FÁTIMA TOLEDO
Reprodução/YouTube/Instagram
A atriz Denise Weinberg (à esq) denunciou métodos usados pela preparadora de elenco Fátima Toledo
Métodos de tortura, pé no pescoço, xingamentos e humilhações. Parecem cenas retratadas em Marighella (2021), filme de Wagner Moura que se passa durante a Ditadura Militar (1964-1985), mas são relatos sobre os métodos de de ensino utilizados por Fátima Toledo, preparadora de elenco que trabalhou na produção do longa e em títulos como Tropa de Elite (2007).
Os abusos de Fátima vieram à tona após uma denúncia pública feita por Denise Weinberg, atriz indicada do Emmy Internacional e com mais de 40 anos de experiência em teatro. As duas trabalharam juntas na preparação para o filme Linha de Passe (2008), dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas.
"Fui torturada", conta Denise em entrevista exclusiva ao Notícias da TV. "Botaram o pé na minha nuca, mandaram dizer que eu era uma merda. Ela falou na minha cara a merda de atriz que eu era, que não precisava de atrizes. Eu tive sequelas. Falei da humilhação, mas é uma violação dos direitos humanos. Tive hemorragia, perdi a voz."
Denise decidiu se manifestar após assistir à participação de Wagner Moura no programa Roda Viva do dia 1º. Durante a entrevista, o diretor, que trabalhou com Fátima tanto em Marighella quanto em Tropa de Elite, encheu a preparadora de elogios.
"Eu a admiro muito, me ensinou muito. É uma parceira. Eu trabalhei algumas vezes com a Fátima. Quando resolvi fazer o teste de elenco, para mim não importava só o talento, mas queria conhecê-los para ter perto de mim pessoas que pensassem o filme comigo. Isso se encaixa perfeitamente no que a Fátima faz", contou o ator e diretor.
As declarações de Moura surpreenderam Denise. A atriz, que afirma ter admiração pelo ator e muito respeito por sua trajetória artística, conta que foi muito prejudicada pelos métodos de Fátima e que não poderia mais aceitar que a profissional continue impune no mercado.
[A fala de Wagner Moura] Me surpreendeu muito. Fui muito prejudicada por essa senhora. Eu acho que não é um método, eu faço teatro há mais de 40 anos e nunca tinha passado por um método de tortura, eu não acredito nisso. Eu acredito na delicadeza, eu acho que o ofício do ator, nós somos um instrumento, é como você pegar um piano e jogar na parede. É um pouco do que eu sofri.
O relato da indicada ao Emmy ganhou força após o diretor de teatro Luiz Antônio Rocha compartilhar em suas redes sociais a experiência da colega. Com a denúncia pública, atores como Armando Babaioff (Bom Sucesso), Drica Morais (Verdades Secretas), Ernani Moraes (Chocolate com Pimenta) e Beth Goulart (Gênesis) engrossaram o coro contra os métodos de Fátima.
"Péssima", comentou Drica. "Tive uma única experiência e o que posso dizer é que foi extremamente desagradável, tanto ela quanto o assistente dela na época. Até hoje penso no que aconteceu naquela sala de ensaio", completou Babaioff.
À reportagem, Denise critica o silêncio de muitos artistas que evitam denunciar tais tipos de abuso com medo de sofrer retaliações e perda de trabalhos. Para ela, exercícios como os praticados no curso preparatório de Fátima são uma degradação ao corpo humano.
Para destacar os erros cometidos pela preparadora de Marighella, a veterana do teatro compara os métodos utilizados por profissionais norte-americanos e elogia muitos preparadores de elenco que também atuam no Brasil.
"De maneira nenhuma estou generalizando os preparadores de cinema do Brasil. Esse é o método dela. Tanto que muita gente que trabalhava [com Fátima] saiu e criou um próprio. Nós temos preparadores ótimos que ajudam você, são delicados, te orientam e que ajudam com texto, palavras, ação, olhar. Não é pancadaria, não é acabar com minha autoestima para interpretar um papel. Isso é de uma ignorância típica do Brasil", continua.
Mesmo que sua experiência com Fátima tenha ocorrido há mais de 10 anos, Denise destaca a importância de denunciar métodos abusivos dentro do meio artístico. Segundo ela, outros atores também ficaram com sequelas depois de trabalhar com a preparadora. E ela prometeu nunca mais ficar em silêncio.
Se fizer uma pesquisa por todos que passaram por ela, todos vão falar isso. Tiveram pessoas que ficaram com sequelas muito graves. Eu cheguei em casa em estado de estupro, chorei o dia inteiro. Fiquei muito mal, muito marcada. Por isso que quando o Wagner falou isso... Uma pessoa que eu respeito, o acho um grande artista. Eu fiquei muito surpresa e prometi a mim mesma que não ia deixar batido. E aí a repercussão foi muito grande, eu ouvi histórias tenebrosas, e as pessoas ficaram quietas. Isso não pode acontecer.
O Notícias da TV entrou em contato com Fátima para ouvir a sua versão dos fatos, mas ainda não obteve retorno. Este texto será atualizado em caso de resposta.
Confira abaixo a denúncia feita por Luiz Antônio Rocha com os relatos de Denise:
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