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REPRESENTATIVIDADE

Mulher negra na TV empoderada é o caminho: Elas representam a atual geração

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Montagem das atrizes Mariana Nunes e Micheli Machado

Mariana Nunes e Micheli Machado se destacam na novela das sete, Quanto Mais Vida, Melhor!

Em Quanto Mais Vida, Melhor!, Micheli Machado dá vida a Jandira, uma mulher batalhadora que esconde um grande segredo, mas que segue em frente apesar das adversidades. A personagem tem grande espaço na trama e faz a alegria da atriz, que vê nela uma quebra dos estereótipos muitas vezes associados a mulheres negras na TV, uma luta cada vez mais reforçada por outras intérpretes.

"Ela realmente é uma representação da mulher brasileira, então fiquei feliz por isso, porque a mulher preta geralmente não tem muita... O personagem é sempre menor, sabe. Essa novela tem muita representatividade, é maravilhosa, tem trans, gays, a comunidade LGBTQI+ toda representada, muitos pretos na novela. Não estou ali como a mulher preta e gostosa da escola de samba", define a atriz em entrevista ao Notícias da TV.

Não é aquele estereótipo da mulher preta que é objeto sexual, reproduzida durante anos, mas sim uma personagem forte, a típica brasileira que nas horas difíceis arregaça a manga e diz o que vai fazer para resolver a situação, em vez de deitar na cama e chorar. Acho que é disso que a gente precisa cada vez mais, pretos na TV com bons personagens.

Outra mulher empoderada da trama é Joana, uma médica vivida por Mariana Nunes. Na história, depois de sofrer um bocado, a profissional de saúde chutou a fossa para longe e decidiu realizar uma fertilização e se tornar mãe independente. A intérprete admite que, no início, se sentia um pouco incomodada com o comportamento da personagem, justamente por sentir que reforçava algumas ideias ultrapassadas.

"Confesso que no começo, quando a Joana ocupa esse lugar de passividade, eu ficava um pouco desconfortável, no sentido de reforçar um lugar que a gente não precisa mais ver. E não é que não pode ter esse tipo de personagem. Pode, mas temos que ter outros também. Eu ficava muito irritada com ela vivendo a vida da Rose [Bárbara Colen], sem espaço para a própria, sendo duas mulheres negras e uma ouvindo zero a outra", destaca Mariana.

Entretanto, a artista não esconde sua animação com a virada da personagem, que segundo ela finalmente tomou as rédeas de sua vida. A atriz frisa a importância da representatividade se fazer cada vez mais presente e cita como exemplo a própria família, na qual pessoas que atuam como médicas já sofreram discriminação. 

Não tem um personagem preto no núcleo da Joana, a preta da clínica sou eu! Imagina ser a única preta de uma clínica, como que a Joana vai sorrir? Por que ela não seria séria? Quantas pessoas já não passaram por aquela clínica e perguntaram para ela: 'quem é a médica?'. Todas as referências que tenho da minha família que exercem uma profissão no meio da saúde já passaram por isso, então não tem como isso não estar na minha construção. 

fábio rocha/tv globo

Larissa Nunes como Letícia em Além da Ilusão

Larissa Nunes é Letícia em Além da Ilusão

Questão histórica

Em Além da Ilusão, Larissa Nunes é Letícia, uma jovem professora que faz da educação sua força de viver. A artista revela que, ao realizar a pesquisa para compor a personagem, teve enormes dificuldades em encontrar imagens de mulheres negras dos anos 1930 e 1940, período no qual a novela se passa, um efeito do racismo enraizado na sociedade brasileira.

"É reflexo do racismo estrutural. As pessoas não tinham interesse de registrar essas mulheres e o modo de vida delas. Eu venho de uma série de trabalhos de época e a cada época que pesquiso sinto mais dificuldade ainda. Não é tão fácil encontrar coisas em que possa me espelhar. Passei a refletir muito sobre isso, acho que é um processo que falta ao Brasil, de ter registros sobre o que fazíamos depois da escravidão", relata ela.

Nessa busca por espaço, as atrizes também tentam fortalecer suas vozes para falar sobre temas de grande relevância. Mariana Nunes, por exemplo, buscou olhar nas entrelinhas de Quanto Mais Vida, Melhor! para construir sua personagem, o que a permitiu abordar questões que talvez não estivessem explícitas no texto.

Em relação ao romance entre Marcelo (Bruno Cabrerizo) e Joana, por exemplo, ela conta que, em determinado momento, eles terão um rompimento e a personagem dirá: "A gente é muito diferente". 

"Não sei o que o autor pensou quando escreveu, mas sei o que pensei quando falei. Acho que as pessoas vão saber também, principalmente as pessoas pretas. Podemos falar da coisa sem falar [explicitamente], acho que essa novela faz isso. Creio que falamos muito de colorismo também. A Rose é uma mulher negra, mas light skin [pele clara]. Já a Joana é uma mulher negra mais escura e que não é casada. Acho que aí estamos falando da solidão da mulher negra", ressalta a atriz.

"Precisamos de mais pretos como protagonistas, mas sair do estereótipo da empregada, motorista e da mulher gostosa da escola de samba. Somos pessoas e podemos interpretar qualquer personagem. A Mariana fazendo a Joana, médica, também é lindo, porque são tantos médicos pretos maravilhosos. Temos que sair dessa mesmice e desmistificar esse lance do corpo preto", defende Micheli Machado.


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