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DESAFIO DE GESTÃO

Como a Netflix pode dar a volta por cima após irritar os próprios acionistas?

REPRODUÇÃO/NETFLIX

Imagem de Millie Bobby Brown como Eleven em Stranger Things

Millie Bobby Brown como Eleven em Stranger Things; série foi adaptada para jogos na Netflix

A Netflix provocou a ira de seus acionistas após divulgar o último balanço financeiro. Devido a projeções negativas, as ações da companhia derreteram nas bolsas de valores e já viraram alvo até de processo na Justiça. Existe alguma maneira de a empresa animar novamente o mercado? Na visão de especialistas, a volta por cima pode ocorrer graças ao investimento na indústria de jogos.

"Os games são o que eles têm para tentar salvar quem investiu nas ações. Se for puramente pelo negócio do streaming, provavelmente, a empresa terá que decrescer bastante o seu valor, pois os preços atuais não fazem sentido se ela simplesmente ficar produzindo vídeo e não crescer o número de usuários", afirma Guilherme Zanin, analista de investimentos da Avenue Securities, ao Notícias da TV.

Segundo o economista, o maior potencial de crescimento da Netflix encontra-se no universo dos jogos eletrônicos: "A empresa já declarou que fez testes bem-sucedidos e que espera, até o final do ano, estar com no mínimo, alguns jogos disponíveis para todo o mundo. Esse é um mercado que tem um potencial gigantesco, inclusive de vários clientes que não estão dentro da Netflix, mas que podem utilizar a plataforma deles. Isso pode ajudar a empresa a crescer ou, pelo menos, a manter o seu market share [participação no mercado]".

Para entender esse olhar ao universo dos games, é preciso ter em mente que esta indústria deve movimentar mais de US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão) apenas em 2023, segundo a consultoria Newzoo. Enquanto isso, as projeções do centro de pesquisas Research And Markets apontam que o setor dos streamings de vídeo conseguirá atingir cerca de US$ 223 bilhões, aproximadamente R$ 1,1 trilhão, em faturamento até 2028.

"Mais do que só se encaixar no modelo de negócio do mercado de games, a Netflix precisa entender como esse modelo se encaixa dentro do mercado dela. Não adiantar forçar uma cultura de produção de jogos em uma empresa que não tem essa bagagem, é muito difícil", pontua Lucas Patricio, CEO da GMD, agência de marketing digital com foco no setor de games.

Em novembro de 2021, a Netflix começou a disponibilizar jogos próprios para os assinantes. No entanto, a repercussão destes games não chegou nem perto do barulho causado pelas séries e pelos filmes originais da gigante.

"Acredito que a Netflix está realmente fazendo os passos de forma devagar, testando e analisando. Ela é uma empresa muito acostumada com análise de dados. Então, quanto mais produtos eles tiverem para colocar na plataforma, mais dados eles terão para analisar", opina Patricio, que continua:

Um bom jogo não precisa ter um megainvestimento. E o seu sucesso, para a Netflix, ainda não precisa ser no mesmo nível que os filmes e as séries fazem. Ainda que a visão e o objetivo da Netflix sejam bem ambiciosos, percebemos que eles têm dado passos cuidadosos, cautelosos e bem coesos até agora.

Olho no futuro

Na visão de Patricio, o streaming precisa de tempo e de compreensão do seu público para crescer neste novo mercado. "A Netflix terá de fazer investimentos inteligentes em estúdios de criação de jogos e em como aproveitar melhor as suas propriedades intelectuais", projeta.

Formado em Design e Desenvolvimento de Jogos pela universidade norte-americana Full Sail University e com mais de 15 anos de experiência na área, Tamir Nadav acredita que a Netflix necessita travar um caminho com muitas tentativas e erros até conseguir fisgar uma fatia relevante dos games.

"Podemos ver uma evolução até o controle remoto da Netflix ou jogos que interajam com um programa em tempo real. Por exemplo, se eu jogo o game de Stranger Things no meu telefone e um personagem é morto, quando assisto à série, este personagem pode não estar presente no próximo episódio. Há muitas possibilidades que apenas um provedor de conteúdo como o Netflix pode tentar e, nessa área, deve haver uma receita para o sucesso", acredita Nadav.

"Existe um mercado em potencial muito grande e diversos tipos de conteúdo para serem construídos, então estou animado para ver o que pode vir", complementa.


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