LEGADO NA ARTE
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Zé Celso Martinez Corrêa morreu em um incêndio em sua casa após ficar com 50% do corpo queimado
Morto aos 86 anos por complicações de um incêndio em sua casa, o dramaturgo Zé Celso Martinez enfrentou situações trágicas ao longo de sua vida. O artista foi perseguido durante a Ditadura Militar (1964-1985), quando acabou torturado e com sua companhia teatral em chamas, e também lutava para salvar um terreno pertencente ao Grupo Silvio Santos do abandono.
O ator se deparou com o Teatro Oficina, companhia fundada por ele, em chamas em 31 de maio de 1966. As investigações apontaram que o fogo começou por causa de um curto-circuito em cabos ligados ao teto da estrutura. Não houve feridos. Martinez, no entanto, atribuiu a tragédia a uma suposta perseguição de militares.
Na manhã seguinte ao incêndio, mais de 80 artistas se reuniram na frente da companhia para protestar. Zé Celso Martinez recebeu ajuda para fazer duas apresentações que arrecadariam fundos para a reforma do local. Ary Toledo e Jô Soares (1938-2022) foram dois que auxiliaram nas divulgações e na produção dos espetáculos.
Após a reinauguração do prédio um ano depois do incêndio, a companhia saiu em turnê por outros Estados do Brasil. O regime militar continuou a perseguir o dramaturgo e censurou duas peças: O Rei da Vela e Roda Viva. Em 1968, conservadores chegaram a invadir o Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro, e agredir o elenco. Censurada, a peça nunca mais foi refeita até 2019.
O diretor foi preso e torturado por agentes da Ditadura Militar em 1974. Sobrevivente das represálias, ele permaneceu 20 dias na cadeia até ser libertado e se exilar em Portugal. Seu retorno ao Brasil aconteceu em 1978. Martinez foi um dos anistiados pelo Ministério da Justiça em 2010. O artista recebia uma pensão vitalícia do Estado como reparação dos danos.
Zé Celso Martinez e Silvio Santos travaram uma briga judicial que durou quatro décadas. As desavenças começaram por conta de um terreno localizado no Paraíso, em São Paulo, que pertence ao Grupo Silvio Santos. O Teatro Oficina, que fica ao lado, resiste à criação de um empreendimento milionário da empresa do dono do SBT.
O artista defendia que o local deveria ser transformado em um parque para preservar a flora da cidade e tornar o Teatro Oficina um local aberto ao público. Martinez e Santos tiveram um encontro em 2017, mediado pelo então governador de São Paulo, João Doria, que alimentou ainda mais a rivalidade.
"Meu secretário deu uma boa ideia, a gente coloca lá a 'drogalândia', como é que é? A cracolândia, e o drogado que mais se destacar no dia ganha um prêmio", alfinetou Silvio Santos na ocasião. "É como se fosse um 'putsch', um golpe nazista. E muito parecido com o Estado Islâmico, porque visa à destruição de um monumento que é o Teatro Oficina", retrucou Martinez.
Em junho deste ano, o dramaturgo foi proibido pela Justiça e multado em R$ 200 mil por plantar uma árvore que ganhou de presente de casamento das atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. O Grupo Silvio Santos também entrou com uma liminar para impedir que Zé Celso usasse o terreno para qualquer fim.
Martinez e seu marido, Marcelo Drummond, criticaram a notificação judicial no mesmo mês, em seu casamento. "Não podemos plantar a árvore dada por Fernanda Montenegro sob pena de multa de R$ 200 mil. Foi o presente de Silvio Santos. Dele não espero muita coisa", disparou Drummond.
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