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COLUNA DE MÍDIA

Twitter: O CEO Jack Dorsey saiu ou foi demitido?

REPRODUÇÃO/YOUTUBE

Jack Dorsey com barba grande e expressão séria

Jack Dorsey em entrevista; CEO do Twitter saiu da empresa na segunda-feira (29)

Guilherme Ravache

ravache@proton.me

Publicado em 30/11/2021 - 8h08

O Twitter anunciou na segunda-feira (29) que o CEO Jack Dorsey deixaria o comando da rede social que ajudou a fundar imediatamente. Parag Agrawal, membro do conselho e ex-diretor de tecnologia da empresa, foi nomeado como novo CEO, assumindo o posto no mesmo dia.

Dorsey permanecerá como membro do conselho, informou a empresa. A saída de executivo é o desfecho de anos de batalha do CEO com acionistas insatisfeitos com a maneira com que o executivo conduzia a empresa.

Ele era visto como pouco presente e um dos principais responsáveis pelo Twitter há anos ser subvalorizado em comparação a concorrentes como o Facebook e TikTok.

Mensagem de despedida de Dorsey

Agora, uma das questões que ronda o Vale do Silício é se o executivo saiu ou foi demitido. "Depois de quase 16 anos desempenhando cargos em nossa empresa... De cofundador a CEO, a presidente, presidente executivo, CEO interino a CEO... Decidi que finalmente é hora de ir embora", disse Dorsey em um comunicado divulgado na rede social.

"Decidi deixar o Twitter porque acredito que a empresa está pronta para seguir em frente com seus fundadores. Minha confiança em Parag como CEO do Twitter é profunda. Seu trabalho nos últimos dez anos foi transformador. Estou profundamente grato por sua habilidade, coração e alma. É sua hora de liderar."

Dorsey falou das armadilhas quando o fundador de uma empresa permanece durante muito tempo: "Fala-se muito sobre a importância de uma empresa ser liderada pelo fundador. Em última análise, acredito que isso é uma limitação severa e um único ponto de falha".

Pressão de investidores do Twitter

Mas o que mudou nesses 16 anos e por que a saída neste momento? O cofundador do Twitter, uma das figuras mais proeminentes do Vale do Silício, também é CEO da empresa de pagamentos digitais Square Inc. Sua divisão de funções e hobbies externos são alvo de críticas há tempos.

No ano passado, o fundo ativista Elliott Management pressionou o Twitter por mudanças, incluindo o possível ajuste do papel de Dorsey. Em maio, a Elliott Management aumentou sua participação no Twitter, comprando mais de R$ 1 bilhão em ações quando o valor da empresa caiu mais de 15% após um relatório com lucros fracos.

Segundo o Wall Street Journal, a plataforma afirmou em um documento entregue à comissão de valores mobiliários em novembro que atualizou seu plano de sucessão de CEO.

"O conselho, que incluía um representante da Elliott e Dorsey, discutiam os planos para que Dorsey renunciasse relativamente em breve". O executivo decidiu renunciar agora, depois que o Twitter lançou uma série de novos produtos nos últimos meses, disseram pessoas a par dos documentos.

Saída do CEO do Twitter surpreende

A movimentação causou surpresa no mercado. Jesse Cohn, sócio da Elliott, juntou-se ao conselho do Twitter, mas deixou o cargo em junho no que pareceu um sinal de que o fundo estava satisfeito com o progresso da empresa.

Mas, segundo o jornalista Casey Newton, "o problema era que Elliott havia estabelecido várias metas de crescimento agressivas para Dorsey. Segundo o acordo, o Twitter precisava aumentar sua base de usuários em pelo menos 20% em 2020, acelerar o crescimento da receita e ganhar participação de mercado como anunciante digital". Embora tenha feito algum progresso, a plataforma não está nem perto de atingir essas metas.

Dorsey pediu para sair ou foi demitido?

Em um artigo no site da Vanity Fair, Nick Bilton, autor de uma biografia sobre o Twitter, diz que a maneira como Dorsey deixou a empresa reforça a tese de que ele tenha sido demitido. 

"Embora um ex-funcionário de alto escalão do Twitter acredite que Dorsey pode realmente ter decidido renunciar por conta própria, o funcionário reconheceu que sua renúncia foi tratada de maneira muito peculiar. Em vez de haver um período de transição com a presença de Dorsey e um novo CEO, no qual Dorsey treinaria seu substituto, a troca está acontecendo imediatamente, o que o ex-funcionário disse ser muito 'estranho'".

Ainda segundo Bilton, "para outros, o mais revelador de que Dorsey provavelmente não teve muito a dizer sobre este assunto é que ele não está apenas deixando o cargo de CEO, imediatamente, mas que deixará o conselho do Twitter em maio. No passado, quando fundadores e CEOs se demitiam, eles costumavam ficar indefinidamente para ajudar a orientar os rumos de uma empresa, considerando seu próprio entendimento de um negócio".

Bill Gates permaneceu no conselho da Microsoft cerca de 20 anos depois de renunciar ao cargo de CEO, e só saiu quando o conselho abriu uma investigação sobre um affair anterior que ele teve com uma funcionária da empresa --o que foi considerado impróprio.

Eric Schmidt e Larry Page, que atuaram como CEOs do Google, permaneceram no conselho durante algum tempo depois de deixar o cargo (Page ainda está no conselho da Alphabet, empresa dona do Google). 

Mesmo o cofundador do Twitter, Evan Williams, permaneceu no conselho da empresa durante mais de uma década depois de ser afastado por Dorsey.

Dorsey, o sobrevivente corporativo

O anúncio da saída de Dorsey do conselho é emblemático, mas pode ser cedo para descartar um retorno do executivo. Não é a primeira vez que ele deixa um cargo e permanece no conselho. No passado, sempre encontrou maneiras de voltar ao comando.

Mas a chegada do fundo ativista Elliott mudou o jogo. O conselho do Twitter é basicamente formado por amigos de Dorsey que pouco ou nada fizeram apesar dos resultados medíocres da empresa em comparação a seus pares.

Outro problema do Twitter é sua relativa pequena base de usuários. Após uma série de novidades lançadas pela rede social este ano, o uso da plataforma --medido pelo uso ativo diário monetizável-- aumentou 13% ano a ano para 211 milhões no terceiro trimestre, superando o aumento de 11% no segundo trimestre.

Mas essa base de usuários permanece uma fração do tamanho das outras plataformas de mídia social, incluindo o Facebook da Meta Platforms, o YouTube da Alphabet Inc. e o TikTok. O Facebook tem 2,91 bilhões de usuários ativos mensais.

As constantes polêmicas da plataforma são outro problema. Da Índia ao Brasil, passando pelos Estados Unidos, o Twitter tem sido alvo de críticas de políticos de esquerda e direita. O influenciador e ativista Felipe Neto, inclusive, anunciou que reuniria evidências do que vê como má gestão da empresa no Brasil para levar um relatório à sede nos Estados Unidos.

Ficou feio para os amigos do CEO

À medida que o Elliot começou a apontar os problemas do Twitter, o conselho da empresa passou a ficar em uma situação cada vez menos confortável, assim como Dorsey.

Historicamente, o Twitter é pouco eficiente para atrair anunciantes, tem uma tecnologia ultrapassada (tente editar seu tuíte depois de publicado, por exemplo), é lento para lançar inovações e rápido para fechar empresas e tecnologias que compra.

Dorsey sempre foi um líder errático. Mas, nos últimos anos, parecia cada vez menos preocupado com o futuro de suas empresas. Antes da pandemia, anunciou que em 2020 se mudaria durante seis meses para a África, de onde continuaria liderando o Twitter e Square. O plano foi cancelado por causa da Covid-19.

Antigamente, Dorsey confraternizava com os funcionários de suas empresas. Agora, faz passeios de barco com Jay-Z e Beyoncé e sai de férias com Sean Penn.

Um legado respeitável

Dorsey lançou dois ícones da tecnologia norte-americana, o Twitter e a Square. Seus méritos são inquestionáveis e, para muitos, sua postura funciona como uma força de equilíbrio dentro das empresas. 

Em sua mensagem de despedida, Dorsey disse também que "não há muitos fundadores que escolhem sua empresa em vez de seu próprio ego. Sei que provaremos que essa foi a decisão certa".

Se um novo CEO ajudar o Twitter a resolver seus problemas e se tornar uma rede social mais competitiva, Dorsey provará que está certo.

Afirmar que Dorsey  foi demitido é algo difícil de comprovar. Provavelmente a verdade esteja no meio do caminho. O executivo pode ter saído porque sua demissão era apenas uma questão de tempo.

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