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MATERNIDADE REAL

Falta de apoio e romantização: Por que as mulheres sofrem tanto para amamentar?

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Fernanda Machado amamenta o filho Leo em foto postada no Instagram

Fernanda Machado amamenta o filho Leo em foto postada no Instagram: atriz teve dificuldade no aleitamento

ODARA GALLO

odara@noticiasdatv.com

Publicado em 14/11/2020 - 6h55

"Parece o fim do mundo! Parece que nunca vai parar de doer." Foi assim que a atriz Sthefany Brito definiu seu sofrimento para amamentar Enrico, que tem 14 dias de vida. "Ontem eu amamentei chorando", postou a atriz Fernanda Machado, na legenda da foto com o pequeno Leo, de quatro meses, nos braços. Os desabafos no Instagram pouco têm a ver com a imagem da mãe com um sorriso plácido olhando para o rostinho do bebê agarrado ao peito. Mas afinal, o que há de errado?

Nutrir o filho com o leite materno não é natural, instintivo para a mulher? A resposta, por mais estranha que pareça, é não. "Seres humanos são mamíferos, porém amamentar é um aprendizado, e esse processo está sujeito a influências da sociedade", explica Fabiana Cainé, consultora em amamentação e membro da Ibfan Brasil (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar).

"Hoje temos a recomendação de aleitamento materno exclusivo até os seis meses e complementado com alimentos saudáveis até os dois anos de idade ou mais. Mas ainda assim não é instintivo e é preciso o apoio da família e da sociedade para que aconteça", complementa.

Mesmo com apoio e informação, o aleitamento materno pode se tornar insuportável para algumas mulheres por causa da dor que provoca. "O sofrimento de se amamentar tem relação com a forma como o bebê mama. Geralmente, a dor é sentida de acordo com o quanto mais próximo do mamilo o bebê pega, podendo causar lesões, que fazem com que este processo doloroso leve dias", diz Fabiana.

O que ninguém te conta é que o início desse processo pode virar uma corrida contra o relógio para o organismo da mulher. Uma vez machucado, o mamilo tem apenas algumas poucas horas para cicatrizar antes de o bebê precisar mamar novamente, e é aí que a coisa desanda. Qualquer "vacilo" da lactante é um risco de comprometer toda a amamentação que, além dos prejuízos físicos para a criança, resulta em culpa, frustração e trauma para mães.

Nos três primeiros dias, o bebê geralmente é calminho, dorme bastante e mama pouco, porque ele ainda tem reservas e se sente alimentado. O período coincide com o momento da alta do hospital após o parto. Quando volta para casa, com o novo membro da família totalmente dependente nos braços, é que a vida da mulher se transforma.

"Conforme a mãe passa a produzir o leite de transição (entre o colostro e o leite maduro), e as reservas do bebê já baixaram, ele começa a mamar com bastante frequência. No entanto, ele não sabe mamar ainda com eficiência", detalha a consultora.

"Entretanto, a mãe, em muitos casos, fez uma cesárea, tem dores, fica mal posicionada. Nessa história toda, há uma mãe se recuperando, tendo que aprender a dar de mamar; e um bebê que mama como um ato reflexo, mama próximo ao mamilo e acaba machucando", continua Fabiana.

O ferimento pode evoluir para a temida mastite, a inflamação do tecido mamário, muitas vezes acompanhada de infecções. O diagnóstico atrapalha muito e, em alguns casos, até impossibilita a amamentação.

A receita do sucesso

"Amamentar não é uma obrigação, é uma escolha. Mas é fato que precisamos oferecer condições para que a mulher possa decidir", pondera a consultora. As chances de sucesso na empreitada aumentam quando há apoio e informação antes e durante o processo. "O mais importante para a preparação é ter informação de qualidade ainda durante a gravidez", indica a especialista.

Buscar profissionais com experiência para dar orientação e acompanhar o pós-parto é o cenário perfeito, mas acessível a uma minoria. Soma-se à falta desse apoio qualificado a romantização da maternidade. O resultado é uma situação fora de controle.

"Quando está grávida, a mulher não fica pensando que as coisas vão dar errado ou serão difíceis. Faz parte do processo acreditar que tudo vai acontecer conforme o desejado. A romantização pode atrapalhar quando a mãe acredita que não precisará de ajuda, quando não recebe as orientações adequadas durante a gravidez e quando o mercado tenta vender soluções mágicas para as famílias", opina Fabiana.

As chances de sucesso aumentam quando existe a compreensão de que amamentar não é um assunto só entre a mãe e o bebê. A receita precisa de mais do que esses dois ingredientes.

"Com apoio da família, de profissionais de saúde capacitados em aleitamento materno, com políticas públicas que protejam e incentivem, com uma sociedade que verdadeiramente apoia, podemos ter cada vez mais histórias de amamentação para contar", afirma.


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