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Atores de Hollywood acusam sindicato de esconder contrato e podem retomar greve

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Um homem ruivo, com roupas pretas, segura uma placa com os dizeres "eu sou eu, eu não sou inteligência artificial" em piquete da greve dos atores

Profissional protesta contra uso de inteligência artificial em piquete durante a greve dos atores

LUCIANO GUARALDO, de Nova York

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 23/11/2023 - 8h00

A greve dos atores de Hollywood chegou ao fim no último dia 8, mas pode ganhar uma "segunda temporada" em breve. Artistas acusam o SAG-AFTRA (sindicato que cuida dos intérpretes) de esconder o contrato negociado com a AMPTP (associação dos estúdios e produtores) e ameaçam recusar o acordo. Se mais da metade dos sindicalizados votarem não, a paralisação será retomada, e todas as partes precisarão voltar a negociar.

O principal ponto de conflito é o uso de inteligência artificial. Segundo atores e agentes ouvidos pelo Notícias da TV, o contrato utiliza uma linguagem ambígua ao abordar o assunto. A falta de especificidade abre brechas para que os estúdios utilizem a tecnologia de maneira desleal.

De acordo com as partes do acordo que foram divulgadas pelo SAG-AFTRA, os estúdios poderiam criar "réplicas digitais" de artistas (principalmente figurantes) e usá-las em outros projetos para os quais os profissionais não foram contratados. Eles receberiam um cachê adicional como se tivessem trabalhado novamente, mas sem a experiência de estar na ativa. Todos os atores também precisariam consentir com a criação das tais "réplicas".

O problema, segundo um agente que topou conversar com a reportagem, é que o tal "consentimento" teria um papel decisivo na contratação dos artistas. "Um figurante não tem o mesmo poder de barganha de um Tom Cruise ou de uma Jennifer Lawrence. Se você não concordar em ser replicado, os estúdios vão simplesmente dispensá-lo e contratar alguém que aceite as condições."

Uma atriz brasileira que é filiada ao SAG-AFTRA e aceitou se pronunciar sob condição de anonimato ressaltou que o uso de inteligência artificial era o ponto mais importante da negociação do novo contrato neste ano --e foi justamente nele que o sindicato deixou a desejar.

"Eu preferia que nós tivéssemos conseguido tudo o que queríamos na questão da IA e nada do reajuste nos cachês. Alguns membros dizem que podemos adiar essa questão para o próximo contrato [em 2026], mas será tarde demais para voltar atrás. É uma tecnologia que está avançando rápido demais, precisamos criar regras agora ou seremos todos substituídos", apontou.

Um ator e escritor norte-americano que também quis proteger sua identidade afirmou que o contrato obtido pelo WGA (sindicato dos roteiristas) no fim de setembro é muito mais claro na questão da IA. "E o SAG-AFTRA sabe disso, Fran [Drescher, presidente] e Duncan [Crabtree-Ireland, negociador-chefe] sabem disso. É por isso que estão escondendo o contrato", alfinetou ele.

Gerardo Celasco, ator de novelas nos Estados Unidos, acusou o sindicato de má-fé em um post no Instagram. "A maioria dos membros vai votar logo, e a tendência é que votem 'sim' sem revisarem o contrato. Quando os votos de quem estiver esperando para ler tudo não importarem mais, aposto que o sindicato vai liberar o contrato completo. Espero estar errado e torço para que as lideranças façam a coisa certa. Mas encorajo vocês a votarem 'não' o mais rápido possível, antes que seu voto não valha mais nada", escreveu.

De fato, o SAG-AFTRA soltou apenas um resumo de 18 páginas com os pontos principais do novo acordo --e, mesmo assim, atores, agentes e advogados já encontraram alguns problemas no que foi apresentado. Até integrantes do conselho administrativo do sindicato votaram contra o novo contrato.

A atriz Anne-Marie Johnson, uma das oito integrantes do conselho que rejeitou a proposta (são 80 membros, no total), deixou clara a sua posição. "Não podemos aceitar nada de IA. Só humanos devem ser usados para a criação de conteúdos que serão consumidos por outros humanos. Se não eliminarmos tudo que envolve inteligência artificial, nossos esforços não serviram para nada. Foi uma grande perda de tempo", declarou à Variety.

Os atores têm até 5 de dezembro para confirmarem seu voto, por carta ou eletronicamente. Se mais da metade dos membros (o SAG-AFTRA representa cerca de 160 mil profissionais) optarem por rejeitar o novo contrato, Hollywood vai parar mais uma vez.

Estima-se que as duas greves deste ano já tenham custado mais de US$ 6,5 bilhões (R$ 31,8 bilhões) para a economia norte-americana. As paralisações também afetaram o calendário de estreias de filmes de 2024 e impediram as séries de TV a seguirem seu cronograma normal --produções que deveriam ter estreado novas temporadas em setembro sequer começaram os trabalhos.


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