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EGOISMO E MANIPULAÇÃO

Mãe narcisista: Entenda a relação abusiva de Eva com as filhas em A Vida da Gente

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Eva (Ana Beatriz Nogueira) em cena de A Vida da Gente

Eva (Ana Beatriz Nogueira) manipula as filhas em A Vida da Gente e tem características narcisistas

ODARA GALLO

odara@noticiasdatv.com

Publicado em 6/3/2021 - 6h45

Manipulação, abuso e negligência são características dignas de uma grande vilã de novela e podem ser vistas claramente na relação de Eva (Ana Beatriz Nogueira) com as filhas em A Vida da Gente (2011). A personagem da ficção criada por Lícia Manzo para a trama que está sendo reprisada às 18h, no entanto, une traços de uma disfunção real e que é capaz de separar famílias lideradas por mães narcisistas.

Na história, Ana (Fernanda Vasconcellos) é tenista, bem-sucedida e a filha adorada de Eva, enquanto Manuela (Marjorie Estiano) é praticamente ignorada pela própria genitora. Em uma das cenas mostradas logo na primeira semana, a personagem de Ana Beatriz Nogueira aparece trocando a única foto da primogênita na sala da casa por mais uma --entre tantas-- da caçula, deixando sua preferência bem evidente.

A psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental Michele Engelke afirma que é comum no comportamento da mãe narcisista escolher um filho para voltar todas as suas atenções em detrimento a outro. "Existe o que se chama de filho bode expiatório e filho dourado. Na dinâmica relacional com a mãe narcisista, o filho bode expiatório é aquele considerado o pior de todos, e o filho dourado, então, é aquele precioso", explica.

Tanto um quanto outro sofrem com o egoísmo exagerado de quem deveria oferecer segurança, afeto e cuidado. O preferido geralmente é acometido por culpa, insegurança, ansiedade e dependência emocional. O rejeitado vive a experiência devastadora de se sentir sozinho dentro da própria família, além problemas de autoestima e dificuldade em manter relacionamentos.

O que é uma mãe narcisista?

O transtorno de personalidade narcisista está descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) e tem como características principais o sentimento de superioridade, a necessidade excessiva de admiração e a falta de empatia. Isso atinge em cheio os filhos, com os quais a mãe narcisista desenvolve uma relação disfuncional.

"O amor oferecido pela mãe narcisista é inteiramente condicional. O filho dourado é aquele que permite que ela se sinta com mais autoestima, que reflita os valores narcisistas, que corresponda às expectativas dela, que a promova de alguma forma. No caso da novela, o sucesso da filha é o sucesso dela. Não há diferença entre a mãe e a filha, ambas estão sempre unidas na mente da mãe narcisista", avalia Michele.

Mesmo tendo todas as atenções da genitora, o herdeiro preferido não se sente feliz e realizado com esse "amor", mas culpado pela situação do irmão e pressionado a atender as expectativas.

Apesar do tratamento totalmente oposto dado por Eva a Manuela e Ana, na vida real ambas teriam sequelas semelhantes por estarem em uma relação tóxica. Entre os prejuízos estão a falta de autonomia e a dificuldade em se relacionar, já que foram ensinadas que o foco da felicidade está na figura da mãe, ou seja, fora de si mesmas.

"No filho dourado, o enfoque é no perfeccionismo, nessa expectativa de atingir excelência pra ter autoestima, pra conseguir ter bem-estar, pra garantir um relacionamento com uma mãe egocêntrica. Ele se torna o que a mãe quer, não tem uma identidade própria, tudo para manter o relacionamento disfuncional. O enfoque está em agradar o outro", relata a terapeuta. "O filho bode expiatório pode desenvolver problema de baixa autoestima. É uma pessoa normalmente sozinha, que não se sente compreendida, vista, ouvida", completa.

Distância segura

A convivência com a mãe narcisista, na maioria das vezes, é sinônimo de sofrimento constante. A solução é manter uma distância saudável e investir em terapia. "A maioria das famílias é disfuncional. Quanto maior o nível de disfuncionalidade, maior a probabilidade de a família ser tóxica. Se há grande manipulação por parte dos genitores, abuso e negligência --física ou emocional-- maior o nível de toxicidade", ensina Michele.

Existem filhos de pais narcisistas que conseguem manter uma relação mínima, mas é preciso, ainda assim, ter alguns cuidados para não cair novamente no ciclo de abusos. "Promover encontros sempre em ambientes neutros, nem na casa da mãe e do pai e nem na própria casa. Controlar o que se compartilha com os pais. Se a pessoa consegue levar isso dessa forma, ótimo", orienta a psicóloga.

Se os pais realmente não respeitam os limites, o jeito é cortar de vez qualquer contato. Mas essa decisão deve ser muito bem pensada e orientada por um terapeuta. "É uma decisão de peso, que exige planejamento, dedicação, mas pode ser muito recompensadora a longo prazo. Claro que cortar o contato com os familiares é uma experiência dolorosa, mas é algo que é possível ser processado, e as recompensas são muito válidas. É possível ser feliz e ter uma experiência realizadora sem ter contato com a mãe ou o pai abusivo."


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