Netflix desiste de esportes e investe R$ 1 bilhão em novelas e séries no Brasil

A Netflix passará a dar prioridade a novelas e séries brasileiras entre 2023 e 2024. Mesmo com a crise no streaming, que se arrasta por dois longos anos, a empresa arriscou tudo para fisgar mais público e exportar suas produções para o mundo inteiro: ela fará um investimento de R$ 1 bilhão ao longo desse período. Elizabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo da Netflix Brasil, contou que não há planos para eventos esportivos, algo muito pedido pelos assinantes.

"Não tem novas estratégias ligadas ao esporte ainda. Não digo que isso nunca vai acontecer, mas por enquanto não está acontecendo", explicou ela em entrevista ao colunista Guilherme Ravache, do Valor Econômico.

"Será o entretenimento do mais alto nível. Então, realmente, séries, filmes, documentários, programas de entretenimento, os reality shows… A gente teve algumas experiências com o ao vivo já, isso talvez seja algo que a gente possa explorar um pouco mais no futuro. Mas o foco realmente são produções locais", completou.

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A vice-presidente aponta que a Netflix não virou uma "TV gourmetizada", nem pecou na qualidade de seu conteúdo. A empresa apenas passou a fazer diferentes produções na tentativa de atender à maior quantidade de assinantes que conseguisse: tanto o mainstream, aquele que consome produções mais convencionais, como reality shows e novelas; quanto os mais exigentes, que buscam obras "cult" e cinematográficas.

"Quando a gente faz a composição do nosso desenvolvimento, que depois vira a nossa programação no ar, temos que olhar pra isso. Estamos realmente servindo todos os públicos? Porque temos públicos muito diferentes, até porque a gente tem uma base de assinantes muito grande. Então, a gente precisa servir todos eles o tempo inteiro", afirmou.

Tem que pensar: vou fazer uma série com o melodrama [como a plataforma se refere à novela], mas também vou fazer um filme de um cineasta atual ou uma minissérie com temática que talvez não seja tão mainstream, mas não nichada, com alto nível de entretenimento. Precisamos ter todos esses títulos.

Investimento recorde com série brasileira

O grande chamariz da Netflix para o ano que vem será a minissérie sobre Ayrton Senna (1960-1994), que contará a história do icônico piloto, morto em um acidente na curva Tamburello, em Ímola, na Itália, no GP de San Marino. Segundo Elizabetta, a obra será o produto mais caro já produzido pela Netflix no Brasil. O motivo do investimento é estratégico.

"Nossa estratégia, não só no Brasil como na América Latina, é fazer esses investimentos em séries grandiosas como nunca foram feitas. 100 Anos de Solidão [baseada no livro de Gabriel García Márquez] é um exemplo. São produções de tamanho e investimento como nunca foram feitos. Nosso investimento em conteúdo só cresce", ressaltou a executiva.

"Já trabalhamos com um grupo de umas 80 produtoras, mas fomos expandindo ainda mais. Com foco também em elevar essa barra aqui no Brasil e fazer com que essas produções possam ser vistas no resto do mundo. Vejo obviamente essa retração de mercado, ela é visível, mas do nosso ponto de vista só vamos crescer esse investimento e essa energia que estamos colocando", destacou.

O aumento do interesse do consumidor por novelas no streaming também chamou a atenção da Netflix. Elizabetta confirmou que a plataforma está desenvolvendo o folhetim Pedaço de Mim (título provisório), protagonizado pelos ex-atores da GloboJuliana Paes e Vladimir Brichta. A Netflix teve que "dar seus pulos" para não ficar para trás dos concorrentes HBO Max --plataforma que está a todo vapor com a novela Beleza Fatal--, e também do Globoplay, com seu vasto catálogo de clássicos da TV e produções exclusivas.

"Com certeza vamos continuar a apostar nas grandes histórias, tentar capturar o que vem daqui para a frente e sempre de alguma maneira inovar na parte de conteúdo, na tecnologia, que eu acho que é algo que a Netflix prioriza muito também. Inovação tecnológica para oferecer a melhor experiência para o usuário. Pode esperar inovação no conteúdo, inovação na tecnologia. Temos uma área de games que está sendo desenvolvida já há bastante tempo, acho que essa pode ser uma grande diferença", concluiu.