Atriz no governo
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Na segunda (20), Regina Duarte se reuniu com Jair Bolsonaro e Luiz Ramos, ministro da Secretaria de Governo
FERNANDA LOPES
Publicado em 21/1/2020 - 5h15
Após convite do presidente Jair Bolsonaro, a atriz Regina Duarte anunciou que começará nesta terça-feira (21) um período de testes como nova secretária especial da Cultura. O assunto tem gerado muita repercussão desde o fim da semana passado, e tanto Regina quanto o presidente se referiram à parceria como o início de um noivado.
"Nós vamos noivar, vou ficar noiva, vou lá conhecer onde vou habitar, com quem vou conviver, quais são os guarda-chuvas que abrigam a pasta. Noivo, noivinho", disse Regina à Folha de S.Paulo. Apesar do entusiasmo da atriz, a decisão dela certamente seria reprovada por algumas de suas principais personagens.
Nas redes sociais, Regina já está sendo zoada por internautas por sua decisão. Ganhou apelidos referentes às personagens que fez, como "Rainha da Suástica" e "Viúva Pocilga". Até Lima Duarte fez graça: "É Sinhozinho Malta na Presidência e Viúva Porcina na Cultura", disse à Folha.
Mas, ao longo de sua carreira, a atriz interpretou personagens batalhadoras e progressistas que não se identificariam com a política e as opiniões controversas de Bolsonaro. Confira:
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A protagonista de Malu Mulher representou um marco no Brasil por sua independência
A protagonista de Malu Mulher se tornou um marco na teledramaturgia por representar a independência e a nova figura da mulher brasileira na sociedade. A personagem era uma socióloga progressista, que se desvencilhava de um casamento falido, em que era agredida, e batalhava para sustentar sua família e garantir seus direitos como mulher e cidadã. Bem distante do conservadorismo pregado pelo atual Governo Federal.
A personagem também se incomodava com o conservadorismo, mas sua trama era ambientada na São Paulo dos anos 1920. Nina era uma jovem professora que lutava contra pessoas ao seu redor que promoviam a opressão com valores tradicionais e preconceituosos, como um barão e um político republicano. Ela se oporia a Bolsonaro, ao contrário de Regina.
Na série da Manchete, Regina interpretava Joana, uma mulher casada, mãe de três filhos e muito dedicada também a seu trabalho como jornalista. Profissional engajada, ela se envolvia com questões sociais, políticas e criminais no jornalismo investigativo. Como o presidente já deixou claro que não gosta de jornalistas, inclusive já fez vários ataques aos profissionais, é de se imaginar que os dois não se dariam bem.
A atriz representou a história da artista que se livrou das amarras da sociedade, de relacionamentos abusivos e da pressão de seus pais para ser uma "mulher direita" e seguiu seu sonho de viver de música (música essa, inclusive, que era considerada de baixo calão na época). Chiquinha (1847-1935) ainda terminou sua vida namorando um homem bem mais jovem. Ela com certeza teria afrontado o presidente conservador com suas atitudes distantes da ideia de "moral e bons costumes".
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Raquel (Regina Duarte) não defendeu as atrocidades de sua filha em Vale Tudo (1988)
A personagem de Regina Duarte em Vale Tudo (1988) era uma mulher batalhadora e honesta, mas tinha muitos confrontos com sua filha, a maldosa Maria de Fátima (Gloria Pires). Já o presidente sempre defende seus filhos, mesmo que as ações deles levem a investigações judiciais. Além disso, Raquel muito provavelmente seria favorável a políticos de esquerda, focados em pautas sociais.
A protagonista da novela de Manoel Carlos tinha um coração enorme e adotou uma menina com síndrome de Down, que havia sido abandonada pela família na maternidade. Defensora das minorias, ela certamente teria se indignado com o projeto criado pelo governo Bolsonaro, no fim de 2019, para tirar a obrigação das empresas de terem cotas para contratação de pessoas portadoras de necessidades especiais.
A personagem de Regina Duarte era uma mulher lésbica e mãe de dois filhos, gerados por inseminação artificial. Sabendo da antipatia de Bolsonaro pela comunidade LGBTQ+ e do apreço dele pela "família tradicional brasileira", não haveria a menor possibilidade da libertária apoiar o político.
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