A VIDA PELA FRENTE
DIVULGAÇÃO/GLOBOPLAY
Leandra Leal como Tereza, sua personagem em A Vida Pela Frente; ela é uma das criadoras da série
Leandra Leal mergulhou fundo em suas memórias da adolescência para criar, desenvolver e dirigir A Vida Pela Frente, série que estreia na próxima quinta (22) no Globoplay. Ao lado de três amigas de infância --Rita Toledo, Carol Benjamin e Maria Barreto, respectivamente roteiristas e produtora da trama--, ela retomou as farras, as descobertas e as loucuras do período. Mas, principalmente, se deixou atravessar pela vivência do luto. A atriz perdeu o pai, o advogado Júlio Brás, quando tinha 12 anos.
"É muito difícil, doloroso mesmo, você entender esse lugar... Na adolescência, você tem uma crença de você testar seus limites. Você pensa que é eterno. A morte não passa pela sua cabeça. E quando isso chega... É uma entrada também na vida adulta. Você entende um pouco das regras da vida. E eu acho que para nós [criadoras], foi algo muito marcante. Tínhamos vontade de falar sobre isso, sobre essa experiência, que nós três vivemos em diferentes esferas", revelou ela durante o evento de lançamento da série para a imprensa.
É justamente essa transição da adolescência para a vida adulta que marca a série. Na trama, um sexteto de amigos --formado por Beta (Flora Camolese), Cadé (Jaffar Bambirra), Marina (Muse Maya), Vicente (Henrique Barreira), Liz (Nina Tomsic) e JP (Lourenço Dantas)-- lida com questões próprias dos 17 anos, como o vestibular, a sexualidade, as drogas e, depois de um acontecimento traumático, a morte.
A adolescência é uma fase muito potente, de intensidade, de descobertas. [A série] Tem um acontecimento fundante, mas também mira muito para o que essas pessoas vão ser, como elas vão lidar com esse acontecimento trágico. Ela fala sobre essa fase que é disruptiva, incrível e constituinte de cada ser humano, e com muita sensibilidade e crueza. É uma série sobre o fim da adolescência, mas que não fala só com adolescentes.
Apesar de ter se baseado nas próprias memórias, Leandra afirma que não é possível relacionar uma personagem para cada criadora. "A Vida Pela Frente tem inspiração em nossa adolescência e diversas histórias, algumas que vivemos, outras que acompanhamos ou soubemos existir. Nem tudo é biográfico, até por termos, hoje, uma visão crítica para os fatos apresentados. E é essa mistura de realidade com permissão poética que usamos para criar entretenimento que faz refletir e que também é atraente por apresentar muitos dos conflitos e 'primeiras vezes' da adolescência", explicou a atriz.
A busca por reflexão é o grande trunfo da série. Leandra, Rita e Carol querem criar um produto que sirva como um refúgio para os adolescentes --não só para os que assistem, mais também para os que atuam. Leandra tem noção da importância disso. Ela começou a se levar a sério como atriz exatamente uma semana depois da morte do pai.
"A morte dele foi muito inesperada para mim. E terrível, de um certo modo. Naquele momento, pensei: 'Tenho que fazer alguma coisa'. No dia da missa de sétimo dia, eu já estava atuando na série Confissões de Adolescente (1994-1996). Foi imediato", contou a atriz durante entrevista à Quem em 2008.
No evento para a imprensa, ela também se lembrou dessa experiência: "Eu tive muitas vivências emocionais densas na infância, na adolescência, e eu acho que o meu trabalho sempre foi um espaço não de peso, mas de cura. Ter trabalhado na adolescência foi muito importante para eu ter segurado a minha onda e ser acolhida".
jorge bispo/globoplay
Leandra (no meio) com o elenco da série
De fato: depois da perda, ela passou anos com medo de ficar sozinha no mundo. Temia que a mãe também morresse, como tantas outras pessoas que viu pelo caminho ("com 12 anos, eu já tinha ido a dez enterros"). Mas viveu uma trajetória parecida à de seus protagonistas ao aprender a lidar com suas dores e guardar as memórias de quem perdeu.
"Meu pai era incrível, tudo de bom, uma figura supercompanheira. Aposentou-se quando eu tinha 10 anos para ficar mais comigo. Ele e minha mãe moravam cada um em sua casa, mas ele sempre foi muito presente, me levava ao balé – todas as mães esperando suas filhas, e ele era o único pai. Isso aconteceu principalmente em 1990, quando minha mãe viajava muito para gravar Pantanal", destacou, também à Quem.
A mãe da atriz também compõe o elenco da produção. Leandra confessou que não foi fácil convencer Angela Leal a voltar a atuar, mas a veterana acabou assumindo a tarefa: "Ela tava num 'ah, não, não quero mais fazer nada!'. Eu tive de falar: 'Ah, mãe, tudo bem, você não quer... Mas, tipo, pô, a gente pensa em você'. Aí ela: 'Não tem como não fazer, né? É sua série, é a série das meninas, eu tenho que fazer", contou a criadora, aos risos. "Eu realmente realizei um sonho na minha vida. Eu contracenei com a minha mãe e dirigi a minha mãe!"
É a primeira vez que a atriz dirige uma ficção; antes, ela só tinha assumido o posto no documentário Divinas Divas (2017) e sido produtora em alguns episódios de Aruanas. Ela ainda tem um papel na nova trama: vive Tereza, mãe solo e superprotetora de Liz.
Com a junção de cargos, ela admitiu que se sente uma atriz muito melhor. "Você entender o processo só faz com que você contribua melhor para ele. Entender sua responsabilidade dentro do processo, entender a sua demanda... Isso me fez ser mais entregue com o que eu faço. E é muito bonito ver um processo do início ao fim", contou.
Tem uma frase que eu fico falando o tempo inteiro: como atriz, eu sempre vivi realizando o sonho das outras pessoas, fazendo o sonho das outras pessoas serem os meus sonhos. Como atriz você faz muito isso. Você pega uma personagem e a transforma no seu sonho naquele momento, no seu objetivo. E é muito bonito ver uma equipe inteira, todo o mundo, realizando um sonho nosso.
Os cinco primeiros episódios da série chegam no Globoplay nesta quinta (22); mais cinco episódios entram na plataforma em 6 de julho. Dirigida por Leandra Leal e Bruno Safadi, A Vida Pela Frente conta com supervisão de roteiro de Lucas Paraizo (de Sob Pressão e Os Outros).
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