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#FREEBRITNEY

Filme sobre Britney Spears é um soco no estômago de quem riu de sua desgraça

REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY

Britney Spears careca, com cara de raiva, e atacando um carro com um guarda-chuva

Britney Spears em ataque de fúria contra paparazzi; cena está no documentário disponível no Globoplay

Você deu risada dos memes da Britney Spears em que ela aparece com um semblante derrotado, gorda e com a maquiagem borrada? Chamou de "louca" quando a viu raspando os cabelos em um salão? Achou divertidas as fotos de seu ataque de fúria enquanto usava um guarda-chuva para destruir um carro? Se a sua resposta foi "sim" para alguma destas perguntas, prepare-se para sentir a dor de um soco no estômago ao assistir ao documentário Framing Britney: A Vida de uma Estrela, recém-lançado pelo Globoplay.

Produzido pelo The New York Times em parceria com o canal FX e o streaming Hulu, o filme mostra a ascensão, queda e tentativa de redenção da princesinha do pop. Mas não se trata de uma biografia convencional. O plot é centrado no cárcere privado ao qual ela é mantida há 13 anos --e que motivou os fãs a protestarem nas ruas, com cartazes e alto-falantes, pedindo sua libertação.

Britney Spears tem 39 anos de idade, e é proibida desde 2008 pela Justiça norte-americana de ser independente. Tudo o que ela faz precisa da autorização de seu pai, James Spears. E não se trata somente de situações extravagantes. Para ir a uma simples lanchonete, a cantora é obrigada a pedir a aprovação de seu tutor, além do dinheiro que usará para pagar a refeição.

Viajar com o namorado, receber amigos em casa, trocar de celular, comprar uma bolsa, ir ao supermercado, nada disso é feito se James não a autorizar.

Ao tomar conhecimento de que uma mulher prestes a completar 40 anos de idade é impedida de cuidar da própria vida, quais pensamentos lhe ocorrem? Que ela seja louca? Que ofereça riscos à sociedade? Que tenha problemas mentais? Em 2006, essas dúvidas de hoje foram tratadas como verdades absolutas, e Britney perdeu o controle sobre si mesma.

Apresentador de TV segura um jornal para mostrar falhas de Britney Spears como mãe

Morre uma estrela

O documentário mostra como a estrela foi perdendo seu brilho ao longo dos anos. A imprensa, alguns apresentadores consagrados da TV norte-americana e até mesmo o astro Justin Timberlake são apresentados como os principais vilões desta história.

Desde adolescente, Britney teve que lidar com situações constrangedoras. A contrapartida para estar em um programa de TV para lançar sua música era se submeter a questionamentos de apresentadores, homens e de cabelos grisalhos, interessados em sua virgindade e suas partes íntimas. Os absurdos eram proferidos em tom de piada, e ela tentava desviar educadamente, com medo de fechar as portas que projetariam seu nome e seu trabalho.

Os paparazzi a perseguiam em todos os lugares. Eles lutavam para registrar seus deslizes, como no dia em que foi vista dirigindo com seu primogênito, Sean Preston, sentado em seu colo. Ou quando quase deixou o bebê cair no chão. As imagens estamparam capas de tabloides e revistas, e ela foi retratada como uma péssima mãe.

Nessa época, a cantora já era vista como uma mulher sem escrúpulos. Quando o namoro com Justin Timberlake terminou, ele a acusou de traição e fez música para relatar a dor do chifre. A mídia comprou o discurso da "vítima" e passou a retratar Britney como uma destruidora de lares.

Britney Spears chora ao falar sobre o pai

Assédio e constrangimento

A imprensa não pegou leve com a cantora. Ela era enquadrada por apresentadores e jornalistas a justificar cada passo de sua vida. O boato de que seria uma péssima mãe colaborou para que a Justiça lhe tirasse a guarda de seus dois filhos. E essa foi a gota d'água.

Impedida de estar com as crianças, ela perdeu a linha. Passou a tomar remédios controlados, foi internada em clínicas psiquiátricas, ficou careca, e partiu para cima de um fotógrafo com um guarda-chuva em um ataque de fúria. Seu sofrimento virou piada. O blogueiro Perez Hilton chegou a rir da desgraça da artista em um programa de TV, e a agradeceu por estar "descontrolada", pois isso fez seu blog registrar altos índices de audiência.

Britney Spears e seu pai, James Spears

Pai herói(?)

Em 2008, a Justiça nomeou James Spears como tutor permanente da filha, após julgar que Britney não tinha condições de cuidar de sua própria vida. Neste ponto, o documentário decola. Principalmente por contar com os depoimentos de duas figuras cruciais para o enredo: Felicia Culotta, assistente pessoal da cantora desde o início de sua carreira, e Adam Streisand, advogado que ela escolheu para defendê-la no caso.

São relatos inéditos e que abrem margem para os fãs desconfiarem ainda mais dos reais interesses sobre a tutela. Felicia foi demitida assim que o pai da cantora entrou em cena, e o advogado revela que o único pedido de Britney era que James não fosse o escolhido para o posto de tutor. Nos documentos entregues à corte, e que foram mostrados no filme, ela relata ter medo do pai.

O depoimento de Kim Kaimann, ex-diretora de marketing da gravadora Jive Records, exibido logo nos primeiros minutos do documentário, é crucial para traçar um pouco da personalidade de James Spears. Ao longo dos anos em que trabalhou com a cantora, ela disse ter tido um único contato com o pai de Britney. E que na ocasião sua única preocupação era se a filha ficaria rica o suficiente para que ele pudesse comprar um barco.

Hoje é ele quem tem o domínio total sobre Britney e também tem autorização da Justiça para ficar com uma fatia generosa dos lucros da filha. Por viver nesse cárcere, Britney passou a se isolar cada vez mais e a perder o interesse pela carreira musical. Suas publicações nas redes sociais são interpretadas como pedidos de socorro. E a campanha #FreeBritney viralizou.

Antes visto como uma mera teoria da conspiração, o movimento ganhou ainda mais força em 2020, quando Britney apelou à corte para retirar seu pai da gerência de sua vida e entregar os cuidados a um banco. O novo capítulo dessa briga judicial serviu como combustível aos fãs, que agora tentam reforçar a tese de que a artista tem seus direitos civis violados há anos.

Framing Britney: A Vida de uma Estrela não traz respostas e deixa diversas lacunas, mas questiona as leis de tutela norte-americanas, que transforma pessoas como Britney Spears em prisioneiros de um sistema falho e impedidas de tomarem conta de suas próprias vidas. E também é um soco no estômago de todos que um dia riram dos destemperos da artista sem levar em consideração o sofrimento pelo qual passou --e ainda passa até hoje.


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