RODRIGO TEIXEIRA
Divulgação/Manequim Filmes
Mariana Nunes em cena de Alemão 2; sequência do filme de 2014 estreia nos cinemas nesta quinta
Sequência do longa de 2014 que levou mais de 1 milhão de pessoas aos cinemas, Alemão 2 estreia nesta quinta-feira (31) para corrigir os erros de seu antecessor. É o que assegura Rodrigo Teixeira, produtor do primeiro longa e que retorna à função na continuação.
Apesar de ter se tornado sucesso de bilheteria, Alemão (2014) sofreu com avaliações mistas da imprensa e com críticas de público por conta de algumas escolhas da produção. As principais delas foram a falta de mulheres no elenco e a reafirmação de estereótipos há muito criticados, como atores brancos atuando como policiais e negros para o núcleo de traficantes.
Em bate-papo com jornalistas do qual o Notícias da TV participou, Teixeira, que tem no currículos trabalhos em Hollywood como Me Chame Pelo Seu Nome (2017) e O Farol (2019), destacou que a distância de mais de sete anos entre o lançamento do dois filmes permitiu que a equipe tivesse um entendimento melhor dos temas trabalhados na franquia.
Segundo o produtor, a equipe teve palestras constantes de policiais, ativistas e estudiosos, não apenas para melhorar o roteiro, mas também para aproximar os atores da realidade nas comunidades do Rio de Janeiro e representadas em Alemão 2.
Alemão é um filme inocente e não chega nem perto da profundidade do segundo. Alemão 2 é um produto amadurecido, com certeza absoluta. Graças a Deus ele foi filmado sete anos depois porque se fosse pouco tempo de diferença [entre os filmes], teríamos cometido muitos dos mesmos erros.
Para atingir o objetivo de desenvolver uma sequência mais amadurecida do que o primeiro filme, Teixeira e sua equipe trabalharam exaustivamente no roteiro.
"O primeiro roteiro [de Alemão 2] que recebemos era muito parecido com o do primeiro. Tinha mais personagens masculinos e não era um reflexo da realidade. A gente precisava trazer mulheres fortes. Foi uma coisa que conversamos muito e trouxe uma evolução muito boa para o segundo filme", acrescenta Mariana Teixeira, produtora executiva do longa.
As mudanças orquestradas pelos produtores para não cometer os mesmos erros do filme original também refletiu nos bastidores. De acordo com Teixeira, 40% dos integrantes da equipe eram pretos, sendo que 60% eram mulheres. Para ele, está realidade representa a nova cara da indústria.
"A revolução do cinema atual está sendo feita pelas mulheres. É por isso que elas estão ganhando tudo. Estão apresentando as melhores ideias, entregando os projetos mais ousados. É melhor ter uma liderança de mulheres no set do que de homens. As coisas funcionam melhor. Era uma preocupação nossa, queremos cada vez mais trazer essas pessoas para posições de destaque, que são onde elas merecem estar", completa.
DIVULGAÇÃO/MANEQUIM FILMES
Vladimir Brichta e Digão Ribeiro
Situado anos depois da ocupação do Complexo do Alemão e a criação das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), o longa explora o fracasso da iniciativa do governo e como os moradores do morro sofreram com a brutalidade da polícia e o crescimento da aliança entre tráfico e milícia.
Na visão Digão Ribeiro, que interpreta o traficante Soldado em Alemão 2, o filme tem um objetivo muito maior do que ser simples entretenimento. Para o ator, a arte tem o papel de servir como denúncia da péssima realidade na qual vivem os moradores do complexo.
"O filme precisa ter um lugar de denúncia e de debate. Não [pode] apenas ser um entretenimento. Alemão 2 mostra a questão das pessoas na comunidade, as complicações da polícia. Tem o personagem do Dan [Ferreira, ator do longa], um policial militar negro que sonha em ir para a Inteligência e está ali ajudando", pontua.
Ribeiro, ator negro e nascido no Rio de Janeiro, ainda confessou que não se sentiu confortável assistindo ao primeiro filme por causa de todos os estereótipos representados no longa. Segundo o astro, a história de Alemão 2 foi muito mais trabalhada para que tivesse algo a dizer.
Nós enriquecemos o processo de preparação no segundo porque não seria só um filme de ação, ele tem algo a dizer. Ele fala sobre uma realidade do Rio com o surgimento das UPPs. Fala da despreparação da policia, uma questão de segurança pública que não é discutida nem resolvida. Com Alemão 2, a gente quer falar disso com responsabilidade.
Vladimir Brichta, que interpreta o policial Machado, corroborou com o posicionamento de Digão Ribeiro e afirmou que, apesar do tema considerado pesado, a continuação faz um questionamento necessário para a sociedade brasileira.
"O tema é pesado, é duro, mas que bom que estamos falando de cinema. O filme entrega um recorte muito bom e honesto da favela, representações mais fidedignas. Tiramos um preconceito e fazemos um recorte de pessoas marginalizadas pelo Estado há décadas. Nós sabemos o quanto a policia é truculenta e como ela foi criada pra defender as terras, e não os cidadãos. Não era em favor da população. Isso nos leva à discussão: que tipo de policia nós queremos? Qual a gente precisa?", provoca o ator.
Assista ao trailer oficial de Alemão 2:
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