que buscam um pedaço de terra para trabalhar, dos que sonham com a reforma agrária --integrantes do MST.
Essa pauta estava em alta na época, uma vez que O Rei do Gado estreou dois meses após o assassinado de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás, no Pará. O crime teve grande repercussão no noticiário.
Quando cenas de integrantes do MST começaram a aparecer na novela, o então diretor José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ficou furioso.
"Um dia, o Boni me ligou muito bravo porque eu coloquei os sem-terra na trama. Ele queria saber o porquê de não aparecer essa informação na sinopse", disse Benedito Ruy Barbosa, em depoimento ao livro Biografia da Televisão Brasileira. O autor se comprometeu a tratar a questão dos sem-terra com cautela e teve permissão para continuar com os personagens na novela.
Ainda assim, houve quem se zangasse com a repercussão do MST e mandasse ameaça para Ruy Barbosa. O novelista recebeu um cartão em sua casa, sem assinatura, com os dizeres: "Parabéns pelo que você arranjou. Sou fazendeiro e se aparecer alguém aqui como os de sua novela, aumento o muro três metros para ninguém sair mais".
Políticos também não gostaram de suas representações na novela. Uma cena em especial marcou O Rei do Gado: o senador Caxias (Carlos Vereza) fazia um discurso emocionante e impactante sobre os sem-terra, enquanto seus colegas pareciam não se importar. Um falava ao telefone, outro lia jornal e outro cochilava.
Ney Suassuna, então senador pela Paraíba, não gostou do que viu. Ele usou a tribuna do Senado Federal para protestar contra a novela, dizendo que a trama fazia "distorção da realidade". Segundo ele, a cena induziu a população a acreditar que não havia congressistas honestos no país.
Suassuna foi senador em três mandatos, os dois primeiros entre 1995 e 2007 e o terceiro entre 2020 e 2021. Em sua trajetória política, constam acusações de envolvimento com máfia das ambulâncias, máfia dos sanguessugas e de tráfico de influência. Ele não chegou a ser condenado ou comprovadamente relacionado aos delitos destes casos.
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