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COLUNA DE MÍDIA

Twitter em crise: Elon Musk, robôs, prejuízo bilionário e fuga de usuários

Reprodução/Twitter

Jair Bolsonaro dá a mão a Elon Musk

Elon Musk esteve no Brasil recentemente e encontrou Jair Bolsonaro, ativo usuário do Twitter

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 26/7/2022 - 6h30

O Twitter anunciou na última sexta (22) que perdeu quase R$ 1,5 bilhão em três meses e ficou aquém das expectativas de receita pelo segundo trimestre consecutivo. A empresa apontou incertezas em torno da aquisição de Elon Musk e anunciantes nervosos com a economia, que pode entrar em recessão em 2023.

A companhia anunciou ainda um surpreendente declínio de 1% em sua receita, para R$ 6,5 bilhão, apontando o fato de as empresas de consumo estarem diminuindo a compra de anúncios por estarem pressionadas por inflação, aumento das taxas de juros e Guerra na Ucrânia.

Mesmo tendo muito a explicar, o Twitter se recusou a escrever uma carta aos acionistas ou realizar uma teleconferência de ganhos semana passada, quando anunciou seu desempenho. 

O silêncio dos executivos do Twitter é um péssimo sinal para os milhares de investidores e usuários da rede social. Fica cada vez mais evidente que não existe qualquer plano coerente para manter o Twitter funcionando.

A mirabolante proposta de compra do Twitter por Musk não ajudou a empresa, mas o fato é que a crise do Twitter começou há bastante tempo. Sendo historicamente a rede social mais fraca, ela sente primeiro e mais forte os efeitos de um cenário negativo para o setor.

Efeito Apple e aumento da privacidade

A implosão do Twitter, e em certa medida do Facebook, começou há alguns anos à medida que usuários começaram a ficar mais preocupados com questões de privacidade. O aumento da pressão de governos e agências reguladoras aumentou os custos, mas principalmente, abriu as portas para a Apple enrijecer o controle dos dados dos usuários.

No ano passado, a Apple implementou rígidos controles de acessos a dados de usuários. Na prática, isso tornou a efetividade dos anúncios exibidos em dispositivos eletrônicos usando iOS muito menor. Ou seja, as redes sociais e desenvolvedores de apps para dispositivos da Apple deixaram de saber quem você é e o que você está vendo no seu dispositivo.

Os usuários da Apple, apesar de concentrados nos países ricos e em menor número que os usuários de Android, representam a maior parcela das compras online. A notícia foi um baque para quem vende publicidade online, particularmente as redes sociais. Com anúncios menos eficientes, elas se viram obrigadas a cobrar menos das marcas.

TikTok tem algoritmo mais eficiente 

Para piorar, o TikTok disparou na preferência dos usuários e acelerou a fuga da audiência. Além disso, diferentemente do Twitter e Facebook, a rede chinesa tem um algoritmo pautado pelos interesses das pessoas, não pelas conexões nas redes sociais.

O TikTok não precisa saber quem são os seus amigos e o que eles postam para mostrar vídeos e anúncios. Toda a lógica do conteúdo é baseada naquilo que você clica, independentemente de com quem você está conectado. 

Se as redes sociais eram bolhas, o TikTok é uma microbolha exclusivamente sua e criada a partir dos seus cliques. Ou seja, o TikTok te conhece melhor do que ninguém e é mais efetivo que os concorrentes.

O Facebook, que tem o caixa reforçado por bilhões de dólares e é altamente rentável, anunciou uma série de mudanças para se tornar mais parecido com o TikTok, mas o Twitter segue inerte. 

O problema do Twitter

Se você está lendo este texto, há boas chances de que o faça por ser um usuário do Twitter. E se você é usuário do Twitter, a probabilidade de ser um jornalista, político ou apaixonado por opiniões é alta. 

Mas apesar das polêmicas, o Twitter é pouco relevante em número de usuários. Ocupa o 15° posto de usuários mensais ativos, atrás até mesmo do Snapchat, Telegram e Pinterest.

Boa parte da repercussão do Twitter acontece porque alguém publica uma polêmica e veículos de mídia repercutem o tuíte. A facilidade de "embedar" (ou adicionar às páginas dos sites) o conteúdo do Twitter nas publicações jornalísticas online ajuda a explicar esse efeito.

Vale lembrar que Musk alega ter desistido da compra do Twitter ao descobrir o alto número de spam e perfis falsos fingindo serem usuários reais. Alegar desconhecimento do alto número de robôs no Twitter parece balela, mas Musk pode ter se surpreendido com o que encontrou. E ele tem um ponto importante, robôs não compram produtos, apesar de "consumirem" publicidade.

O Twitter afirma que o número de robôs na plataforma não seria superior a 5%.

Elon Musk é apenas uma desculpa?

Como aponta Laura Forman no WSJ, spam e robôs são fatores irrelevantes diante dos desafios do Twitter. "Antes de Musk, o Twitter estava trabalhando em direção a três objetivos para corrigir seu negócio instável até o final do próximo ano: ultrapassar US$ 7,5 bilhões em receita anual, atingir 315 milhões de usuários diários e dobrar o ritmo de produção de novas tecnologias”.

O Twitter não deverá atingir sua meta de usuários nem de faturamento. As novas iniciativas da plataforma para aumentar a monetização também falharam. A consultoria Sensor Tower estima que a plataforma de assinatura da empresa, o Twitter Blue, bem como Super Follows e Ticketed Spaces ajudaram a gerar um total geral de "irrisórios" US$ 3,7 milhões em receita de consumidores em todo o mundo desde o início de junho de 2021.

Esqueça o fato de a empresa planejar faturar US$ 7,5 bilhões por ano. Os US$ 3,7 milhões não pagam nem os salários dos engenheiros envolvidos na iniciativa. Por sinal, a empresa já disse que irá realizar cortes e demitiu um de seus mais respeitados engenheiros. 

Kayvon Beykpour, gerente geral de produtos de consumo, foi defenestrado do Twitter em maio durante sua licença paternidade. Ele era um dos poucos executivos que ainda tinha alguma credibilidade no mercado. 

O Twitter historicamente é lento em inovar (tente editar um tuíte ou verificar uma conta) e a gestão é caótica desde sua fundação, marcada por brigas de poder entre fundadores e executivos na liderança da empresa.

Robôs, spam e Elon Musk cancela compra

A boa notícia para o Twitter é que um juiz em Delaware aceitou acelerar o caso em que será julgada a disputa entre Musk e o Twitter. Dependendo do resultado, Musk poderá ser forçado a seguir com a compra da rede social (como quer o Twitter) ou terá de negociar um acordo.

O mercado parece ainda acreditar na venda do Twitter. Apesar dos problemas as ações da empresa caíram menos de 9% no ano. As ações do Snap caíram 35% na manhã de sexta-feira depois de a rede social informar que sua receita cresceu de forma mais lenta anualmente desde o início de 2018. A Meta (dona do Facebook e Instagram) e Pinterest já perdeu mais de 50% de seu valor de mercado esse ano.

O valor de mercado do Twitter não está caindo porque Musk deverá pagar US$ 44 bilhões se for forçado a comprar a empresa. O valor é bem superior ao que vale o Twitter atualmente. Então, quem tiver ações do Twitter ainda pode lucrar bastante. Mas se a compra não se confirmar, as ações devem despencar.

O problema da crise do Twitter é que, apesar de a empresa ser economicamente e gerencialmente uma catástrofe, ela ainda faz barulho e influencia do debate público (infelizmente, nós jornalistas somos lentos para nos conectarmos com nossas audiências nas novas plataformas e insistimos no Twitter). 

"O Twitter para o jornalista e para os adoradores de opinião e, portanto, de protagonismo, é a porta mais rápida para se sentir importante a partir de microideias e micropostulados. No Twitter você não precisa ir muito fundo para ser relevante", explica Mauricio Cabrera em um ótimo texto sobre a relação dos jornalistas com a rede do passarinho.

À medida que o Twitter se torne mais débil, uma consequência será reduzir os investimentos no combate às fake news e desinformação. Elon Musk é o menor dos problemas do Twitter neste momento, e o silêncio dos executivos do Twitter é a maior prova disso.

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