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CRÍTICA

Alternativa ao besteirol de Verão 90, Topíssima não trata o público como idiota

Reprodução/Record

Nem atores fora do tom, como Maurício Mattar (Carlos), tiram a graça de Topíssima na Record - Reprodução/Record

Nem atores fora do tom, como Maurício Mattar (Carlos), tiram a graça de Topíssima na Record

RAPHAEL SCIRE

raphascire@gmail.com

Publicado em 15/6/2019 - 5h47

A novela Topíssima, da Record, esbanja motivos para ser celebrada. Primeiro porque abre uma alternativa à péssima trama concorrente, Verão 90, da Globo. Segundo por representar um alívio na grade bíblica da dramaturgia da emissora de Edir Macedo. Por fim, mostra uma evolução da Record no quesito produção, ainda que esteja a cargo da Casablanca.

Ao mesmo tempo em que a novela tira a Record da liturgia da Bíblia, ao refrescar e renovar sua grade, Topíssima mostra a versatilidade do texto de Cristianne Fridman, que também assina Jezabel, a atual trama religiosa da emissora.

Os diálogos escritos por Cristianne não chegam a ter a ironia ou o apuro dos de Carlos Lombardi, para comparar com outro autor que já passou pela Record, mas também não tratam o público como idiota, a exemplo de Verão 90.

A novela também ganha pontos por causa de seus cenários caprichados, com iluminação finalmente acertada. Mal lembram produções da Record, o que por si só já é um ganho e tanto. Mérito aqui da direção de Rudi Lagemann.

Topíssima não é perfeita, é verdade. Suas tramas paralelas são bem ingênuas, com uma pegada Malhação, especialmente no núcleo universitário, sensação que fica ainda mais acentuada pelo excesso de rostos pouco conhecidos no elenco. As cenas são bobinhas, ainda falta a elas uma pitada de humor, mas existe ali uma boa história central a ser acompanhada.

Carismáticos, os protagonistas conseguem manter o interesse e a torcida do público, ainda que em uma trama para lá de manjada, a da mocinha rica e teimosa às voltas com um galã pobretão. O ingrediente que torna Topíssima interessante é que a empresária Sophia (Camila Rodrigues) e o taxista Antonio (Felipe Cunha), em meio ao amor, tentam provar a inocência de um crime que não cometeram. Mas as evidências e confusões em que os dois se metem levam a crer que estão mentindo.

A trama policial que se desenvolve a partir de então parece promissora e Topíssima tende a ganhar se investir mais nela do que no núcleo Malhação. Os entrechos do "veludo azul", a droga distribuída na universidade comandada por Sophia e que a incrimina, guardam o melhor da novela.

Embora a vilania da trama esteja clara --o tio de Sophia, PR (Floriano Peixoto), e o químico Taylor (Emílio Orciollo Netto)--, o interesse se volta em saber como o casal protagonista vai se livrar das acusações que pesam contra eles.

O elenco tem destaques e desastres. Cristiana Oliveira (Lara) sobe o tom no histrionismo da perua caricata e Maurício Mattar (Carlos) resvala na canastrice (dentro do esperado), mas no geral, em termos de atuação, não há um festival de caras e bocas, algo a ser comemorado.

Sílvia Pfeifer (Mariinha), num papel diferente do que comumente faz, convence, assim como Denise Del Vecchio (Madalena), uma das joias do elenco da Record, e Felipe Cardoso (Pedro), que novamente rouba a cena, agora como policial corrupto.

Dificilmente Topíssima será um estouro de audiência a ponto de incomodar a concorrência, em especial a Globo. Mas os números acima da atual trama bíblica deixam evidente que até os fiéis da Igreja Universal também gostam de variar o cardápio. A novela é um acerto e tanto na grade da Record e uma excelente alternativa ao festival de bobeiras apresentado em Verão 90.


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