ANÁLISE
FRANCISCO SILVA/AGNEWS
Belo deixou a prisão no Rio de Janeiro na quinta-feira (18); cantor é investigado por show na pandemia
No fim da manhã de quinta (18), Belo foi solto da cadeia. Para quem não acompanhou o desenrolar dos últimos fatos, o cantor de Derê tinha sido preso no Rio de Janeiro na quarta (17), depois de fazer show clandestino no sábado (13) em uma escola estadual no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, provocando muita aglomeração em tempos de pandemia.
Marcello Pires Vieira, o Belo, embolsou R$ 65 mil de cachê da produtora Série Gold pela controversa apresentação. A investigação policial atesta que as salas de aula do Ciep 326 Professor César Pernetta foram utilizadas como camarotes, sem qualquer tipo de autorização da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro --que, por sua vez, acusa o evento de invadir o prédio público. A Secretaria de Saúde também não foi avisada do show.
Ao sair, o astro da música foi recebido na rua como herói e ouviu gritos de "eu te amo" dos fãs aglomerados na porta da cadeia junto à imprensa, após o alvará de soltura emitido pelo desembargador Milton Fernandes.
É óbvio que Belo está errado em realizar um show e aglomerar pessoas em plena pandemia de Covid-19, que tem matado mais de mil brasileiros por dia. Entretanto, ele está tão errado quanto organizadores e fãs que compareceram à apresentação.
Não custa lembrar que Belo não é o único a promover eventos com aglomerações no Brasil de hoje. Lá em Brasília, pelo que vemos nos noticiários e nas redes, aglomerar já virou uma nova moda entre os poderosos e seus apaniguados palacianos, sem que ninguém seja levado para dormir atrás das grades como fizeram com Belo. Por que só Belo vai preso?
Este colunista vai semanalmente, por força maior de atividade de trabalho, ao bairro do Brás, na região central de São Paulo. Por lá, é como se a pandemia jamais tivesse existido, com transeuntes frenéticos e aglomerados pelas calçadas, lojas e bares, salvo quando cai o dilúvio do fim de tarde e inunda tudo.
Mas, basta a água fétida baixar, e já estão todos de volta, ainda mais elétricos em suas compras, com grande parte dos camelôs e locutores sem máscara, berrando gotículas de saliva nos pedestres. Claro que os vendedores mais conscientes usam máscara, mas tapam só a boca, ficando com o nariz de fora.
Para dar um novo exemplo a seus milhões de fãs, na saída da cadeia, Belo mostrou estar mais consciente e utilizou máscara. Só que, por essas ironias do Brasil, sua saída da prisão por provocar aglomeração acabou gerando outra aglomeração, dessa vez de repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e fãs, que se comprimiam para ouvir os dizeres do marido de Gracyanne Barbosa.
Aliás, nessa história toda, ao fazer questão de visitá-lo na cadeia, com um rápido pit stop para defendê-lo diante dos paparazzi de plantão na porta do cárcere, Gracyanne Barbosa se igualou a Viviane Araújo, a famosa ex de Belo que fazia o mesmo no passado e hoje passa férias em um paradisíaco hotel da Bahia, bem longe dessa história que comoveu o Brasil.
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MIGUEL ARCANJO PRADO é jornalista pela UFMG, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e mestre em Artes pela Unesp. É crítico da APCA, criador do Prêmio Arcanjo de Cultura e coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro. Passou por Globo, Abril, Folha, Record, Band e UOL. Clique para ver mais textos do Miguel e conheça também o Blog do Arcanjo
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