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COLUNA DE MÍDIA

Dívida da Globo tem perspectiva negativa e dá dimensão da crise nas TVs

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Galvão Bueno na Copa do Catar

Galvão Bueno na Copa do Catar: Copa pesou negativamente nos resultados da Globo, que teve prejuízo

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 20/12/2022 - 6h30

A agência de classificação de risco Fitch mudou a perspectiva da nota de crédito da Globo em moeda local de estável para negativa. A notícia chega no momento em que o mercado de mídia, particularmente a TV brasileira, vive uma de suas piores crises.

Segundo o relatório da Fitch, a perspectiva negativa do IDR (Rating de Inadimplência do Emissor) em moeda local "reflete os desafios que a Globo enfrenta para retomar margens de lucro de um dígito alto a dois dígitos e fluxos de caixa robustos, uma vez que a competição no mercado publicitário permanece elevada".

A nota de risco da Globo não foi rebaixada, mas a mudança indica uma perspectiva negativa para a empresa e sua dívida local. Para a agência, a queda da receita da Globo com a TV e o aumento da concorrência no streaming são riscos significativos.

O mercado brasileiro de TV por assinatura enfrenta uma forte retração. No terceiro trimestre deste ano, registrou 14,7 milhões de assinantes --uma queda de 25% em relação aos 19,5 milhões reportados em 2014.

Cabe notar que não houve mudanças no IDR de longo prazo de moeda estrangeira, que é o que a Globo divulga em seus balanços e está atrelada à dívida em dólar. Ou seja, nos ratings mais importantes, que são os comunicados para o exterior, a posição da empresa continua a mesma. Na dívida interna, que praticamente a Globo não tem, é que mudaram a perspectiva de estável para negativa. 

Mas uma leitura do relatório da Fitch dá uma ideia do tamanho do desafio enfrentado pelas TVs no Brasil. Afinal, o bilionário caixa da Globo e do Globoplay não são trunfos que todo o mercado tenha neste momento.

Prejuízo e recorde no Globoplay

Apesar de o streaming da Globo ter crescido fortemente, a uma taxa de 27% ao ano nos últimos dois anos foi um recorde, o Globoplay ainda dá prejuízo. A perspectiva, mantidos os números de crescimento, é que o lucro chegue somente em três ou quatro anos. O que se torna mais difícil à medida que a base de assinantes já é significativa e disparou o número de concorrentes no setor.

"A Globo enfrenta forte concorrência em termos de receitas de publicidade e conteúdo/programação, além de desafios para oferecer plataformas novas e atraentes a espectadores e anunciantes", afirmam os analistas no texto.

A Fitch projeta que as margens de lucro da Globo devem ficar na faixa de um dígito médio, em vista do ambiente desafiador para o setor e da base de custo operacional mais elevada da empresa que investe na expansão do Globoplay. O cenário base considera receita líquida anual da Globo entre R$ 15 bilhões a R$ 16 bilhões em 2023 e 2024, respectivamente, com margens de EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 5% a 6%.

O relatório divulgado na semana passada diz ainda que "em comparação com empresas de comunicação norte-americanas classificadas com ratings grau de investimento, como a Paramount Global [que tem IDR de longo prazo classificado como BBB, que é uma perspectiva estável], a Globo tem como ponto fraco a maior dependência da cíclica geração de receita publicitária, tendo em vista o volume cada vez menor de recursos gastos em publicidade na TV aberta, aliado à decrescente penetração da TV por assinatura".  

Destaques positivos da Globo

Segundo a Fitch, a ausência de diversificação de fluxo de caixa na Globo, porém, é compensada pela estrutura de capital significativamente mais forte da companhia em comparação a seus pares locais.

"A Globo possui uma das estruturas financeiras mais fortes da região, sustentada por sua posição líquida de caixa. O saldo de caixa e aplicações financeiras de R$ 14,6 bilhões é muito superior à sua dívida total, de R$ 5,7 bilhões." A perspectiva é que a Globo mantenha sólida posição de caixa, na faixa de R$ 8 bilhões a R$ 10 bilhões, sem a necessidade de pegar dinheiro emprestado. A emissora também poderia facilmente adiar ou reduzir o pagamento de dividendos.

Outro destaque positivo é a liderança no mercado, com cerca de 35% na audiência em televisão, que chega a 38% no horário nobre (números que devem aumentar após a Copa). Os analistas também destacaram o fato de o  Globoplay estar expandindo sua base de assinantes por meio de ofertas de pacotes e parcerias, "que devem continuar desempenhando um papel estratégico para a companhia".

Ou seja, a Globo, mesmo sendo uma das empresas mais fortes da América Latina, sofre com as perspectivas do setor. O que dá uma ideia da posição que se encontram os concorrentes, que nas últimas semanas anunciaram diversos cortes de funcionários e custos.

Dívida em moeda estrangeira não muda

A Fitch alertou que uma piora na nota de crédito do Brasil pode resultar em ação de rating negativa no risco em moeda estrangeira e nas notas denominadas em dólar da Globo. 

Por outro lado, as notas da Globo atreladas à moeda estrangeira são limitadas pelo teto-país do Brasil, que reflete o rating soberano, assim como a análise da Fitch de maior risco de transferência e conversibilidade. Então, se a nota do Brasil não melhorar, a nota da Globo em moeda estrangeira também não pode subir. Mas se a nota do Brasil cair, a Globo também cai.

A Fitch Ratings classifica como BB o IDR de longo prazo em moeda estrangeira e o rating das notas sem garantias reais, denominadas em dólar, da Globo. Ao mesmo tempo, a agência coloca o IDR de longo prazo em moeda local em BBB-, e o rating nacional de longo prazo em AAA(bra) da empresa. A perspectiva do IDR em moeda estrangeira e do rating nacional de longo prazo é estável. 

A diminuição da nota não significa que a Globo terá problemas em pagar a sua dívida, apenas aponta para um cenário mais desafiador adiante. Investidores usam as notas como referência para precificar o juro que vão cobrar pelos empréstimos. Quanto maior o risco, maior o juro exigido e maiores os custos para as empresas.

Se não está fácil para a Globo com seu caixa bilionário e liderança no mercado, imagine para os outros.

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