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50 ANOS

Contra YouTube e Netflix, Fantástico desce ladeira com muito crime e pouco show

Imagens: Reprodução/TV Globo

Maju Coutinho e Poliana Abritta no cenário do Fantástico, que projeta atrás delas imagem de Marielle Franco

Maju Coutinho e Poliana Abritta introduzem reportagem sobre morte de Marielle Franco no último domingo

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 5/8/2023 - 7h00

O show da vida está cada vez mais show da morte. O Fantástico completa 50 anos de existência neste sábado (5) lutando contra a sangria de audiência para o streaming. Para combater a evasão de público, cada vez mais interessado no YouTube e na Netflix, o programa que virou sinônimo de revista eletrônica de variedades hoje aposta em reportagens sobre crimes. Ainda assim, seu ibope atual é metade do registrado 20 anos atrás.

Levantamento exclusivo feito pelo Notícias da TV mostra que as reportagens policiais podem superar um terço de toda a duração da atração. No último domingo (30), o Fantástico dedicou 56 minutos e 42 segundos a conteúdos que tinham relação com crime e violência --isso equivale a 35,6% das 2 horas, 39 minutos e 22 segundos que ficou no ar (foram 3 horas e 5 minutos, quando considerados os intervalos comerciais).

Nessa minutagem, estão incluídas a reportagem de abertura, com imagens exclusivas da explosão de um armazém de grãos no Paraná, uma investigação sobre a criação ilegal de gado na Amazônia e a agressão sofrida pelo atacante Pedro, do Flamengo, que foi parar na polícia. O Fantástico também investiu nas últimas revelações sobre o assassinato de Marielle Franco (1979-2018) e em reportagens sobre a Cracolândia de São Paulo e investigações da morte de uma torcedora do Palmeiras.

Mesmo se desconsiderarmos a reportagem sobre gado ilegal na Amazônia, que pode ser enquadrada como meio ambiente, o conteúdo sobre violência ainda predominaria com folga. Nesse critério, as seis reportagens ocupariam 27,3% do programa.

Daquilo que se pode chamar de show, o Fantástico teve apenas 19 minutos e 56 segundos, ou 12,5% de sua duração. Foram entrevistas com a cantora Iza, com a atriz Clara Moneke, a Kate de Vai na Fé, e com o elenco do filme Mansão Mal-Assombrada, baseado nos parques de diversão da Disney.

Sérgio Chapelin no Fantástico em cores, em 1974

O Fantástico, aliás, dedica mais tempo à cobertura de meio ambiente do que daquilo que era uma de suas propostas originais. A reportagem sobre gado ilegal na Amazônia e materiais sobre calor extremo e baleias no litoral do Rio de Janeiro ocuparam 19,9% de sua duração, bem mais do que o futebol (12,4%).

De humor, que já foi uma de suas marcas, hoje não há mais nada. Contudo, apesar do investimento em conteúdo jornalístico, há muito pouco material quente, produzido a partir do noticiário do dia. No último domingo, foram apenas três inserções, que tomaram 2 minutos e 10 segundos.

A operação da Polícia Militar que resultou na morte de pelo menos 16 pessoas na Baixada Santista, um dos principais assunto do fim de semana, foi registrada em apenas 44 segundos.

Audiência desce a ladeira

Nos relatórios da Kantar Ibope, a empresa que mede audiência no Brasil, o Fantástico já teve dias bem melhores. Depois de passar sufoco e perder a liderança para o SBT, com a Casa dos Artistas, no final de 2001, o programa ganhou um gás e teve seu melhor momento neste século em 2003, quando fechou com média de 36,3 pontos na Grande São Paulo.

William Bonner apresentou o programa em 1990

De lá pra cá, foi ladeira abaixo. Desde 2007, não registra médias anuais superiores a 30 pontos. A partir de 2012, passou mais tempo abaixo de 20 pontos do que acima. Neste ano, até o último domingo, está com apenas 17,8 pontos. Se não reagir nos próximos meses, seu 50º ano será o pior de sua trajetória.

Pelo critério de pontos na Kantar Ibope, a audiência do Fantástico caiu quase pela metade em 20 anos. Mas, quando se multiplica o total de pontos pelo número de domicílios que representam, a queda é bem menor, de 22% na Grande São Paulo. A participação no total de televisores também regrediu menos do que os pontos absolutos: de 56% em 2003 para 31%.

Hoje, o maior concorrente do Fantástico não é o Domingo Espetacular nem o Programa Silvio Santos, mas o conjunto de serviços de streaming.

No ano passado, a Globo teve 19,5 pontos na Grande São Paulo com o Fantástico. No mesmo horário, a Record registrou 8,0 e o SBT, 7,4. Os canais pagos, que atingiram média de 13,1 pontos em 2017, desabaram para 5,7. Já o streaming fechou o ano com 11,2 pontos. E deve crescer mais um ou dois pontos em 2023.

Segundo a Kantar Ibope, a TV linear (aberta e paga) ficou com 86% do consumo de vídeo em televisores em junho, contra 14% do streaming. As maiores audiências do streaming são YouTube (8,2%), Netflix (3,9%), Globoplay (0,7%), Prime Video (0,5%) e HBO Max (0,3%).

Apesar da perda de audiência e do apelo a conteúdo violento/dramático, o cinquentão Fantástico ainda mostra vitalidade. É um dos poucos espaços na TV aberta em que se pode ver reportagens sobre meio ambiente e ciência, além de comportamento sexual e questões de gênero. Nesse aspecto, o Fantástico ainda é vanguarda. Mas terá uma dura realidade pela frente.


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