Disputa por frequências
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Antena parabólica do tipo telada, utilizada para captação de TV aberta na banda C
EDIANEZ PARENTE
Publicado em 30/8/2019 - 5h24
A chegada do serviço de telefonia celular 5G dará um pontapé na internet das coisas, nome dado à comunicação entre máquinas --o computador e o freezer, por exemplo. Mas também terá um preço alto: a nova internet de alta velocidade vai causar um apagão de canais abertos para quem os sintoniza via antena parabólica. No país, são 22 milhões de domicílios que recebem a TV diretamente do satélite, a chamada Banda C.
Isso vai acontecer porque a rede de telefonia de 5G vai operar em frequências eletromagnéticas que causarão interferências nos sinais das redes abertas nas parabólicas.
Um documento assinado pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) e Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão)foi encaminhado na semana passada ao governo federal apontando soluções para o problema de interferência no sinal. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) quer promover o leilão do 5G em 2020.
A proposta das entidades, que reúnem as grandes redes como Globo, SBT e Record, inclui mudar o satélite e o tipo de sinal que chega hoje às residências para outro tipo de transmissão, também gratuita. A sugestão é migrar para um sistema igual ao atualmente utilizado em serviços de TV paga como Sky e Oi, com uso de miniparabólicas.
As emissoras sugerem que, com os recursos obtidos no leilão das frequências do 5G, o governo banque esses equipamentos para as famílias de baixa renda, custeando novas antenas e receptores aos participantes de programas sociais, como o Bolsa Família. As estimativas são de que cerca de 10 milhões de residências com parabólicas sejam de pessoas que se encaixam nessas condições.
A exemplo do que aconteceu quando houve a mudança do sistema da televisão terrestre analógica para o digital, as emissoras querem que o governo faça uma ampla campanha de esclarecimento de todo o processo.
Do lado dos canais, eles também vão precisar de filtros nas suas antenas para barrarem interferência do 5G no próprio sinal que recebem das geradoras.
Segundo levantamento da Abratel, hoje estão disponíveis 52 canais na banda C, 13 deles em alta definição. Dos 66,9 milhões de lares no Brasil, 22 milhões têm antenas receptoras de banda C, o que corresponde a quase 33%, segundo o levantamento PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Durante o Congresso da SET (Sociedade de Engenharia de Televisão), que acontece nesta semana em São Paulo, representantes das partes --governo, empresas de telefonia e de satélite, e radiodifusores-- manifestaram preocupação com o assunto. O presidente da Abert, Paulo Tonet, disse que a ideia é que ninguém fique sem sinal.
Wender Souza, engenheiro e representante da Abratel, lembrou que há canais públicos com cobertura nacional também presentes na banda C, como TV Escola, TV Câmara, TV Senado. E que esse tipo de recepção, diferentemente do que prega o senso comum, não está restrito apenas a regiões rurais ou afastadas das metrópoles.
"Boa parte dos nossos problemas está nos grandes centros, em áreas com dificuldade de cobertura da TV digital terrestre", diz Souza. "É um problema social; é um problema de todos nós", admite Vicente Bandeira de Aquino Neto, conselheiro da Anatel. Ele reiterou que o tema vai a consulta pública, tamanha sua importância.
O leilão do 5G vai viabilizar a comunicação entre máquinas, permitindo, por exemplo, cirurgias e direção de veículos à distância. O governo projeta que o desenvolvimento econômico a ser gerado pode chegar a 4% do PIB, movimentando R$ 240 bilhões. A implantação deve levar cinco anos.
O uso de parabólicas nas residências para sintonizar TV aberta data de mais de 30 anos, quando domicílios com dificuldade no recebimento de sinal das emissoras abertas passaram a comprar e apontar grandes antenas voltadas para satélites.
Os sinais recebidos dessa maneira são os mesmos que as redes de TV enviam para as emissoras afiliadas. Apesar de não ter regulamentação que ampare a transmissão aberta nessas frequências, o mercado de antenas e caixas receptoras explodiu nos anos 1990.
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