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CRISE NA MÍDIA

Igreja Universal injeta quase R$ 1 bilhão por ano para conter crise na Record

Reprodução/YouTube

O bispo Edir Macedo durante culto no Templo de Salomão, da Igreja Universal, em São Paulo; de terno escuro e gravata amarela, ele gesticula

O bispo Edir Macedo durante culto no Templo de Salomão, em SP: Universal aumento gasto com TV

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 7/8/2023 - 7h00

A Record demitiu nas últimas semanas cerca de 200 funcionários. Abriu mão de profissionais consagrados, como Janine Borba e Roberto Thomé. Mas por que a emissora está demitindo se tem por trás a Igreja Universal do Reino de Deus? A fonte da igreja secou? Uma análise atenta dos balanços e dados obtidos com exclusividade pelo Notícias da TV revela que não é bem assim.

Em valores nominais, a congregação liderada por Edir Macedo nunca colocou tanto dinheiro na Record sob o pretexto de compra de espaço de programação. No ano passado, foram R$ 907 milhões, 10% a mais do que os R$ 822 milhões de 2021, um recorde histórico.

Nem no auge dos investimentos na Record, na segunda metade dos anos 2000, a igreja desembolsou tanto pelas pouco mais de quatro horas que ocupa na madrugada da segunda maior rede de TV do país.

Em 2009, por exemplo, estimava-se que a Universal aportava cerca de R$ 500 milhões anuais na emissora. Em valores atualizados pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), os R$ 500 milhões de 14 anos atrás valem R$ 1,078 bilhão, mais do que os R$ 907 milhões de hoje.

A Universal é considerada pela Record seu maior cliente e, assim, seria um dos maiores anunciantes do país, ao lado de Unilever, grandes bancos e varejistas. Proporcionalmente à audiência que obtém, pagaria o "anúncio" mais caro da TV brasileira.

Na realidade, a Universal desembolsa valores superfaturados pelo espaço que ocupa na Record como forma de repassar dinheiro legalmente à emissora, conforme apontou uma investigação do Ministério Público de São Paulo, em 2009. Seus investimentos na emissora cresceram na última década bem mais do que os dos anunciantes privados em toda a TV aberta.

Neste ano, aumentou a participação da Universal na programação da Record. A igreja assumiu em janeiro toda a produção de teledramaturgia. Agora, a Record compra, por um valor fixo, os capítulos das novelas e séries bíblicas que exibe, como Reis, não importa se eles custam mais à igreja.

Por que a Record está demitindo?

Apesar do aumento dos aportes da Igreja Universal, isso não foi suficiente para livrar a Record da crise. A emissora, assim como toda a TV aberta brasileira, vem sofrendo para fechar as contas desde a recessão que se aprofundou em 2016.

Como revelou o Notícias da TV em julho, 2022 foi o pior ano da história das três maiores redes de TV aberta do país. Todas tiveram prejuízos operacionais, gastaram mais do que arrecadaram com publicidade. SBT e Globo só tiveram lucro graças aos rendimentos com investimentos financeiros.

A Record teve um prejuízo líquido de R$ 517 milhões. Boa parte desse resultado se deve ao mau desempenho do banco Digimais, que faz parte do grupo. A TV fechou o ano com um déficit menor, mas não menos assustador, de R$ 188 milhões.

No ano passado, a Record perdeu seu principal executivo da área comercial, Walter Zagari. Considerado o maior vendedor da TV brasileira por muita gente do mercado, Zagari foi vice-presidente comercial da Record durante 20 anos e colocou a emissora no mapa das agências de publicidade. Afastado, ele atuou apenas como "consultor" durante 2022.

DIVULGAÇÃo

Walter Zagari, ex-vice-presidente comercial; receita caiu após sua saída

Em 2021, último ano de Zagari à frente da área de vendas, a Record faturou R$ 1,186 bilhão com publicidade. Graças aos R$ 822 milhões injetados pela Universal, a emissora fechou o ano com receita total de R$ 2,008 bilhões e lucro líquido de R$ 130,5 milhões.

Em 2022, sem Zagari, o faturamento com publicidade foi de apenas R$ 1,107 bilhão, 17% abaixo da meta de R$ 1,330 bilhão. Para suprir o rombo, a Universal teve que aumentar o aporte para R$ 907 milhões, mas a receita total de R$ 2,014 bilhões não foi suficiente para evitar o prejuízo inédito. 

Neste ano, o cenário não está melhor. Segundo dados apurados pelo Notícias da TV, a emissora faturou apenas R$ 390 milhões dos R$ 508 milhões que previa arrecadar no primeiro semestre, o que explica a necessidade de demissões.

O reality show Top Chef está no ar com apenas dois patrocinadores. A Fazenda, que teve em 2022 metade dos patrocinadores de 2021 (três), também enfrenta dificuldade no mercado com sua 15ª edição, a estrear em setembro.

Outro lado: Record não se pronuncia

A Record foi procurada pela reportagem no último dia 27. Dois dias depois, a emissora pediu mais tempo para se manifestar, porque seu departamento comercial iria divulgar um "balanço positivo" no início de agosto. O balanço, contudo, não veio a público, e a Record optou por não comentar os dados apresentados neste texto.


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