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LUTA PELA IGUALDADE

Bruno Gagliasso dá aula de antirracismo sem desrespeitar o lugar de fala

REPRODUÇÃO/GNT

Bruno Gagliasso em um dos cômodos de sua casa, com o quadro de uma mulher negra ao fundo no cenário

Bruno Gagliasso tem utilizado as redes sociais para praticar o antirracismo dentro do lugar de fala

VINÍCIUS ANDRADE

vinicius@noticiasdatv.com

Publicado em 24/9/2020 - 7h05

Com mais de 18 milhões de fãs no Instagram e 5 milhões de seguidores no Twitter, Bruno Gagliasso tem usado suas redes sociais no combate ao racismo. Além de ceder as suas contas pessoais para amplificar o alcance de pessoas negras, o ator de 38 anos tem tentado "furar bolhas" ao fazer publicações se comunicando diretamente com os "amigos brancos".

Segundo Aline Nascimento, coordenadora da área de empregabilidade do ID_BR (Instituto Identidades do Brasil), esse é o caminho que uma celebridade, figura pública não negra e até mesmo executivos de grandes empresas devem adotar para praticar o antirracismo sem desrespeitar o lugar de fala.

Ou seja, não dá para uma pessoa branca falar que "já sentiu o racismo na pele", mas ela pode reconhecer que existe uma desigualdade racial e atuar para mudar essa situação dentro da sociedade, da empresa em que trabalha/chefia ou da sua bolha de convivência.

"A gente precisa pensar no conceito de amplificar vozes, fazendo com que vozes que não atingem determinadas bolhas consigam furar essas bolhas. Isso é uma responsabilidade. Artistas ou executivos podem atuar muito dentro do contexto de como essas vozes ou essas pautas antirracistas podem chegar a outras pessoas que não acessariam se não fossem por eles", explica Aline.

Além de Bruno Gagliasso, famosos como Paulo Gustavo, Fabio Assunção, Tatá Werneck, Paola Carosella, Ingrid Guimarães e Monica Iozzi também cederam seus perfis nas redes sociais para ativistas negros debaterem questões ligadas ao racismo.

"Ser antirracista é possibilitar, é ter a possibilidade de construir um mundo de oportunidades. Ser antirracista é construir ações a partir do momento que você entende quais são as necessidades do outro", enfatiza a coordenadora do ID_BR.

No último fim de semana, após o Magazine Luiza anunciar que o programa de trainees de 2021 da empresa aceitará apenas candidatos negros, algumas pessoas ficaram descontentes com a medida e disseram que isso seria um "racismo reverso" por excluir parte da população do processo seletivo.

Foi nesse contexto que Bruno Gagliasso usou suas redes sociais para ensinar uma espécie de mantra aos "amigos brancos", dizendo que "racismo reverso não existe. Em nenhuma hipótese, em nenhuma condição, em nenhuma situação".

O marido de Giovanna Ewbank é pai de duas crianças negras, Titi e Bless, e mostrou solidariedade a uma fã negra que se disse cansada de explicar por que o racismo reverso não existe. "Vamos colocar os brancos antirracistas para trabalharem. Esse esclarecimento não é obrigação de vocês", completou o ator.

O influenciador Felipe Neto também falou aos "parças brancos": "Tu não sofre racismo, tu nunca sofreu racismo, tu nem sabe o que é sofrer racismo, tu faz parte do grupo privilegiado. Deixa as empresas ajudarem na reparação histórica e 'calaboquinha', vai".

Veja os posts abaixo:

Racismo reverso?

A coordenadora da área de empregabilidade do ID_BR, organização que atua com a aceleração da promoção da igualdade racial no Brasil, argumenta que o racismo reverso não existe porque o racismo "é uma estrutura sistêmica de hierarquização de grupos que perpassa pontos de poder", e os negros são a minoria nos cargos de alto escalão.

A pesquisa mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2018, aponta que os brancos são maioria entre os ocupantes de cargos gerenciais no Brasil: 68,6% das pessoas nesse nível. Pretos e pardos são 29,9%, apesar de esse grupo representar mais de 55% da população do país.

Aline Nascimento é coordenadora de empregabilidade do ID_BR (Foto: Divulgação/ID_BR)

Vem daí a necessidade de programas inclusivos. "É importante a gente pensar que a 'discriminação positiva' é prevista em lei, e medidas de reparação tem um tempo determinado. O tempo determinado é para que algum dia a gente não precise mais falar de uma política de cotas porque a gente minimamente atingiu um equilíbrio na nossa sociedade", defende Aline Nascimento.

Todos têm lugar de fala quando o assunto é antirracismo, mas para isso é preciso reconhecer que ainda há desigualdades, que pessoas negras devem ter cada vez mais evidência na televisão, que tenham a voz amplificada nas redes sociais e ocupem espaços de decisão nas grandes empresas.

"É importante ter uma sociedade que escute mais as pessoas negras, mais pessoas indígenas. É importante que a gente escute mais o outro. A luta antirracista é coletiva e precisa de todos. Não cabe apenas às pessoas negras lutarem por uma outra realidade. É preciso que toda a sociedade se corresponsabilize", enfatiza a coordenadora do ID_BR.


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