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Profissional protesta contra uso de inteligência artificial em piquete durante a greve dos atores
A greve dos atores de Hollywood chegou ao fim no último dia 8, mas pode ganhar uma "segunda temporada" em breve. Artistas acusam o SAG-AFTRA (sindicato que cuida dos intérpretes) de esconder o contrato negociado com a AMPTP (associação dos estúdios e produtores) e ameaçam recusar o acordo. Se mais da metade dos sindicalizados votarem não, a paralisação será retomada, e todas as partes precisarão voltar a negociar.
O principal ponto de conflito é o uso de inteligência artificial. Segundo atores e agentes ouvidos pelo Notícias da TV, o contrato utiliza uma linguagem ambígua ao abordar o assunto. A falta de especificidade abre brechas para que os estúdios utilizem a tecnologia de maneira desleal.
De acordo com as partes do acordo que foram divulgadas pelo SAG-AFTRA, os estúdios poderiam criar "réplicas digitais" de artistas (principalmente figurantes) e usá-las em outros projetos para os quais os profissionais não foram contratados. Eles receberiam um cachê adicional como se tivessem trabalhado novamente, mas sem a experiência de estar na ativa. Todos os atores também precisariam consentir com a criação das tais "réplicas".
O problema, segundo um agente que topou conversar com a reportagem, é que o tal "consentimento" teria um papel decisivo na contratação dos artistas. "Um figurante não tem o mesmo poder de barganha de um Tom Cruise ou de uma Jennifer Lawrence. Se você não concordar em ser replicado, os estúdios vão simplesmente dispensá-lo e contratar alguém que aceite as condições."
Uma atriz brasileira que é filiada ao SAG-AFTRA e aceitou se pronunciar sob condição de anonimato ressaltou que o uso de inteligência artificial era o ponto mais importante da negociação do novo contrato neste ano --e foi justamente nele que o sindicato deixou a desejar.
"Eu preferia que nós tivéssemos conseguido tudo o que queríamos na questão da IA e nada do reajuste nos cachês. Alguns membros dizem que podemos adiar essa questão para o próximo contrato [em 2026], mas será tarde demais para voltar atrás. É uma tecnologia que está avançando rápido demais, precisamos criar regras agora ou seremos todos substituídos", apontou.
Um ator e escritor norte-americano que também quis proteger sua identidade afirmou que o contrato obtido pelo WGA (sindicato dos roteiristas) no fim de setembro é muito mais claro na questão da IA. "E o SAG-AFTRA sabe disso, Fran [Drescher, presidente] e Duncan [Crabtree-Ireland, negociador-chefe] sabem disso. É por isso que estão escondendo o contrato", alfinetou ele.
Gerardo Celasco, ator de novelas nos Estados Unidos, acusou o sindicato de má-fé em um post no Instagram. "A maioria dos membros vai votar logo, e a tendência é que votem 'sim' sem revisarem o contrato. Quando os votos de quem estiver esperando para ler tudo não importarem mais, aposto que o sindicato vai liberar o contrato completo. Espero estar errado e torço para que as lideranças façam a coisa certa. Mas encorajo vocês a votarem 'não' o mais rápido possível, antes que seu voto não valha mais nada", escreveu.
De fato, o SAG-AFTRA soltou apenas um resumo de 18 páginas com os pontos principais do novo acordo --e, mesmo assim, atores, agentes e advogados já encontraram alguns problemas no que foi apresentado. Até integrantes do conselho administrativo do sindicato votaram contra o novo contrato.
A atriz Anne-Marie Johnson, uma das oito integrantes do conselho que rejeitou a proposta (são 80 membros, no total), deixou clara a sua posição. "Não podemos aceitar nada de IA. Só humanos devem ser usados para a criação de conteúdos que serão consumidos por outros humanos. Se não eliminarmos tudo que envolve inteligência artificial, nossos esforços não serviram para nada. Foi uma grande perda de tempo", declarou à Variety.
Os atores têm até 5 de dezembro para confirmarem seu voto, por carta ou eletronicamente. Se mais da metade dos membros (o SAG-AFTRA representa cerca de 160 mil profissionais) optarem por rejeitar o novo contrato, Hollywood vai parar mais uma vez.
Estima-se que as duas greves deste ano já tenham custado mais de US$ 6,5 bilhões (R$ 31,8 bilhões) para a economia norte-americana. As paralisações também afetaram o calendário de estreias de filmes de 2024 e impediram as séries de TV a seguirem seu cronograma normal --produções que deveriam ter estreado novas temporadas em setembro sequer começaram os trabalhos.
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