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Mães superprotetoras como Adisabeba criam filhos com problemas sexuais

João Miguel Jr./TV Globo

Os atores Juliano Cazarré e Susana Vieira posam para foto em cenário de A Regra do Jogo - João Miguel Jr./TV Globo

Os atores Juliano Cazarré e Susana Vieira posam para foto em cenário de A Regra do Jogo

MAYARA SANTOS

Publicado em 29/10/2015 - 12h53

Personagem de Susana Vieira em A Regra do Jogo, Adisabeba vive se intrometendo na vida e nas escolhas de Merlô (Juliano Cazarré). Como não suporta as duas pretendentes do filho, Alisson (Letícia Lima) e Ninfa (Roberta Rodrigues), a mãe superprotetora faz de tudo para afastá-lo delas. Ela já até torceu para que o filho se tornasse gay, argumentando que "os gays são melhores filhos e fazem companhia para as mães". De acordo com especialistas ouvidos pelo Notícias da TV, esse tipo de interferência materna é negativa e pode resultar em um filho inseguro. Em alguns casos, a criança pode virar um adulto com problemas sexuais.

"Toda mãe, por natureza, preocupa-se em proteger o filho. O bebê é indefeso e precisa de atenção e cuidado para que possa sobreviver, porém algumas mães, por serem muito ansiosas, acabam exagerando. A Adisabeba é uma dessas mães que insistem em ver o filho como um ser incapaz de cuidar bem de si mesmo", afirma Vânia Calazans, psicóloga clínica formada pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A principal diferença entre uma mãe que se preocupa com o filho e uma superprotetora é que a segunda está sempre a postos, prestando atenção em todos os passos do filho. "Elas esquecem de si mesmas e passam a viver a vida do filho. Controlam o que eles fazem e interferem nas suas escolhas, impedindo que se tornem independentes", completa Vânia.

Esse tipo de comportamento faz com que a criança cresça insegura, já que não tem oportunidade de aprender com os erros. "Geralmente, os filhos criados por uma mãe superprotetora apresentam mais dificuldade para gerenciar frustrações e assumir responsabilidades, baixa estima e sentimentos de incapacidade, dificuldade de gerenciar suas emoções e dificilmente se veem capazes de gerir a própria vida e fazer boas escolhas", conclui.

Para o psicólogo Alexandre Bez, especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami e em ansiedade e síndrome do pânico pela Universidade da Califórnia, o excesso de proteção também pode desestruturar a vida sexual do filho.

"Uma mãe como Adisabeba consegue desestruturar a vida sexual do filho, pois ela começa a provocar situações em que se coloca na posição de vítima, pedindo para que o filho não saia com as pretendentes, por exemplo. O filho começa a se sentir culpado e pode encarar o sexo como um pecado, uma coisa errada, e aí acontece uma regressão, um choque entre a idade cronológica e mental, pois ele volta pra adolescência, mesmo sendo adulto", afirma.

Apesar de todas as interferências de Adisabeba, Bez acredita que Merlô não se deixa afetar pelo comportamento da mãe por ter uma estrutura psicológica definida. "Sem essa estrutura emocional, que é criada desde quando o bebê nasce até os sete anos de idade, o aparelho psicoemocional no que tange a sexualidade é danificado. Além disso, o filho não aprende a se impor e sempre acata o desejo da mãe, o que não é o caso do Merlô", afirma.

reprodução

Os psicólogos Vânia Calazans e Alexandre Bez; especialistas criticam a mãe superprotetora

Adisabebas da vida real

Bez afirma que a novela mostra com verossimilhança as atitudes de uma mãe superprotetora, mas acredita que os filhos têm como impor seus desejos para se desvencilhar desse comportamento.

"O filho tem que impor seu desejo, pois, do contrário, essa mãe terá cada vez mais liberdade sobre sua vida. Mas deve fazer isso sempre com sutileza e não com agressividade. Ele tem que mostrar que determinado espaço não deve ser ultrapassado pela mãe e que tem direito às suas aventuras, relacionamentos, pois não é mais criança. Ele tem que mostrar que não é uma marionete", explica Bez.

Vânia também indica aos filhos que buscam mais autonomia mostrar para a mãe que eles têm responsabilidade nas situações cotidianas. "Quanto mais responsável o filho for, menos argumentos a mãe terá para impedi-lo de adquirir autonomia. Falar de forma assertiva, mostrando confiança em si mesmo e agindo de acordo desconstroi as fantasias carregadas de medo que permeiam o imaginário de uma mãe superprotetora", acredita.

Para as mães que se identificam como superprotetoras e desejam mudar para melhorar o relacionamento com os filhos, Bez afirma que a terapia pessoal é o melhor caminho. "O primeiro passo é a conscientização, mas a terapia vai ajudar, pois vai buscar a história da mãe, identificar o que a levou a agir assim e não dar independência à criança. É importante entender que tipo de criação essa mulher teve, pois isso afeta, e muito, nessa questão", explica o especialista.

Vânia explica ainda que essa mãe precisará trabalhar sua insegurança emocional para entender que o filho é capaz de sobreviver sem ela. "Ela precisa aguentar ver o filho passar por dificuldades, sofrer, decepcionar-se e esperar que ele encontre caminhos que o levem a superar a situação, pois a melhor opção não é necessariamente aquela que ela imagina. Ao cuidar de sua insegurança, essa mãe estará cuidando muito mais de seu filho, pois estará contribuindo para que ele aprenda com seus erros e sinta que tem competência e capacidade de enfrentamento e superação", fala a psicóloga clínica.


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