CAMPO MINADO
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Lula (PT) e Deolane Bezerra; famosos podem falar sobre política após boicote das marcas?
As eleições deste ano se aproximam e, cada vez mais, famosos e influenciadores digitais compartilham seus posicionamentos políticos. Sair de cima do muro gera engajamento e posicionamento entre os fãs, mas tem gerado boicote de empresas que não querem suas ações publicitárias atreladas a algumas opiniões. Nessa encruzilhada, é possível falar sobre o tema na internet sem ter prejuízo?
Segundo os especialistas ouvidos pelo Notícias da TV, existe um temor de que o posicionamento político da celebridade seja associado com a marca.
"Quando a gente define um representante para a marca, tudo pode ser associado a ela nesse período próximo à campanha. E não porque a imagem da marca vai ficar vinculada à do influenciador, mas sim porque a empresa escolheu a dedo um representante para falar sobre determinado produto ou serviço", explica Isabela Soller, CEO da Soller Assessoria, agência especializada em gerenciamento de carreiras de influenciadores.
Thiago Cavalcante, CEO da Inflr, empresa de tecnologia especializada em publicidade no universo digital, afirma que as empresas não são diretamente associadas às atitudes dos influenciadores. Contudo, "posicionamentos radicais podem, sim, prejudicar as marcas que estão atreladas a esse influenciador. Apoiar um candidato, tudo bem, mas é preciso ter cuidado com extremismos e excessos, principalmente ao atacar um candidato ou grupo politico".
"Os influenciadores e as marcas precisam estar de acordo sobre o assunto. Se um influenciador deseja se posicionar politicamente nas redes, é crucial que ele feche parcerias com marcas que também se posicionam politicamente e, além disso, tenha valores parecidos com os seus", complementa Cavalcante.
"As pessoas estão bastante rigorosas com essa questão dos representantes da marca. Elas estão começando a entender como que é feito o mapeamento de um influenciador para uma marca, e, naturalmente, se a marca escolheu aquele influenciador, é porque ela tem alguma afinidade com o discurso e o comportamento dele", pontua Isabela.
O boicote veio à tona com o relato de Luísa Sonza. No Twitter, a cantora afirmou que empresas passaram a cancelar trabalhos com artistas e influenciadores que se manifestam politicamente. "Vocês querem influencers que influenciam o quê? Só a comprar seus produtos?", indagou a apresentadora do Queen Stars Brasil (HBO Max) na ocasião.
Porém, quando convém às empresas, elas buscam influenciadores que assumam bandeiras, sejam elas raciais, de gênero, entre outras. "Algumas marcas optaram por levantar bandeiras de inclusão. É muito importante que esse público, que antes não se sentia acolhido, seja representado e abraçado pelas marcas", detalha Cavalcante.
"Mas existe uma distância de entendimento que acontece por conta da internet, já que os algoritmos nos fornecem cada vez mais insumos para simpatizarmos com linhas de pensamento específicas. Então, se um usuário começar a consumir vídeos e conteúdos de um candidato, não receberá os conteúdos com candidatos que o opõe. Por esse motivo, as marcas não compactuam com essas estratégias políticas", analisa.
"Levantar bandeira falando de questões sociais, de qualquer situação que defenda determinado grupo, é vista com bons olhos pelas marcas. Mas, na hora de falar de política, gera um certo medo. Porque quando você se posiciona contra qualquer lado, isso repercute gerando outras discussões, e a marca não quer saber em quem você votou, o foco dela é crescer no mercado", admite Isabela.
O campo minado das marcas com temas políticos é similar ao que elas enfrentam quando patrocinam um reality show. Por exemplo, quando Nego do Borel foi expulso de A Fazenda 13 (Record) por suspeita de ter abusado de Dayane Mello, os fãs do confinamento rural cobraram uma atitude da Record e também das patrocinadoras da atração.
Essas marcas não possuem relação direta com a polêmica nem participam da dinâmica diária do reality. Porém, mesmo assim, elas entraram no fogo cruzado.
"Essa é a questão de você se posicionar a favor ou contra [um lado político]. E você se posicionar contra um lado, automaticamente já te coloca a favor de outro. Isso é diferente de defender causas sociais, em que você não se coloca contra ninguém, apenas defende uma bandeira. E como o bipartidarismo se trata mais de uma situação de briga, de conflito, as marcas temem muito qualquer tipo de posicionamento", reforça Isabela.
Na visão dos especialistas, os influenciadores podem falar sobre política, mas precisam alinhar esse tema com as marcas ou investir em um posicionamento mais brando.
"Não precisa ser neutro, mas sim ter uma comunicação um pouco mais branda, estudar e pesquisar muito antes de se pronunciar sobre determinados assuntos. Os influenciadores não podem falar só porque estão sendo cobrados. Eles precisam ter o desejo genuíno de falar e saber do que estão falando. A minha sugestão é não se colocar contra ou a favor de um determinado partido ou candidato, e, sim, se posicionar de forma sutil, através de muito estudo e de uma comunicação mais branda", aconselha Isabela.
"O ditado 'o combinado não sai caro' é muito verdadeiro nesse caso. As empresas precisam de influenciadores digitais que os representem de diversas maneiras. O marketing de influência vai além de um post ou Stories. O que os representantes fazem fora das redes sociais também pode acabar afetando as marcas", pondera Cavalcante.
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