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CONSERVADORISMO

De socialista e maconheira a antiaborto: O que aconteceu com Cassia Kis?

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Cassia Kis com expressão séria em cena como Cidália de Travessia

Cassia Kis em cena como Cidália de Travessia; atriz foi de petista a bolsonarista conservadora

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 27/10/2022 - 21h00

Nas últimas semanas, Cassia Kis tem tido repercussão na mídia por falas de cunho conservador e, por vezes, errôneo e preconceituoso. Na quarta (26), durante uma live, ela deu declarações homofóbicas e militou contra o uso de anticoncepcionais. Mas nem sempre foi assim. A atriz já admitiu ter tido, décadas atrás, comportamentos bem distintos do que prega atualmente: fez abortos, consumiu drogas, votou no PT e até já participou de grupo socialista. Algumas situações emocionais difíceis e uma revolta a partir da crise política e econômica no governo de Dilma Rousseff (2011-2016) foram gatilhos para a intérprete mudar radicalmente suas perspectivas.

Cassia Kis nasceu em 1958 em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, e teve uma infância difícil num lar com muitos abusos. Ela falou, em entrevista à revista TPM em 2009, que sofria com muitas agressões físicas e psicológicas de sua mãe.

A artista começou a trabalhar aos 14 anos, como vendedora, e no mesmo período também passou a escapar de casa para beber e fumar com amigos. 

"Adorava meus amigos, a cultura da rua foi muito importante pra mim. A gente discutia e lia muita coisa. Fumava muita maconha. Era uma gente que falava uma língua que eu não conhecia, calava minha boca e ficava atenta para poder aprender com eles. Me enfiava em todas as coisas que achava que pudesse colaborar para o meu desenvolvimento", disse ela, à TPM.

Antes de sair de casa, com 14 anos, fiz parte de um núcleo de convergências socialistas. Nossas reuniões eram secretas, a gente bebia cachaça, não tinha dinheiro para comprar um vinho. Me lembro de pular a janela de casa pra minha mãe não sentir o cheiro da cachaça que tava na minha boca. Senão ia dar o maior pau.

Por desavenças familiares, Cassia foi expulsa de casa aos 15. Passou a morar com amigos e tornou-se quase como hippie, com intenso consumo de álcool e maconha. "Não acho nada demais em maconha", afirmou. A atriz também declarou ter feito uso de chá de cogumelo. 

Aos 16 anos, Cassia engravidou de um namorado, que tinha 20 anos, não quis assumir o bebê e terminou o relacionamento. Sem qualquer rede de apoio e desesperada, ela tomou a decisão de procurar uma clínica clandestina e pagar por um aborto ilegal. Ela ainda fez outro aborto, em 1985. 

"Era uma clínica no Leblon, com hora marcada, com o médico perguntando 'Tem certeza de que vai fazer?'. Foi uma curetagem com anestesia. Muito rápido, durou cerca de dez minutos", disse a atriz, em entrevista à revista Época em 2007. 

Cassia só foi ter seu primeiro filho em 1990 (hoje é mãe de quatro) e declarou, em depoimento ao Encontro neste ano, que duas novelas que fez mudaram sua visão sobre maternidade: Pantanal (1990) e Barriga de Aluguel (1989).

Com o passar dos anos, Cassia passou a associar problemas que teve, como depressão (que a levou a tentativa de suicídio) e bulimia a traumas que viveu na juventude, como esses abortos. Nos últimos anos, ela começou a militar contra isso. 

"Não foi um aborto espontâneo [o que fez em 1985], e isso mudou muito na minha vida. Hoje sou uma madrinha que defende e protege a vida. Hoje corro atrás de mulheres para não fazerem", falou.

"Quando olho para trás, uma das coisas que teria corrigido seria um aborto que fiz em 1985. Por mais que eu tenha me inclinado diante desse problema, pedido perdão, lamentado, às vezes faço as contas e vejo quantos anos esse filho teria, se eu seria avó. Quando sei de um aborto, me dói. Sou a favor da vida em qualquer situação", disse ela ao jornal Zero Hora, em 2020.

Mudança política

Apesar de ter feito parte de um núcleo socialista na juventude e de ter sido apoiadora de Luiz Inácio Lula da Silva nas outras vezes em que ele se candidatou à Presidência, Cassia Kis não se enveredou pela política e se manteve atuante apenas no campo das artes. 

Em 2014, ela ainda aparentava seguir pelo campo progressista e se dizia preocupada com questões como a preservação do meio ambiente, por exemplo. 

"Sou uma mulher que olha para a frente, tenho de estar preocupada com as questões ambientais, porque não sei se podemos reverter a situação atual. Sei que podemos parar tudo, o que já é alguma coisa", disse ao Notícias da TV.

A partir de 2015, Cassia passou a fazer mais críticas ao governo federal publicamente. Em março de 2015, a atriz se pronunciou num evento chamado Troféu Mulher Observadora. 

"Nós estamos vivendo um pesadelo. O triste é que não é um pesadelo. É uma realidade que começou há dez anos. O país foi destruído. Há cinco anos o Brasil está descendo ladeira. Só desce, não sobe mais. Eu leio dois jornais por dia e me sinto muito corajosa por isso. Meu marido me manda parar e eu digo que não consigo. Parece que não vai parar de aparecer 'm'. Com um 'M' bem grande. Vai dando desespero ver tanto absurdo", disse a atriz, segundo o site Ego. 

"A gente tem uma presidente [Dilma Rousseff] --detesto dizer presidenta-- e a oportunidade de ter uma mulher nesse cargo não foi aproveitada. A gente é obrigado a ouvir dessa presidente que a corrupção é uma velha senhora. Não é, não. Do jeito que está aí, a corrupção é uma novinha de dez anos. A gente precisa ter a coragem de encarar tudo que está acontecendo. Não, ninguém quer ditadura, ninguém quer arma, ninguém quer impeachment, ninguém quer sair com arma na rua. A gente quer a verdade", falou Cássia.

Eu fui petista. Eu fui a jantares com Lula e o vi se apresentar pra meia dúzia de gatos pingados. O PT não era isso. É agora um partido doente, bandido. Nós temos que reagir. Nós não vamos virar uma Venezuela

Desde então, ela tem se engajado cada vez mais em pautas conservadoras e religiosas, também sob o viés político. Católica, já estimulou católicos a lutarem contra "ameaça comunista", falou sobre política (de acordo com seus ideais) a colegas nos bastidores de Travessia e afirmou que Bolsonaro pode se transformar pela via da religião. 

"Bolsonaro é cristão. Mas católico de verdade ele ainda não é, mas pode ser. Ele está sendo apoiado [pelos católicos], e isso é maravilhoso, porque é evidente que o presidente Bolsonaro vem se transformando como homem. Ele reconhece que falou muita bobagem, tem reconhecido isso, sobretudo porque a vida religiosa e espiritual vêm se transformando com muita força", declarou, segundo o jornal Extra. 

Cássia Kis ainda afirmou que aceitaria um cargo público no governo Bolsonaro, caso ele seja reeleito. "Sem dúvida. Sem dúvida. Ninguém nunca me perguntou sobre isso. Mas eu tenho um perfil de quem gosta de lutar pelas coisas boas para o seu povo. Eu acho que isso que você está me perguntando e que eu agora estou respondendo, eu faço isso em nome do povo brasileiro. Eu amo meu país, eu já podia ter saído daqui em algum momento, e nunca fiz e não pretendo fazer", disse à Veja.


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