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COLUNA DE MÍDIA

Sem anunciantes, Jovem Pan reembarca no bolsonarismo e copia Fox News

Reprodução Jovem Pan News

Tiago Pavinatto, apresentador da Jovem Pan

Tiago Pavinatto, de Os Pingos nos Is, está entre os bolsonaristas da nova fase da Jovem Pan

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 1/4/2023 - 7h00

A derrota de Bolsonaro nas eleições foi um choque para a Jovem Pan. Após apostar tudo na vitória do candidato e dar espaço a jornalistas e comentaristas que fizeram campanha abertamente para o "mito" e atacaram Lula, ficou impossível dissociar o canal do bolsonarismo.

Com a credibilidade questionada e a imagem arranhada, a Jovem Pan lida com o saldo da derrota: fuga de anunciantes e uma custosa punição do Google, que suspendeu a monetização dos perfis do grupo no YouTube por divulgação de fake news. A plataforma de vídeos era uma das principais fontes de receita.

Logo após o anúncio da vitória de Lula, uma onda de demissões tomou conta da Jovem Pan. Alguns dos bolsonaristas mais ferrenhos (e melhor remunerados) foram os primeiros a deixar o canal. Também foi uma maneira rápida de cortar custos para os dias difíceis que viriam sem publicidade do governo, empresas privadas e até do YouTube.

Mas, com a saída de diversos astros da direita da Jovem Pan, também veio uma dura queda de audiência, com a CNN assumindo o segundo lugar entre os canais de notícias. Para muitos, era a prova de que o bolsonarismo estava com os dias contados.

Sem dinheiro, sem amigos e nada a perder

Em um período de dez horas avaliado, a Jovem Pan teve somente três anúncios, enquanto a CNN teve 11, e a GloboNews, 13 (tabela ao final do texto). 

Sem anunciantes e perdendo audiência, a Jovem Pan até tentou uma aproximação com o centro fazendo um jornalismo mais neutro. Foi um fiasco. O território já está ocupado por concorrentes como GloboNews e CNN. Além disso, após tanto tempo de apoio ao bolsonarismo e com sua imagem desgastada, ninguém além dos eleitores de Bolsonaro tinha razões para assistir à Jovem Pan.

A queda foi tão grande que a Jovem Pan saiu do radar até mesmo do novo governo. O PT ignorou o ditado que recomenda manter os amigos perto e os inimigos ainda mais perto.

A Jovem Pan ficou em um beco sem saída. Sem dinheiro e sem audiência, não tinha nada a perder. Reembarcar no bolsonarismo e redobrar a aposta na direita foi um resultado natural.

O volta dos que não foram

Novas contratações foram realizadas, e jornalistas e apresentadores bolsonaristas voltaram a ganhar destaque. Dessa vez, com o cuidado de parecerem menos raivosos e histriônicos, mantendo o limite da civilidade. 

O fato de Lula agora estar no poder facilita as críticas. Durante as eleições, os ataques eram realizados com pouco ou nenhum elemento concreto. Com o PT no poder, os conflitos políticos e o bate-cabeça do governo facilitam o trabalho dos críticos.

À medida que começa a ficar mais claro que Lula está longe de ser uma unanimidade e os erros de comunicação do novo governo se acumulam, novas oportunidades surgem para a Jovem Pan. 

Para sorte da Jovem Pan, Bolsonaro também voltou fortemente ao noticiário. Como no caso de Donald Trump nos Estados Unidos, as acusações de crimes viraram combustível para a teoria de uma suposta conspiração de adversários políticos. A narrativa cativa o público.

O retorno de Bolsonaro é um exemplo. A volta triunfal do "mito" vem trazendo novos picos de audiência para o canal. Na quinta-feira (30), a Jovem Pan ficou na frente da GloboNews durante quatro horas, segundo dados prévios da Kantar Ibope Media. O Jornal da Manhã 1ª Edição bateu a GloboNews entre 6h e 10h na Grande São Paulo.

Com a cobertura favorável da Jovem Pan, o resultado foi que os apoiadores de Bolsonaro, carentes de confirmação, novamente se sentiram validados e encontraram um abrigo na grande mídia. Nas últimas semanas, a audiência voltou a subir, e a CNN retornou para a terceira posição entre os canais de notícias no cabo.

Estratégia é a mesma da Fox News e Trump

A Jovem Pan segue no Brasil a mesma cartilha da Fox News nos Estados Unidos após a derrota de Trump. 

Quando Biden venceu as eleições presidenciais americanas, a Fox News rapidamente reconheceu a derrota de Trump. Mas isso causou revolta entre os espectadores, e a audiência do canal de notícias americano começou a despencar nas semanas seguintes.

Como os documentos de um processo de difamação movido pela fabricante de urnas Dominion Voting Systems mostraram, executivos e estrelas da Fox News ficaram desesperados com a fuga de audiência, e mesmo sabendo que Trump havia sido derrotado, preferiram mentir para não perder espectadores de direita que acreditavam nas falas de Trump.

Assim como a Jovem Pan, a Fox News também deu uma guinada e voltou a apoiar um ex-presidente derrotado e atacar um governo visto como de esquerda.

Questionada, a Jovem Pan afirmou que "é independente e cobriu o fato: a chegada do ex-presidente ao Brasil". A empresa negou que apoie o bolsonarismo.

Erros do PT e vantagem da Jovem Pan 

Quando até o escritor Paulo Coelho, ex-apoiador de Lula, reclama do governo e Bolsonaro retorna ao país nos braços de apoiadores, é impossível negar a oportunidade de audiência.

Em uma sociedade cada vez mais fragmentada e pautada pelas redes sociais, três meses de governo é tempo suficiente para muita gente se dizer decepcionada. Muitos imaginavam que o país melhoraria em poucos dias e até o centrão perderia espaço no governo do PT. 

Seja como for, o drama rende audiência. Bolsonaristas se veem vingados a cada notícia negativa ou deserção de apoiadores de Lula. O ciclo joga a favor da Jovem Pan, já que erros são inevitáveis e notícia "boa" ninguém tem interesse.

Até quem discorda da Jovem Pan acaba assistindo para rebater os bolsonaristas, principalmente no YouTube, em que, mesmo desmonetizada, a Jovem Pan segue líder em visualizações no segmento de notícias.

YouTube é prioridade da Jovem Pan

Obviamente, a Jovem Pan ainda tem um grande problema nas mãos: como fechar as contas. O retorno ao bolsonarismo dificilmente trará anunciantes tradicionais. Governos à direita, como no Estado de São Paulo, podem ser uma fonte de publicidade, mas grandes anunciantes privados e o governo federal não parecem dispostos a retornar ao canal.

Mas isso não significa que a Jovem Pan não tenha alternativas. O rádio é uma fortaleza do grupo, que é líder em diversas regiões do país, incluindo São Paulo, onde alcança 260 mil pessoas sintonizadas por minuto e tem 3,5 milhões de ouvintes por mês.

Por sua natureza fragmentada e sem tanta atenção da mídia nacional, o rádio atrai anunciantes locais pouco preocupados com boicotes e interessados na grande e fiel audiência da Jovem Pan. Aliás, muitos desses anunciantes são ferrenhos bolsonaristas.

Mas o Google é a verdadeira resposta para a Jovem Pan voltar a faturar alto. Se o YouTube reativar a monetização da Jovem Pan em suas plataformas, o canal passará a receber milhões de reais em publicidade todos os meses. Quanto maior a audiência, maior a receita no digital.

A Jovem Pan também está revendo a estratégia de seus sites, outra fonte de dinheiro com grande potencial de aumentar. Quando a publicidade entra nas plataformas da Jovem Pan por meio de mídia programática, em boa parte das vezes, os anunciantes nem imaginam que estão na Jovem Pan, já que todo o processo é realizado por máquinas que apenas buscam vender mais por menos.

Influência política e erro de estratégia

Dentro desta lógica, não surpreende que a Jovem Pan tenha intensificado seus esforços políticos em Brasília. Como todas as TVs, o canal também tem tentado um encontro com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Superior Tribunal Federal), por exemplo. O ministro recusa todos os pedidos de todos os grupos, de Globo a SBT, e também da Jovem Pan. 

Mas, neste momento, as big techs são alvo do governo e da Justiça, que fazem planos para aumentar a regulação sobre as empresas de tecnologia. Uma das ideias do projeto de combate às fake news é que gigantes como Google e Facebook passem a remunerar veículos de notícias. A Jovem Pan tem peso para influenciar o debate, principalmente no campo da direita, e o Google sabe disso.

A campanha do Sleeping Giants para desmonetizar a Jovem Pan foi efetiva e necessária. O mesmo se pode dizer da retirada de campanhas do governo federal e da desmonetização realizada pelo Google. O problema dessa lógica é que deixa o canal sem opções e nada a perder. É melhor cair lutando do que fechar as portas.

Sleeping Giants, YouTube e o próprio governo e Justiça ganhariam mais se tratassem a Jovem Pan com mais cabeça e menos estômago. Por exemplo, impedir o canal de remover vídeos de fake news não faz sentido. A esta altura, um acordo seria o melhor caminho para todos, inclusive no caso do processo que a Jovem Pan move contra o Sleeping Giants.

Impedir que um veículo de imprensa monetize seu conteúdo, desde que ele siga regras jornalísticas, é ruim porque leva ao radicalismo dos desesperados, Também abre espaço para a acusação de censura e perseguição política. 

Para a Jovem Pan e Fox News, voltar a apoiar os políticos da direita não é uma questão de ideologia, é apenas uma questão de audiência e dinheiro. Enquanto os adversários desses canais não entenderem isso, vão dar mais munição para que o público radical encontre a confirmação de suas fantasias.

Programas por emissora com número de anúncios veiculados em seus respectivos horários:

CanalProgramaAnúncioHorário
Jovem Pan NewsJornal da Manhã19h39
Jovem Pan NewsMorning Show111h27
Jovem Pan NewsPânico114h01
Jovem Pan NewsLinha de Frente0*
CNN BrasilCNN Money36h02, 6h11 e 9h15
CNN BrasilCNN Novo Dia36h32, 8h38 e 9h15
CNN BrasilLive CNN310h43, 11h01 e 13h31
CNN BrasilVisão CNN215h40 e 15h48
GloboNewsEm Ponto46h03, 6h14, 7h e 8h09
GloboNewsConexão410h20, 11h, 11h29 e 12h40
GloboNewsEstúdio i512h58, 14h03, 14h31, 14h46 e 15h32

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